quarta-feira, 16 de março de 2011

Maria Borboleta



Naquele fim da tarde desse penoso mês de Janeiro, o idoso optou por trocar o habitual jogo de cartas, no centro do Coreto da pequena praça, por um banco no Jardim e assim, admirar quem passa.
Os anos pesavam-lhe cada vez mais, e estático ele absorvia os rostos jovens de quem passava, recordando outros tempos, outros talentos.
Devagar, devagarinho que ele meditava, que não se apercebeu da chegada de uma menina de 9 anos.
Ela sem tirar os olhos dele, sentou-se a seu lado e de rabo de cavalo espetado, sorriu-lhe:
-Como te chamas? - Perguntou ela sorridente
-António Penedo, minha filha. E tu?
A petiz ficou a meditar, não respondendo. Depois olhou-o uma vez mais , e respondeu:
-Não te posso contar!
-Não? - Inquiriu o idoso pasmado
-Não! - Respondeu ela de ar altivo
António encolheu os ombros e ficou calado, ela deu-lhe a mão e perguntou:
-Queres ser meu amigo?
-Eu gostava muito. Posso?- Respondeu o idoso sorrindo
-Podes.- E prontamente lhe deu um abraço.
O idoso pasmado com tanto carinho, olhou-a de soslaio, de fininho.Perante o ar aparvalhado dele, apressou-se responder.
-A minha mãe não me deixa falar com estranhos. Mas agora posso, és meu amigo, não és?
-Sim,sou!- respondeu António.
-Ainda bem. O meu nome é estupido!
-Estupido? Não há nomes estupidos!
-Claro que há! O meu é!
-Duvido. Como te chamas?
-Maria...
-Vês. A minha mãe tambem é Maria. è lindo
-Sim, o Maria é!
-Então....
-Maria Borboleta!
-Ohh..È lindissimo.
-Achas??? È horrivel.
O idoso meditou uns momentos. Porque a petiz dizia tal coisa?Olhou em volta e não viu mais ninguem. Pacientemente, tentou indagar:
-Mas as borboletas são lindas.
-Tambem pensava assim. Pedi ao meu pai para ver no dicionário e depois...chorei.
-Como assim?
-Segundo o que percebi, as borboletas tem 4 fases. São um ovo, depois uma larva...Brrr, que nojo!
António meditou. A petiz tinha razão, tentou argumentar:
-Sim, mas são bonitas depois de...
-Bonitas? São frágeis, quebram.se todas ao minimo toque e não duram muito!
António encolheu os ombros e ficou pensativo. Ela argumentou:
-Tu...Tu és penedo. Um penedo é forte e rijo. Nasceste Rocha e rocha ficas. Nem o mar te move.
-Sim, isso é verdade!
-Vês. Tu sabes o que és...já eu...não sou nada!
-Maria, mas o nome não quer dizer nada. ès bonita, graciosa e gostas de aprender
-Tem de ser. Tenho de aprender a "voar" antes que perca a vontade de o fazer.
-Vejo que és decidida. Mas és jovem...
-A minha mãe diz que sou chata.
-Não és.
-Ela diz que sim
-Eu digo que não.
Ela permaneceu calada, de rosto fechado, com as mãos nos bolsos do casaco vermelho. Depois, vendo a mãe a acenar-lhe, levantou-se devagarinho e inquiriu:
-Ainda não achei o que procuro!
-O que Procuras, Maria?
-Uma resposta a uma pergunta que nunca sei.
-O que é?
-O que é que uma borboleta come?
António encolheu os ombros e não soube responder.
Ao o ver assim, perdido e sem resposta
-Vês? Como posso voar se nem sei quem sou ou o que como?
E triste ela foi, caminhando sob as folhas das arvores perdidas no solo de terra batida.


Nesse fim de Dia, António contou os tostões da sua reforma, e entrou numa livraria, saindo com um compêndio sobre borboletas.
Iria ler e amanhã ja saberia responder!!!




Foto: http://olhares.aeiou.pt/borboleta_no_meu_jardim_foto647797.html

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