segunda-feira, 16 de maio de 2011

Infidelius - Capitulo 4 (parte 3)



"Estou farta de paredes nuas...
Sem quadros de família,
sem rachas de humidade,
sem tinta descascada pela idade,
sem riscos e arabescos de mãos pequeninas
tingidas de lápis de cera..." - Inês Dunas
http://emjeitodeescritaportugal.wordpress.com/2011/04/27/a-farta-fartura-que-nos-farta-de-ines-dunas/

Marlene era realmente uma outra pessoa desde que conhecera Nicolas. Como um anjo ele caiu do céu, directamente no seu regaço, para a amar e acima de tudo gostava imenso de Marisa. Que mais uma mãe poderia querer?
Ciente que o dia de aniversário da filha, calhava num dia de semana, mais concretamente numa Sexta-Feira, e uma vez que ela não poderia celebrar essa data com ela, pois teria de trabalhar, Nicolas gentilmente ofereceu-se para a levar a dar uma volta. Falou por alto em McDonalds, e cinema e ela podia apostar que a filha iria delirar com tamanha proposta.
De faca de cozinha em riste, a cortar uma cebola em pequenas fatias esbranquiçadas, ela sorriu ante a ideia.
Sempre se castifgara por andar com a casa às costas de um lado para o outro e dessa forma sentenciar a propensão de Marisa para criar novas amizades.
Lentamente foi-se apercebendo de certas mudanças no comportamento da filha. Lentamente e com algum temôr, ela pôde constatar que a sua doce Marisa desenvolvêra uma apatia a qualquer estreitamento de laço de amizade. Acompanhou a sua fase mais sinistra, sempre tentando desvalorizar a extravagância dela, numa tentativa de claramente não agitar as águas. Quem sabe se não ligar, acabará por passar?
Mas teimava em não passar e depois vieram as discussões entre as duas, a falta de interesse dela em tentar perceber a urgência da mãe em conseguir um emprego. O total desinteresse dela, pelas pequenas tarefas domésticas que a mãe a incubia de forma a se manter ocupada.
Com alguma preocupação, Marlene sentia que o laço de confiança entre as duas, de intimidade estava cada vez mais largo e se não tomasse alguma decisão acabaria definitivamente por perder a filha.
Então surgiram as primeiras brigas na escola, os primeiros narizes de rapazes partidos, as primeiras queixas de encarregados de educação furiosos, pois Marisa havia puxado os cabelos a verdadeiras princesas que nunca se portavam mal e ela teve novamente de levantar âncora e procurar outro lugar.
Preocupava-a igualmente que com todo o facilitismo que Marisa parecia vivêr, acabasse por abandonar a escola. Meu Deus isso não!
E então, justo no momento em que começava a perder as forças, eis que Nicolas entra na sua vida, toma as rédeas dos seus problemas e assume, de uma maneira inigualável a educação da filha. Graças a Deus, pensou ela!
Nicolas chegou pouco antes de todo o problema que a filha tivera com um pseudo-namorado, a quem supostamente mostrou as mamas, convencida que era a uma miuda que mostrava.
Como podia uma jovem não ter uma amiga, ou um amigo? Era absolutamente irreal tal situação?
Repentinamente Marlene parou de cortar a cebola e atónita, como que prêsa nesse pensamento, tomou pela primeira vez verdadeiro conhecimento do que acabava de meditar.
Oh, como fôra tão burra? Claro que a filha não tinha amigos. Pois se ela cresceu juntamente com a mãe....Ela tambem não tinha amigos!
Seria pela sua influência que  Marisa não tinha amigos? Seria ela a influênciar a filha com o seu exemplo?
Limpou vagarosamente a lâmina da faca de cozinha ao avental que vestira apressadamente e tentou encontrar um fio de pensamento que pudesse suportar a sua suposição.
Era verdade que desde que engravidara, o seu mundo desabara. Os pais cortaram relações com ela, as amigas afastaram-se e os verdadeiros amigos, mais não eram que jovens escandalosos com a sua situação. O abandono escolar viera de seguida!
Desde então, a luta da sua vida fôra unicamente para preservar a sua bebé, para lhe dar conforto, para lhe assegurar vida, para a guiar, para que nada lhe faltasse um dia.
