domingo, 7 de novembro de 2010

Esquizofrénico - Capitulo 7 - parte 1



Sob o suave entardecer Rita atravessou a estrada, respeitando o sinal verde para os peões e sem se deter na passadeira, avançou até à entrada do edificio.
Várias ideias e pensamentos lhe cruzavam a mente e ao invés de a distrairem ou a confundirem, obrigavam-na a apressar o passo.
Carina, a poucos metros dela, resolveu salvaguardar as distâncias e qual anjo da guarda, zelava pela rectaguarda da amiga.
Instintivamente Rita subiu pacientemente as escadas, até alcançar a janela que dava para pátio e deteve-se uns segundos a procurar a maçaneta com que a abriu e a saltar para o pátio.
No fundo, imitava o que Mauro lhe havia pedido, no seu primeiro encontro.
No pátio ela perdeu alguns minutos, examinando-o pacientemente, antes que o véu nocturno caísse.Não sabia ao certo o que procurava, mas sabia que este local era de certa forma uma referência.
Para sua surpresa, ouviu uns passos e voltando-se encarou a amiga junto dela:
-Não é um bocado tarde para andares a saltar edificios?
-Carina, que bom e ver. Como me descobris-te?
-Vi quando fugis-te da esquadra. Que fazes aqui?
-Procuro uma pista.
-Uma quê?
-Uma pista para o caderno.
-Aqui, num pátio deserto?
-Sim.
-Rita, não me parece que seja uma boa ideia.
-Porque dizes isso?
-Então amiga, não é obvio. Quem é que no seu juizo esconderia um caderno num pátio?
A amiga olhou-a demoradamentecomo que a fazendo ver que ela não colocara a pergunta certa:
-O Mauro não é normal!
-Pois,nisso tens razão Rita. Mesmo assim só Deus sabe o que aquela mente perturdbada é capaz...
-Que disses-te?
-Mente perturbada....Estava a falar do Mauro.
-Hum.
-Oh vá lá Rita. Não precisas de ficar ofendida. Sabes que ele de facto não é normal.
Rita gingou sob os calcanhares, forçando as suas All Stars rosa a trabalho forçado e de dedo espetado no lábio, meditou uns segundos antes de concluir:
-Sabes o que é estranho?
-Não.
-Durante este tempo e sobretudo quando estava na esquadra tentei memorizar todas as frases de Mauro, em todos os espisódios diários, na infindável busca de alguns pormenores relevantes. 
-Para quê?
-Para perceber. Sabes, é certo que Mauro pode ser diferente, pode até ser estranho, mas à sua maneira, existia uma lógica no que fazia e dizia. Era sempre uma lógica distorcida é certo, mas ainda assim havia um padrão mental.
-Bem, aí estou de acordo. pese o facto de termos dados voltas e voltas ao mesmo sitio no carro...
Indiferente ao comentário da amiga, Rita continuou pensativa, a narrar o que lhe atravessava o espirito:
-Recordo-me do cuidado que Mauro tinha na limpeza e na organização quer do caderno, quer da mesa do café. Mas quando ele me mostrou seu refugio ou o " forte" como ele lhe chamava, algo não estava certo.
-Como assim?
-Não havia o mesmo cuidado Não tinha nada a ver com ele!
-Oh amiga, sabes como são os homens. péssimos donas de casa...
-O Mauro não é assim. Mas repara, talvez aquele pequeno cubiculo não fosse, como eu havia pensado, um refugio mas um esconderijo. 
-Esconderijo dele, certamente.
-AÍ é que está! Ele nunca teve medo deles. Ele chegou a me dizer que " eles estavam a observar". Ou seja, ele sabia que era vigiado e que a qualquer momento podia ser apanhado.
-Mas então....
-Era o caderno. Só pode ser!
-Sim, tem a sua lógica.
-Claro que tem. Ele escondeu lá o caderno e ele eera o guardião do seu Forte e do seu Tesouro. Entendes?
-Penso que sim.
-Oh como fui tão burra.Por isso ele não ligava nenhuma à limpeza ou organização. Aquele não era o quarto dele.
Sem perder tempo Rita avançou até à extremidade do pátio, saltando para o passeio, no piso inferior sendo de pronto imitada pela amiga.
