quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Esquizofrénico - Capitulo 3 - Parte 3


A solidão da noite não poderia ser mais desoladora que a vista que a jovem tinha do "buraco" do Simões.
O suposto apartamento, mais não era que uma cave humida, guarnecida por um colchão coberto de lençois sujos e uma almofada, com a fronha já gasta.
Nada naquele espaço indicava a paranoia com a limpeza que o sujeito semprfe apresentava.
-Tu vives aqui? - Exclamou quando se recuperou do susto.
-Não seja parva! Como poderia alguem viver aqui. Aqui é o buraco!
-Ouve, estou a ter um dia estranho. Explica lá isso devagarinho.
-Explicar o quê?
-Essa treta toda de " eles" e do "buraco". É que francamente não entendo absolutamente nada.
Alertado por um barulho de passos, o jovem apagou a luz, e colocando-se atrás de Rita, tapou-lhe a boca e aguardou.
Eram audíveis alguns passos a subir e a descer as escadas e fosse por precaução ou por medo, ela não reagiu e deixou-se estar imóvel nos braços dele.
Vozes entrecortadas por passos avolumavam-no no corredor e ao ouvido de Rita, o jovem ia explicando:
-Eles estão aqui. Eles não desistem.Estavam convencidos que se me deixassem sair, eu os guiaria até "aquilo". Mas " aquilo" está bem guardado. Eles não vão encontrá-lo.
Rita estava com vontade de gritar e acabar com toda aquela paranóia inventada da cabeça dele. Só uma mente distorcida poderia tê-la colocado aos saltos pelos terraços e janelas, mas por outro lado, ela revia a imagem do carro, a largá-lo na via publica.
Com um ar assustado ela pensou que, por uma vez na vida, os seus instintos estariam certos e ele realmente corresse perigo de vida.
Com um esforço, tentou ouvir as vozes e assim perceber os comentários.Havia uma voz forte relativamente perto, mas nem assim ela percebeu o que dizia.
-Eles vão desistir por hoje e já poderemos dormir. Voltarão amanhã na certa. Vou ter que partir.
De subito a ideia de ele partir, de a abandonar a fez tremer e desesperadamente, voltou-se empurrando-o.
-Agora chega! Já vi que não estás fraquinho e preciso ir embora.
Perante a explosão verbal dela, ele acendeu a luz, alisou a gravata, despiu cautelosamente o Blazer rasgado e ensaguentado e com o ar mais calmo deste mundo, sentou-se no colchão.
-Eles usaram-me para testes. Um género qualquer de desenvolver Q.I.. Nunca entendi. Mas eu fugi e prometi revelar a verdade. Agora descobriram-me uma vez mais e querem "aquilo"
-"Aquilo"?
-Sim, aquilo. mas eu não lhes dou. Não sou louco.
-Bom, agora que falas nisso, devo confesar que és um bocado.
-Mas não sou, sou confuso. Eles que me puseram confuso.
-Mas Simões...
-Marco.
-Como?
-Chamo-me Marco.
-Ok. Marco Simões.
-Não, não sou Simões.
-Bolas....Quem és afinal!
-Marco Fortes.
-Espera, preciso de me sentar!
Após ter serenado um pouco, e olhando pelo menos mais seis vezes para o rosto dele, avançou com a meditação:
-Ou seja, queres-me convencer que aquele gajo estranho que passava dias a escrever no café, é na verdade um produto de testes e sei lá que mais, de alguem que o persegue, na busca de algo?
-Bem, é uma forma de colocar as cosias.
-Mas que coisas? Nem um puto de 7 anos contava uma história sem nexo como essa!
-Então porque te envolves-te?
-Não envolvi em nada. Que diabo Marco, tu cais-te aos meus pés!
-Isso. Sou Marco.
-Nem me interessa. Agora, por favor abre essa porta e deixa-me sair.
-Achas que já é seguro?
A ponta da All-Star dela, batia ansiosamente no solo, e com um olhar critico, sentenciou:
-Abre de uma vez.
-Bom, tu é que sabes, mas eu...
-Xiu. Abre e não digas mais nada. Estou farta de brincar!
Sem proferir qualquer palavra, ele rodou a fechadura e abrindo a porta ligeiramente, deixou-a sair, fechando a porta imediatamente.
Com um passo nervoso, Rita abandonou o prédio, lavada em lágrimas de raiva.

----------------Fim de Parte 3

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