quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Uma Nobre Varina

Acabadinho de pescar
Oh cliente venha ver
Tanto peixe, deste mar!”

Ela que sonhava um escritório
E não este trabalho inglório
Seu pai lhe tinha dito:
“Todo o trabalho é bendito!”

Mulher sem mãe, criança jovem
Um pescador como pai
Sete irmãos p'ra sustentar
E eu aqui a apregoar:

“Fresco... fresquinho
Do mar é este peixinho
Sardinha, pargo e faneca,
P´ro vinho beber de caneca!”

No regresso até casa
Ainda com canastra cheia
Na Taberna do Julião
Se ouve um forte pregão:

“Oh povo que nada me compras,
Preferes no “hiper” comprar
Peixe podre e congelado
E a pobre varina, que vá roubar!”

Assim nunca mais me safo!
Exclama a pobre desgraçada...
Tantas bocas de sustento
Em tão grande sofrimento!

O taberneiro, de a ver chorosa,
Logo chama: “ Oh Inês, maravilhosa,
Deixa essa gente rancorosa
E comigo vem, viver na Costa”

“Tu estás mangando de mim,
Taberneiro desgraçado
Achas que eu sou assim,
Queres comer só um pedaço!”

Taberneiro ressentido
Foi falar ao pescador:
“Quero a mão da tua filha
Que lhe tenho muito amor”

Casamento consumado
Com taberneiro respeitado,
Agora passa na rua ,
De cabelo arranjado.

Inês já não é varina
É madame, bonitinha!
Compra o peixe na rua
À madrasta, que lá passa.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Dueto Mefistus e Carla Bordalo

1 comentário:

  1. A Carla Bordalo tem uma magia própria, uma identidade quase unica e é incrivel a sintonia de sensações e emoções ao poetar com ela.
    Lindissimo, este poema História.
    Obrigado Carla Bordalo!

    ResponderEliminar