Num gesto decidido as duas contornaram o edificio e voltaram a entrar no edificio, sendo que desta vez, Rita conduziu-a até ao famoso cubículo.
Para surpresa das duas, a porta estava entreaberta e o quarto revirado:
-Chegamos tarde! -Sentenciou desalentada 
As marcas no quarto eram evidentes. Quem tivesse la entrado e procurado, não estava propriamente preocupado com motivos estéticos.
O colchão já velho, encontrava-se esventrado e rasgo, a almofada sofrera igual trato e até pedaços da alcativa foram levantados:
-Foram minuciosos!
-Lamento Rita, mas alguem teve a mesma ideia que tu.
-Não. Não o podem ter encontrado!
-Porque dizes isso?
-Porque se o encontraram o Mauro está perdido e nós tambem.
Carina olhou perplexa para ela e só então deu-se conta do que estava em jogo.
Não era apenas uma inevitável procura de um caderno. Era tambem a salvação das suas vidas:
-Achas mesmo?
-Não tenhas duvidas. Vi o que eles são capazes.
Desalentada a bela rapariga vrou costas a Rita e iniciou a procura:
-Que fazes?
-Não vamos deixar de procurar. Tal como tu, acredito que eles não o tenham encontrado.
Rita sorriu ao de leve e procurando o melhor angulo visual encostou-se a um acnto, de forma a poder analisar too o quarto.
Não procurava nada de especialmente relevante, apenas um indicio ou um apdrão.
Por seu turno, Carina ia saltitando entre a dessarrumação, detendo-se prontamente:
-E esta, pelo menos o quarto tem W.c.!
-Qu disses-te? - Inquiriu Rita
-Não sabia que o quarto tinha quarto de banho!
-Nem eu.
Prontamente Rita aproximou-se da porta e sem perder tempo espreitou para o interior.
Aparentemente o W.C. continava do modo que Mauro o deixara e então Rita sorriu:
-Bingo.
-Ah? - Interpelou a amiga incrédula.
-Se Mauro tem a mania das limpezas, mesmo que descure o quarto onde abriga o tesouro, jamais descuraria o W.C.
_sim, tem a sua lógica.
-Qual a coisa que mete mais nojo a quem tem medo de bactérias?
-O W.C. Claro!
-Precisamente onde Mauro mais passa o tempo a limpar. E para que precisaria ele de limpar?
-Porque o usa muitas vezes.
-Bingo.
-Mas não estou a ver....
-Mauro passava tardes e dias inteiros no café sem ir ao W.C. Mas aqui pelos vistos utilizava no POUCO TEMPO , que aparentemente cá estava.
-O tempo suficiente para guardar algo.
Rita sorriu vendo que a amiga já lhe alcançara o raciocinio e sem se deter avançou para a sanita, provocando o riso de Carina:
-Achas mesmo que...
Sem perder tempo a responder, Rita premiu o botão do autoclismo e nada aconteceu:
-Vês, não há descarga. Não está em uso.
Rapidamente e com uma destreza singular, levantou a tampa de porcelana e meteuu a mão no reservat´rio, tirando um caderno A4 cuidadosamente embrulhado num plástico transparente.
-Elementar meu caro Watson - Brincou Carina.
-Ele deu-se ao trabalho de o desligar, de cortar a agua. Inteligente sem duvida.
-Como sabias?
-Intuição.
-E agora Rita?
-Agora vamos sair daqui depressa. O meu pai saberá actuar.
Enquanto Rita escondia o caderno, já livre do plástico. debaixo da camisola, Carina ia até á porta vigiando o exterior.
-Vamos sair por cima de novo.
-Ena, gostas-te mesmo do Pátio!
Rita sorriu temporáriamente de felicidade, até se aperceber do vulto que surgia ofegante diante da entrada do edificio. 
Reconhecendo o homem que a interrogara, após a terem raptado, ela gritou para Carina:
-Foge, pelo amor de Deus, foge!

1 comentário:

  1. Acaba sempre naquela parte...
    hoooo

    ansiosa pelo seguinte!
    Que pena estar a acabar :(

    Continuação de bom trabalho

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