E ela? ela, deixara de vivêr os seus sonhos, as suas metas não passavam de um oásis distante no tempo. Até conhecer Nicolas, viveu em função da filha. Inconscientemente claro, mas não havia nunca nem tempo, nem disposição para amigos. Ou para jantares, ou para o que quer que fosse. Limitara-se a desaparecer do Mundo e a afastar-se cada vez mais da sua terra natal.
Com um sorriso forçado a surgir no rosto, acenou negativamente a cabeça e segredou baixinho: Pelo menos tenho o Nicolas!
Sim, concluiu, ele a fazia feliz e simultâneamente era bom na cama. Um verdadeiro touro, não só pelo tamanho do instrumento, mas pela capacidade de a tocar em todos os pontos chave dela. É um homem que sabe beijar os lóbulos da orelha, pensou a sorrir.
Apesar da divagação, o têma Marisa acabava sempre por atrair os seus pensamentos e a verdade é que ela ultimamente andava diferente!
É incrível a quantidade de coisas que uma mulher pensa, enquanto faz o jantar, concluiu, e com a porta do forno aberto, sacudiu delicadamente a travessa de vidro, de forma a que o molho que deixara pré feito, inundasse o peixe e a cebola e então meteu a travessa no forno e fechou delicadamente a porta, justo na altura em que Nicolas assumia à cozinha:
-Que se passa com a Marisa? - Inquiriu á laia de pensamento.
-Ah?
-Não tens notado que ela anda diferente ultimamente?
Nicolas tossiu ao de leve e por momentos pareceu sem reacção. Depois encolheu os ombros e aproximou-se delicadamente de Marlene, abraçando-lhe a cintura:
-Sabes como são as jovens. Vai fazer anos e isso enerva-a um bocado.
-Achas que é isso?
-Que mais poderia ser? - Inquiriu Nicolas timidamente.
-Não sei. Mas tenho mêdo, pois normalmente quan do ela fica assim, está a preparar alguma.
-Vais vêr...Está apaixonada.
Marlene riu com tamanho disparate e olhando-o com doçura replicou:
-A Marisa é incapaz de têr qualquer tipo de afecto! Não sei como a seduzis-te?
A pergunta foi feita num tom despreocupado, mas Nicolas sentiu-se ameaçado:
-Seduzir? Não meu anjo, apenas tento me colocar no lugar dela. Não é fácil ser-se jovem hoje em dia.
Ela riu despreocupadamente:
-Achas? Devias ter-me conhecido nos meus dias de juventude. Era um problema ambulante!
Nicolas puxou-a de leve para o seu peito e sgredou-lhe:
-Mas ainda és jovem e linda!
-Com seios descaídos!
-Lindos.
-Com celulite no rabo!
-Mágico.
-Com rugas de expressão nos cantos da boca!
-Ternos.
Ela acenou a cabeça e sorriu ao de leve:
-É por isso que te amo, fazes-me sentir uma princesa!
-Sou sincero apenas, amôr!
-És um traste isso sim. Estás a ver se ganhas a noite, achas que não te conheço?
-Conheces-me bem...
Como se fosse uma sombra Marisa irrompeu pela cozinha, perfeitamente alheia aos sorrisos perdidos dos dois e sem proferir qualquer palavra abriu a porta do frigorífico e tirou complacentemente um pacote de leite de chocolate Agros. Pacientemente agitou-o e sem se voltar, tirou a palhinha do invólucro de plástico e perfurou o círculo prateado do pacote:
-Marisa não estejas a empaturrar-te com porcarias. Já vamos jantar!
-Peixe?
-Pescada com...
-Não quero sabêr!
-Olha que...
Nicolas levou-lhe a mão á boca, impedindo Marlene de falar e piscou-lhe um olho, como que a acalmando e esperando que a jovem se retirasse, segredou-lhe:
-Não vês que ela está à procura de uma briga?
-Achas?
-Oui. Claro que sim. Não faças caso, provavelmente nem vai beber o chocolate. É só para te irritar.
-Oh Nicolas, ela anda tão estranha...
-Eu vou vêr o que se passa com ela!
-Obrigado uma vez mais Nicolas.
-Porque?
-Por seres um homem perfeito.
Num sorriso rasgado, ele afastou-se serenamente em direção ao quarto da petiz.
No fundo Nicolas estava feliz, apesar de ter sido um dia muito comprido e cheio de peripécias, só a oportunidade de mais uma vez estar a sós com Marisa, depois do aperitivo que tivera ao fim da tarde, seria o suficiente para o tranquilizar de novo.


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