"O mudo som da confusão mórbida que sufoca e provoca ao passar o Amor,
aquele sentimento gasto, de quem gastou o que não tinha e mantinha
uma ilusão qualquer...
Crescer dói, mas cura, porque arde."
Inês Dunas: Antigo Testamento
O tempo morde a espera com laivos de fome
e segreda aos meus ouvidos uma impetuosidade feroz, própria de um animal
selvagem. O som do silêncio em certas circunstâncias é ensurdecedor e castiga
numa cacofonia ensurdecedora afugentando qualquer faúlha do pensamento
analítico.
Do entusiasmo à decepção, da loucura à
tristeza, da sensação de ser e me sentir especial, adulta e mulher ao penoso
retorno da triste realidade. Sofro torturas mil enquanto o meu corpo jaz ao
abandono inerte por apenas mais uma ordem, mais um chamamento. Como um animal
abandonado à espera do chamamento do seu dono e de voltar a ser feliz.
Acreditara momentos antes ser alvo
especial de objecto de desejo e de entrega, provara mesmo o suave toque da
malícia em pontas de dedos experientes de quem, acreditava eu, me achara por
alguma razão merecedora da sua atenção. Mas agora, tinha sido largada no meio
de uma sala fria, sozinha e fragilizada. Talvez por isso tivesse mandado um
S.M.S. a A. como uma forma de pedir ajuda ou então que acabasse com todo
este suplício. Já não queria mais estar ali, ser uma marioneta nas mãos de quem
puramente me desdenhava.
Deixei cair o Nokia no sofá e
estranhamente permaneci no mesmo sítio em que ele me deixara, só me apercebendo
disso aquando do seu regresso.
P. surgiu em passos tranquilos, sempre com o mesmo sorriso
que agora me parecia plastificado e num timbre de voz desprovido de qualquer
emoção, informou:
-Tudo pronto! Vamos ao banho?
-Vamos? – Indaguei do alto da minha
posição estática.
-Forma de falar…- O olhar dele deteve-se
no Nokia caído no sofá.
-Mandei uma mensagem a A.
– Apressei-me a esclarecer.
Sem perder a postura ele avançou
calmamente até ao sofá e subitamente sem qualquer motivo aparente eu começara a
tremer. Passou por mim, desviando-se um pouco, baixou a mão apanhando o
telemóvel sem proferir qualquer palavra, desbloqueou o aparelho, consultou a
mensagem e com uma feição de rosto dura, indagou friamente:
-Para quê?
-Não sei…Passou-me pela cabeça. –
Justifiquei pouco convencida do que dizia.
P. sorriu como os adultos se riem de qualquer parvoíce dita
por uma criança e isso enervou-me bastante. No fundo o que aquele sorriso
queria demonstrar era a minha infantilidade.
Naquele momento, ali em pé na sala fria
tudo o que ambicionava era poder espetar um estalo naquela face repleta de uma
autoridade árida e inflexível:
-Eu pensava que tu eras uma menina bem
comportada! – Afirmou ele num timbre autoritário.
-Bem, talvez seja….
-Shiu! Não me interessa o que pensas.- Os
dedos dele pousaram sob a minha boca, reafirmando a necessidade do meu
silêncio.
Podia jurar que por momentos os olhos
castanhos de P. brilharam com uma intensidade repentina e sem me deixar
contrapor, ordenou:
-Despe-te!
“Vai á merda” pensei eu a queimar de
raiva, a sentir o pulsar galopante do sangue a ferver nas minhas veias, com o
coração a disparar batimentos próprios de um concerto Hard-Rock e os meus dedos
instintivamente a fecharem-se tornando os meus punhos o aspecto de uma rocha.
Iria erguer o braço, arremessar com força
o meu punho direito fechado, de forma a embater os nós dos dedos no seu queixo
de barba rasa. Contudo, sem perceber como, abri as mãos e principiei a
despir-me.
