sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Esquizofrénico Penúltimo Capitulo - Parte 2


De inicio as suas pupilas custavam a focar o ténue espectro de luz que sobressaia no tecto, outrora imaculadamente branco, mas que agora apresentava as rugas de alguns anos sem ver nova tinta.
Na desconfortável maca, a poucos metros da divisória onde Ana recuperava, Carina ia tentando aperceber-se do que havia sucedido.
As memórias na sua mente eram ainda confusas e por mais cuidado mental que tivesse a tentar restabelecer o Puzzle de incidências, não conseguia discernir o que julgava ter sonhado, com o que realmente acontecera.
Costuma-se dizer que o sono é a antecamara da morte, mas para ela, o apagão mental, vulgarmente designado de desmaio, que acabara de sofrer, era tudo menos uma antecamara do que quer que seja.
A unica coisa que lhe incidia fortemente na cabeça era a segurança de Rita. Será que ela se tinha safado? Como viera parar ali?
Perguntas que de momento e para ela não obtinham o minimo grau de importância. Cautelosamente apalpou oseu corpo tentando certificar-se que permanecia intacto quando um jovem ruivo, metido numa vistosa bata branca, lhe surgiu sorridente:
-Até que enfim acordou! A menina é um poço de felicidade e sorte.
-Ah sim?
-Na verdade eu assisti a tudo e não ´só foi feliz na queda, como ainda teve a sorte de desmaiar à minha porta.
Carina corou, pois na verdade não fazia muito bem ideia do que ele estava a falar e sem dar prova disso, disfarçou:
-Sou assim, uma miuda com muita sorte!
-Pois...Mas não foi tudo sorte.
-Não?
-Receio que possa ter danos cerebrais. Estou á espera do resultado do exame.
A palavra danos cerebrais, assustou-a e encarando nervosamente o jovem ruivo, inquiriu:
-Mas afinal quem é você?
-Neste momento sou o seu anjo da guarda!
-Bem se tenho danos cerebrais, não fez bem o seu serviço.
O jovem sorriu timidamente ante o à vontade dela e replicou:
-Bom, sou o médico destacado para a sua urgência e lamento informar, mas só a deixo sair depois de ter a certeza que está tudo bem consigo.
Ela riu abertamente e depois de se olhar com alguma atenção, ironizou:
-Vejamos, tenho as calças sujas e rasgadas, a camisa então arece que foi atropelada por um camião, doi-me a cabeça e os braços e sinto-me agoniada e ainda nem me vi ao espelho.Que não está tudo bem comigo, já eu reparei, mas doutor, se julga que vou ficar horas aqui deitada...Esqueça!
-Bom, quanto á roupa realmente nada posso fazer, mas já quanto ao resto...
-Aspirina.
-Como?
-Uma aspirina e fico fina. Preciso de ver uma amiga.
O jovem médico coçou o saliente queixo com barba de dois dias e sentenciou:
-Sabe, quando é dadoo um episódio de urgência desta gravidade somos forçados a informar a autoridade.
-Não me diga que o doutor não é capaz de sozinho tratar de mim. Precisa de um agente da policia para o ajudar no diagnóstico?
Apanhado de surpresa pela ironia da jovem, o médico ia responder algo vago, porém ponderou uns instantes e fingindo tar a ser chamado, desculpou-se:
-Já volto para acabarmos esta excelente conversa.
A Carina não passou contudo despercebido o leve corar das faces do médico.
Deitou suavemente a cabea na almofada e tentou de todos os modos que conseguia, tentar reunir forças para se preparar para uma fuga, quando sentiu a mão quente de Ana no seu braço:
-Que fazes aqui?
-Não sei ao certo, mas parece que por vontade deles, ainda permanecerei algum tempo aqui presa.
-A Rita?
-Não sei! Pelo que me lembro iamos a fugir, penso que ela conseguiu!
Ana mordiscou lentamente o lábio inferior e aproximando-se segredou-lhe:
-Não faças nada. Não tentes nada. Se tentares fugir ou alarmares os médicos eles chamam a bófia.
-Era o que pensava.
-Contudo eles esuqeceram-se de mim já. Eu vou procurá-la. Venho te buscar quando tudo isto acabar.
-Ok. Mas tem cuidado!
-Já fui atacada e baleada. Já tive a minha conta. Onde andará o louco?
-Deve estar preso.
-Menos mal...
Sorrindo ávidamente, ela desapareceu pouco antes de Carina voltar a desmaiar.


