sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Placenta - " Ou a Sorte Casta"


I -Introdução


Três de sete escalas musicais,
soaram nas gargantas ancestrais
Seres de castanho vestido
Vinho tinto em cálice vertido.

No cheiro de enxofre no planalto
Perto da meia noite, lua cheia
uma cruz em ouro e prata, ao alto
Caminharam, após a ceia.

Duas ninfas formosas e de branco
abriam o compasso mistico, em pranto
Os quatro Seres de capuz castanho
caminhavam num passo estranho.

Havia aqui uma densa melodia
no ar do público que não sorria.
Sem credo, fado ou jubilo, a vela ardia
e queimaria sempre até ser dia.

II - Expiação

Numa tumba de pedra cinzenta
Uma das ninfas se deitou, atenta
O oráculo da Lua Celeste
Principiou o ritual agreste:

"

Corpo que tome até ser dia,
Na casta e carente ninfa, entregue
Ritual que ouse o Santo agradar
Para que possa a todos nós perdoar.

Expiação de nossos pecados singelos
Pela força do sexo, assim tomada
Que do Santo seja agrada.
Que pelo Santo seja disvirrginada!"

De joelhos num gesto irreflectido
o Pai da pobre ninfa escolhida
Não escondia o choro incontido
e clamava em voz sumida:

"Ò Divina Ana bem parida
que de todas, foste escolhida
Rogai por nós sem choro
Minha filha preferida!"

A ninfa que a todos saudava,
viu ser-lhe retirado o manto branco
expondo ao Mundo o seu corpo
tremendo na palidez da lua:

"Pois que seja agora a sorte anunciada
Pois que em meu corpo, seja consumada
Expiação de toda a loucura dada
Antes fudida que cremada!"


III- Concordata

No silvo das palmas dadas
O Oráculo nu,de cajado em riste
Sem preliminares ou preparativos
Logo pos a ninfa aos gritos.

Solavancos intencionais
em posições conceituais
loucuras institucionais
Ondas de parzeres carnais.

Gemidos e gritos já largados
no rosto do Patere, ignorados
cospo que oscilava em murmurio
sob o rosto do Oráculo, Iturio!

Na terceira onda de prazer,
jacto de branco largado
no corpo jovem violentado,
Fez-se luz na visão do profeta.

Não consta que tenha gemido a lua
não se sabe se a sorte foi nula.
Mas um a um os oráculos de castanho
cumpriam o ritual, fecundando-a

Quatro homens de prazer,
sob a noite velada a tomaram
com o sexo a arder
sobre a Tumba a deixaram.


IV- Conclusão


Quedou-se o oráculo do sermão
esqueceu-se o Pai do perdão
tomado de vergonha e injuria
sacou da faca e fez lamuria:

"Ah que triste fim para um pai,
que deu o ouro ao bandido
todo este ritual perdido
e a minha filha, violada!"

Precipitou-se sobre o oráculo
de braço loucamente erguido
segurou-o a Madalena
Mãe da pobre ninfa:

"Olhai Moisés que foi má sorte
a nossa doce menina...
Podia ter sido uma princesa
Foi o Santo que a tomou!"

"Se foi Santo onde está o milagre
que só vejo perversidade
falso teatro aqui montado
que o oráculo seja morto e enterrado"

Em gritos de raiva incontido
o pai agarra o Oráculo,
mas perante a plateia,
foi a pobre ninfa a esfaqueada"

"Ó pai que me fizeste?
A mim que tudo deste.
Eu que agora minha virgindade dei
Para te erguer ao Santo, como Rei."

vendo a Ninfa ensaguentada
logo o publico fugiu de medo
Foi a sorte do Santo afastada
Nunca mais foi o pai perdoado.

Cinco dias depois se tinha suicidado
lá no meio do monte, pobre coitado
Entre as azinheiras enforcado.
Morto com pecado!"




2 comentários:

  1. És um G É N I O !!!

    Já tinha SAUDADES de te ler neste registo :-)
    Uma poesia teatral,
    com muita rima,
    com erotismo,
    comica
    e com drama!

    É bom te ler e com tua poesia 'voar' :-)

    beijos

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  2. Surpreendes com a decência num contexto sempre de delirio, num Mundo dominado de Mitos e Ritos.

    Gosto de imaginar o palco quando leio, pois já o disse antes, és fortemente visual.

    Um beijo

    Anita

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