Enquanto as restantes peças de roupa caíam
inertes aos meus pés, ele ia-me olhando com um ar estranho. Não de gozo, ou de prazer,
mas de autoridade. O seu olhar era frio e contemplativo, um olhar que me
trespassava como uma faca, abrindo feridas incuráveis no meu ego e na minha
alma. Merda, porque obedecia eu a tal sujeito? Nem aos meus pais prestava
semelhante vassalagem. Pois desde pequena que sempre fora habituada a
contrapor, a contradizer e a vencer a teimosia deles pela exaustão da repetição
de ordens sem sentido e aqui estava eu indefesa, sem capacidade de reacção,
perante um pai, um adulto que me revoltava os sentidos, que me transmitia medo
e calmaria tudo ao mesmo tempo.
Mantive contudo, por uma questão puramente
de recato as cuecas e o sutiã e encarei-o com ar de desafio:
-Não disse para te despires? – Disparou
ele assertivamente.
Sem o conseguir voltar a encarar, obedeci
timidamente, livrando-me com especial demora da minha roupa interior. Segundos
depois era um espantalho nu na sua frente, sem reacção, sem sorriso sem
emoções. O frio desaparecera, a minha raiva subira em flecha e eu já não estava
ali! Tinha voado mentalmente para outro sítio. Deixara na sua presença o meu
corpo, como um invólucro sem vida, como uma estátua imperfeita. Ou então era um
robot desprovido de raciocínio ou emoções, presente ano capricho de um botão
ON/OFF.
Senti a sua mão fria no meu seio esquerdo,
apertando-o, acariciando-o. Senti a boca dele, os seus lábios no meu mamilo. Beijava-o,
mordia-o e tilintava-o com a língua. Arrepiei-me, e afastei-me instintivamente,
olhando-o de lado:
-Não quero que te mexas! – Bradou ele
friamente, voltando a virar o meu rosto para o outro lado.
Obedeci a tremer não de frio, ou de raiva
mas de um sentimento estranho que não conhecia. O meu corpo era agora uma
montanha russa de emoções e palpitações. Queria fugir dali, mas queria ficar
ali, queria chorar, mas queria sorrir, queria gritar, mas permanecia calada. No
fundo não sabia o que queria, desconhecendo por completo que há alturas em que
realmente mais vale seguir a descoordenação do momento. Sermos ramo largado na
correnteza de um rio. Sermos pólen esvoaçando ao vento em dias de ventania
exagerada.
A mão dele estacionava sob o meu sexo, o
cheiro da sua água-de-colónia voltou às minhas narinas e a proximidade da boca
dele no meu ouvido teve o efeito de uma tremenda saraivada em dia de verão:
-Afasta as pernas! – Ordenou
monocordicamente.
-Não. – Arrisquei eu armada em mulher.
-Não era um pedido. Era uma ordem.
O seu tom de voz não se alterara, mantinha
o ar calmo, frio e ponderado mesmo num momento tão surreal quanto aquele.
Imaginara de repente A. a chegar e a apanhar-me ali, nua
submetida aos caprichos e vontades do pai dela. E foi então que num clique, Inebriada
pela ideia, deixei a imaginação voar, para decididamente afastar as pernas:
-Sabes S., as nossas acções implicam
sempre consequências. – Principiou ele como quem explica a uma criança as
origens da vida- Boas ou más, sejam como as acções forem assim acarretam
castigos ou recompensas. Não concordas?
Silenciada pelos meus receios de dizer
algo que me arrependesse, mordi o lábio inferior e não concordei ou
contradisse. Apenas fechei os olhos, sem um pensamento ou uma ideia.
-Agora por tua causa A. vai faltar às aulas e
obrigando-me a ter de castigar também. Achas bem?
A mão dele desceu para a minha coxa
direita, subindo e descendo, apertando-a firmemente, deslizando pelo joelho,
contornando-o, sentindo-o.
A minha respiração ficara incerta, os arrepios
voltaram e o desejo de o sentir crescia.
Inesperadamente fechei os olhos e deixei a
palma da minha mão alisar o volume das suas calças, não resistindo a sorrir ao
ver o seu estado de excitação.
Afinal ele não era indiferente a mim ou me
menosprezava. Afinal eu não era só uma criança, mas uma mulher que pode
seduzir.
Contente comigo mesma, encarei-o enquanto
descia o fecho das suas calças e sem pedir autorização introduzi a mão, querendo
sentir aquilo que se erguia para mim.
Por vezes, são os pequenos gestos ou a
falta deles que desencadeiam um avolumar de novas experiências e
definitivamente eu iniciara as hostilidades.
Interessante e bem conseguido.DS
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