Na pequena habitação, perto do ribeiro que circundava a pequena cidade, os dois homens conversavam abertamente pela primeira vez desde que se reencontraram.
No seu ar austero de oficial do exército, foi o ex-sargento a iniciar o diálogo:
- Antes demais meu jovem, tenho sinceramente de te pedir desculpa por tudo isto! Teho a certeza que o que possas ter escrito naquele malfadado caderno não é nem um terço do que te poderei contar. Lamento se as coisas chegaram a este extremo e acredita que não era suposto tal ter acontecido. Mas tu sempre foste diferente dos outros.
-Outros?
-Oh sim, não foste caso unico. Infelizmente foste oo unico que resistiu e que fugiu.- O ex-sargento levou nervosamente a mão á cara- Sabes meu caro, desde o primeiro dia que te vi entrar logo me apercebi que serias diferente.
-Mas exactamente de que se trata?
-Há anos que a grande preocupação do exército é esta nova tendencia de guerrilha. Uma guerra nas cidades, com alvos civis inocentes, manipulados por terroristas. Antes era tud diferente. De um lado estavam os maus e do outro os bons ( consoante o ponto de vista, logicamente). Mas hoje em dia o palco de guerra transferiu-se para os grandes centros urbanos. Eta, Ira e os Muçulumanos mudaram a visão da guerra.
-Compreendo.
-Não, não podes compreender. Toma o exemplo do Iraque.Há quantos anos foi conquistado e desde então, todos os dias morrem soldados. Carros armadilhados, Snipers fortivos...Um inferno.
-Mas isso é lá longe.
-Até um dia. Até um dia que chegue a Lisboa. E então que poderemos fazer?
-Afinal onde eu entro nisso?
-Nessa perspectiva o Governo, através dos ramos das forças armadas, instituiu um programa que visava colocar em sitios estratégicos, operacionais prontos a ser activados através de ondas cerebrais. Civis sem qualquer relação directa com o Governo, mas letais.
-Mas eu não sou letal.
-Infelizmente, como te disse, foste um dos unicos que resistiu. Mas tudo ia bem até que suge uma outra organização que pretendia o inverso....Então a coisa descambou.
-São Eles não são?
-Correco. São aqueles a quem chamas de Eles. Face ao insucesso e à constante quebra de poderes no projecto, eu apresentei a demissão, e entrei na reserva Até ao dia em que fugiste uma vez mais.
-Bem, mas e a Rita?
-Oh, ela foi envolvida sem que eu me apercebesse. Mas apenas ela e a amiga.
-Apenas?
O ex-sargento sorriu de satisfação e apressou-se a esclarecer:
-Neste momento, se a minha menina for esperta e acredita que ela é, estará a caminho daqui. Nós temos esse código, a que eu chamo alarme imediato. Accionei-o por SMS e ela ao ler saberá o qiue quero dizer. - O sujeito levantou-se pesadamente- Comprei esta casa há dois anos. Na data da tua ultima fuga, pois sabia que estavas pré-programado para te dirigires aqui, mas sinceramente não acreditava que o conseguisses.
-Lamento tê-lo desapontado!
-Não lamentes. Foi bem melhor assim. Poderemos finalmente resolver tudo isto.
-Mas...
-Diz.
-E se a Rita não receber SMS ou se safar?
-Então temos o plano B. Afinal só três pessoas sabem deste lugar.
-Ah.
Mauro levantou-se e caminhou distraidamente pela casa, quando subitamente inquiriu:
-Três?
-Correcto.
Segundos depois a campainha tocava três vezes e num sorriso rasgado o ex-sargento abriu a porta à Ana que entrava nervosamente:
-Procurei-a por todo o lado, não a encontrei.
-Ana?
-Ah, não estás preso.
O progenitor de Rita sorriu e sentenciou:
-Quando tu fugiste e sabendo que poderias retornar aqui, entrei em panico e dirigi-me á Ana. Uma excelente agente da policia, bem colocada. Consegui convencê-la a entrar neste esquema, ciente que se voltasses era a ela quem entregaria o caderno. Fica em boas mãos.
-Pois, mas as borboletas. - Motivado pelo pânico Mauro dissertava novamente.
-Vai começar? -Inquiriu Ana.
-Ele já recupera. Mas diz-me , não sabes nada delas?
-Carina está bem. Está no Hospital, mas não me parece grave. Coloquei dois dos meus homens a guardá-la.
-Rita?
-Nem sinal.
-Optimo!
-Como?
-As más noticias chegam depressa. Aquela miuda tem o faro de sobrevivência. Ela safa-se.
-E Matias?
-Uma peça menor. Assim que tiveres o caderno isto acaba. Tomas-te precauções?
-Doze homens a postos. Jogamos tudo na Rita.
-Pelos vistos. Mas temos de ter o caderno.
´-Lá está....As borboletas.
Ana sacudiu a cabeça e de repente estacou:
-Espera! Borboletas? Onde estão as borboletas?
-No teu café...lógico!
-Bingo.
Ana sorriu e pegando o rádio anunciou:
-Agentes 345 e 235 dirijam-se ao ponto de disfarce urgente. Over!
-Cambio Agente 123. A caminho. Que procuramos? Over.
-Apenas vigilância. Aguardem isntruções. Over!
-Compreendido. Over!
Todos os pensamentos estavam agora centrados em Rita.

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