Somos filhos bastardos do desejo...
Marginais presos em beijos roubados...
Candeeiros sombrios acesos na noite.
Castiga-me devagar...
Um açoite por cada sonho idiota...
Inês Dunas: “O Peso da gravidade”
Eu era o sol expectante
e quente sob o qual rodavam todos os ruídos e respectivos silêncios daquela
sala desprovida de rigor mas inundada de desejo, numa constelação de desejos e
sussurros erigidos por gestos de carícia e de entrega.
Na verdade não pensava,
não raciocinava e não sofria a censura das vozes dos anjos na minha consciência,
aqueles dogmas que no fundo nos proibiam o usufruto dos secretos prazeres da
descoberta do proibido e do profano.
Naquele preciso momento
e alheia ao passar dos minutos do tempo real, eu era a encarnação da Deusa Grega
Circe, encantando e enfeitiçando P. , submisso ao poder da minha insanidade e aos
meus caprichos infantis mas tórridos.
Com efeito, momentos
antes colocara a descoberto o segredo escondido no cofre das calças dele,
soltando-o para um frente-a-frente, num interlúdio musical composto do som
ancestral de beijos e chupões avidamente por mim distribuídos ao longo do
membro e tilintando com a ponta da língua, distraidamente na glande. Desde que
me apercebera do poder que eu tinha em erguer o seu mastro quase sem ele me
tocar, que fiquei desejosa de o ver, de o sentir e porque não de o beijar.
Apercebo-me agora, à
medida que escrevo isto, com dois anos de intervalo que apesar de na altura a
minha reacção e loucura ter parecido instintiva, já a tinha assumido na minha
cabeça desde que P. me mandara despir.
Por incrível que pareça
ali estava uma miúda de quase quinze anos, a praticar sexo oral com alguém
bastante mais velho e não obstante de ter sido a primeira vez que o fazia,
agindo como se realmente o tivesse feito mais vezes.
O estranho é que até
essa altura nunca tinha pensado em sexo, não me preocupava a ver filmes para
adultos e masturbação, para mim até esse momento era apenas matéria que jamais
me interessara.
E no entanto parecia
que sempre o fizera, esmerando-me cada vez mais, como que querendo demonstrar a
ele que momentos antes me acusou de não estar pronta, que sempre estivera
preparada para o mais sórdido momento em que tais faculdades precisassem de ser
demonstradas.
O membro cada vez mais
encorpado, bem seguro na minha mão direita, ia reagindo às caricias dos meus
lábios e tremia na excitação dos movimentos pausados com que volta e meia
executava com a minha mão.
Na verdade, P. parecia
prestes a explodir de desejo e isso de certa forma me motivava a fazer mais e
melhor, certa da intensidade do ritmo. Não sei ao certo que esperava naquele
momento. Isto é, sabia o que poderia inevitavelmente acontecer, mas como nunca
vira nenhum resultado prático desse momento, aguardava com eterna luxúria o
momento final. O ocaso da imensidão do pénis bem hirto.
Foi então que pela
segunda vez nesse dia, fui surpreendida por P. quando subitamente afastou-me,
bateu ao de leve com o mastro na cara e puxando-me os cabelos, ergueu-me e
assumiu uma expressão facial que jamais esquecerei:
-Achas que agiste bem?
-ah?
-Achas que o que
acabaste de fazer é próprio de uma menina?
Desorientei-me e nesse
momento a minha postura de rapariga mais velha e mais experimentada caiu por
terra. Regressei rapidamente aos meus reais anos, à minha infantilidade e à
minha insegurança de criança.
Voltara a ser a jovem
parva submissa à austeridade da voz de P.que uma vez mais não tinha mostrado
qualquer interesse pelo meu corpo, pelos meus desejos ou pelos meus caprichos.
Com toda a calma do
mundo, mesmo sabendo que A. estaria a chegar, recolheu o mastro incrivelmente
duro, sem se vir. Fechou as calças e sentou-se no sofá, estendendo-me a mão sem
esboçar um sorriso.
Como um insecto voador,
fui atraída à teia do seu colo, mas não na posição habitual do termo. Como quem
brinca com um manequim exposto numa montra de uma loja qualquer P. colocou-me
deitada de barriga sob o seu colo, abriu-me ligeiramente as pernas,
empinando-me a cintura, enquanto me afagava as nádegas nuas:
-Concordas que não
foste uma menina bem comportada?
-Talvez. – Disparei eu
sem saber o porquê daquilo
-Se bem me recordo,
procedeste de um modo egoísta ao desencaminhar A. e não contente com esse
facto, repetiste-o comigo.
Então agora a culpa era
minha? Indaguei novamente a ferver de fúria para mim mesma. Então eu é que era
a culpada por sentir algo que jamais sentira na minha vida e por ter desejado o
secreto prazer da entrega a quem já conquistara o meu coração? Nunca. Eu iria erguer
a mão e o esbofetear por brincar e no entanto sem aviso antes que eu pudesse
reagir, deu-me uma palmada no rabo:
-Mas…Está louco eu…_
Apressei-me a ralhar.
-Cala-te, ou o castigo
aumenta. Cada grito, gemido ou frase tua desencadearão mais palmadas.
Percebido?
Não respondi, ainda sem
saber o que poderia dizer, quando sentia as palmadas a um ritmo certo e numa
cadência que não sendo violenta me magoavam mais no orgulho que na pele.
Por vezes tentava
olhar, mas prontamente ele corrigia a posição da minha cabeça e não podendo
sair dali, nem tão pouco ver o que ele me fazia ao certo, sendo que apenas
podia sentir o alternar das palmadas, com a ponta dos dedos explorando os meus
orifícios num misto de dor e prazer, que me fervilhava todo o corpo.
Curiosamente adaptei-me
àquele castigo, que o interiorizei como o mais profundo desejo e de repente,
sem perceber o porquê, fechei os olhos e imaginei que era no colo do meu pai
que estava assim nua e indefesa e quando sentia que o castigo ia parar, gemia
ou gritava, forçando-me a um prolongamento.
No fundo, o castigo era
um desejo antigo, escondido entre as brumas do meu querer e esperava apenas o
açoite certo para me libertar do fardo de deixar de sonhar, de parecer ser quem não era.
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