terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Diablo - introdução - parte 3


Estado de Chiapas - México - 21 de Dezembro de 600 D.C.

A noite cobria o vale do estado de Chiapas, no México. Por entre as verdejantes encostas, perto das labaredas crepitantes das fogueiras em circulo, Balam, o bruxo da aldeia sacudia frenéticamente o cajado de ouro curvado, com caracteres Divinos entalhados na base:
-A hora da negação e da Impureza se aproxima da nossa aldeia. Um mal consumirá todas as nossas almas e seremos cativos da força negra.
Em redor os bravos guerreiros, sustinham a respiração, absorvidos pelo discurso do bruxo Balam, enquanto acenavam afirmativamente com a cabeça
-Ampere Hora Tabai, o nosso Deus da Morte, enviou-nos um sinal. Um sinal perigoso de Além - Mar virão estrangeiros, de lingua viperina e coração negro.
-Combateremos, como combatemos então todas as ameaças....
Balam, hesitou sorrindo nervosamente e erguendo o tom de voz alertou:
-A nossa civilização Maia atingiu o seu apogeu de periodo fértil. Maus tempos virão, mas nós, os verdadeiros Maias, os filhos legitimos de Ampère-hora Ciliz, o nosso Deus da Guerra, não vacilaremos.
-Os estrangeiros morrerão. - Prenunciava abertamente o Guerreiro da primeira fila.
-Meu bom Tukkor, não são os estrangeiros que nos derrotarão! Hoje chamei-vos diante de mim para vos revelar algo bem mais desconcertante que a ameaça de uns estrangeiros.
Acompanhando o lento evoluir das chamas das fogueiras, iluminados pela farta chama, os guerreiros ouviam expectantes:
-Contarei a todos vós, Filhos Maias, a primeira profecia deste vosso amigo. Falo do final do medo! Falo do final do temor nos nossos filhos. Temos presenciado no nosso interior o crescente e Ódio e a ânsia pelo que é belo, pelo que é material. Contudo, asseguro-vos que não será apenas mal nosso! É um mal da Humanidade e durará ainda muitos anos.
O desconforto começou a invadir a assistência, perdidos na visão assustadora de perderem toda a riqueza e espólio da evolução dourada do seu reino:
-A primeira existência negra foi-nos revelada pelo sol. Exactamente sete anos após o ultimo Katun ( periodo de 20 anos), começará uma época de escuridão, que fará com que o Homem examine a sua consciência e as suas vidas. Sete anos depois, o Homem abandonará a sua existência corpórea e será guiada pela porta Maia, para um ultimo nivel de excelência.
-Mas Balam, nosso sacerdote e vidente, se isso só acontecerá em mil anos porque nos teremos de preocupar com isso e não com a presença de estrangeiros?
Balam parou, pousou ligeiramente a base do cajado e mirando o guerreiro, continuou:
-Sei que sois impaciente como uma Hiena mas bravo como um Leopardo. Precisamente porque tudo está relacionado.Pelos estrangeiros remeteremos a maldição negra para as suas terras, para longe de nós.
Um sussurro enervante surgiu na assistência, apesar de Balam o parecer ignorar:
-Balam, nosso sacerdote, receio não compreender....
Levando as mãos ao manto de leopardo que cobria as costas cicatrizadas do guerreiro Tukkor, usou um numero simples de magia e fingindo retirar algo do corpo do Guerreiro, ( quando na verdade já o tinha na mão antes), o sacerdote ergueu um amuleto dourado á assistência e clamou:
-Aqui concentrei toda a protecção do Homem e dos Puros. Na hora certa, algo maligno usará este medalhão, levando o Homem a entrar num periodo de sombras e receios. Este medalhão acordará no peito de alguem apartentemente inocente, fruto da maldade de B’olon ti k’u, o senhor do submundo e das trevas e então acordará a maldade no Homem e despoleterá a violência.
Um silêncio sepulcral instalou-se na assistência, com um outro guerreiro a sussurrar entre dentes:
-Pobre criatura o ostente. Ofereço-me para o destruir! - Alertou Nazzir
-Não! - Bradou Balam.- Nenhuma força Humana ou Inumana o destruirá. Este medalhão será o "Fogo Eterno" , o olho da verdade de nosso Deus Sol, o grande Ampère-hora Kumix Uinicob. Ele será entregue aos invasores estrangeiros, de acordo com a nossa profecia.
Como era usual as mulheres da aldeia, deram as mãos e oraram, numa canção ritmada, enquanto Balam, executava a oferenda dos espiritos.
Contudo, Nazzir que vivia orgulhoso do seu espólio de Ouru e do seu Status de Guerreiro Sagrado, não resistiu, olhando demoradamente o amuleto colocado aos pés do Sacerdote, ergueu rapidamente a lança e sem perder tempo espetou violentamente a ponta no pequeno orificio do amuleto.
O céu negro imediatamente ganhou cor, ficando avermelhado e perante a estupefacção de Balam, explosões de cores e raios atingiam furiosamente a assistência:
-Louco, que foste fazer? Eu te afirmei....Nada pode o destruir. - Berrava Balam para o guerreiro.
Então o insólito sucedeu, do solo, espirais de fogo consumiam os presentes, rodeando-os, carbonizando-os.
Assustados os presentes corriam como formigas atarantadas, caindo inanimadas ante os seres de fogo, que surgiam continuamente do solo.
Numa réstia de força e coragem , Balam ergueu o cajado, atirando o amuleto para as mãos de Tukkor, que compreendendo o pretendido, agarrou-o, e correndo com toda a furia que lhe permitia, aproximou-se do penhasco de encosta verdejante e saltou para o Mar, que batia furiosamente na encosta escarpada, desaparecendo de seguida com o Medalhão.
Instantes depois, um mini ciclone atingiu a área, levando com ele os corpos carbonizados e mesmo os que permaneciam vivos.
A noite voltou calma e serena e para sempre, nesse centro urbano da cidade Maia, as vozes Humanas calaram-se.

1 comentário:

  1. Lá estás tu outra vez.
    Incrivel como numa história ou conto se preferires, vais desde outras Galáxias, até ao Império Maia!!!.
    Ler-te é uma montanha russa de emoções em que em cada linha és capaz de reeinventar qualquer género.
    No " Vã Glória" usas um caderno perdido para dar corpo a uma solidão, no "Eskizofrénico" usas a magia de alguem diferente para dar um rumo sempre inesperado na história, no " Crime disse ele.." que continuo a achar que acabou cedo demais, usas a classe e o bem vestir de um Justiceiro/Mercenário, em diálogos loucos e apaixonantes e agora, já me mantens cativa e prisioneira da tua arte neste teu conto.
    Eh pá, mereces não um, mas 10.000 livros editados.
    És unico!
    Anita

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