quinta-feira, 9 de junho de 2011

Infidelius - Capitulo 8



"Acabaram-se as farsas breves de rios de caudais incertos...
As garças já não pousam nos meus olhos,
em movimentos abertos de entusiasmo...
Já não se passeiam em pontas sobre os lagos
límpidos das minhas íris..." - Inês Dunas
Os ninhos das Garças
http://librisscriptaest.blogspot.com/2011/05/os-ninhos-das-garcas.html

Marisa atirou com o telemóvel oficial para cima do tampo da mesa e apressou-se a desligar a net, bem como a deixar o Toshiba dormir.
Tinha sido habituada a esperar tudo de Nicolas, mas aquele telefonema inquietante deixara-a desarmada.
Durante anos havia sido habituada a esperá-lo pacientemente, com receio do que ele pudesse ter em mente, mas esta inovação de lhe ligar, justo no momento que teclava com Caio, havia-a transtornado.
No fiundo Nicolas era como maldição, um pesadelo crescente e sempre presente, do qual ela jamais se livraria.Era acima de tudo,algo que jamais poderia ser esquecido ou ignorado e isso mesmo tentara repetitivamente transmitir a Caio.
Na verdade era incrível o modo como tudo havia sucedido com o padrasto e inevitávelmente ela sentia que parte da culpa, senão mesmo a totalidade era sua.
Arcara com as consequeências, pois nunca havia descoberto se fôra ela quem o havia seduzido, ou se havia sido ele a deixar-se fingir seduzido.
O mais inquietante para a sua confusa cabeça, era o modo sobrenatural como ele se entranhava nela, e no seu pensamento. Ele dominava-a como uma sombra, mantendo simultaneamente as aparências junto da mãe, junto de todos.
Se durante uns tempos Marisa ainda sentia um cordão umbilical a ligá-la directamente à mãe, agora havia-o perdido. Era uma ilha, uma pequena ilha, cercada por um tubarão voraz. Uma ilha esquecida de tudo e todos, em pleno oceano sem qualquer hipótese de ajuda.
Mas o mais perturbador, era o facto de já não se sentir tão violentada ou maltratada cada vez que ele a tocava.Pelo contrário, parecia-lhe que precisava dessa pequena atenção para se sentir gente, para se sentir mulher.
É certo que agora tinha um namorado secreto um gajo cinco estrelas, que a fazia sentir a única á face da terra. Oh, o modo como ele cantara as suas letras, como ele se preocupava com ela! Mas e ela? O que ela havia feito ou dado a ele, que o fizesse sentir importante?
Nada. nada havia lhe dado, a não ser a partilha dos toques do padrasto, a loucura das suas letras, o trauma de ser ela.
Marisa deixou-se cair vestida na cama e retirou do bolso a navalha que sempre estimava. Curioso, pensou, as outras miudas tiveram peluches, bonecas e outros brinquedos. Tudo o que ela tivera fôra uma lata de Coca-Cola autografada por um artista de música ligeira que ela nunca ouvira e recheada de areia da praia da Rocha, ( um dos muitos refugios da mãe e dela, até estacionarem de vez ali), e agora esta navalha. Porque não posso ser normal, como as outras?
É claro que até podia ser igual a tantas outras, é claro que até podia ter amigos como os outros jovens, mas por qualquer razão inintíligivel ela desenvolvera um escudo de protecção invisível, escondido numa carapaça dura de um falso arrogantismo, que afastava quem se atrevesse a dar-lhe duas de letra . Era acima de tudo um modo de defesa, mas aos poucos, ela tinha a noção que cultivava essa falsa aparência diáriamente.
Só dois homens tinham ousado enfrentá-la e para provar que de facto ela não era assim, os dois haviam derrubado por completo as suas barreiras defensivas e quer ela quizesse, quer não , eram os dois homens da vida dela. Se ao menos tivesse conhecido o meu verdadeiro pai!
Simulando um corte nos pulsos, com a lâmina ao contrário, ela sorriu ao recordar a conversa com Caio sobre a fuga dos dois. Sentia-se culpada pelos avanços de Nicolas e paralelamente sentia-se culpada pelo afastamento em relação à mãe.
Como poderia um dia confrontá-la com o facto de ela ser uma espécie de amante do padrasto? Marisa arqueou as sobrancelhas e meditou no termo amante. Seria ela uma amante? Não, porque apesar de todas as loucuras de Nicolas, eles nunca haviam tido sexo com penetração, Graças a Deus, pensou.
Não, acima de tudo era ela a abusada por Nicolas. Era o corpo dela que ele explorava e ela nada podia fazer quanto a isso. jamais o poderia enfrentar, jamais o poderia acusar.
No fundo limitava-se a ficar estática e obdecer-lhe com receio do que ele pudese fazer ou dizer.
Já com Caio era diferente! Era ela quem tinha o comando e o controle da situação, nunca se sentindo culpada ou constrangida, mesmo no maior pico das suas loucuras. Com ele ela podia ser ela mesma, sem medos ou máscaras e isso tornava-a feliz. Muito feliz!
Fechou e abriu a navalha de ponto-e-mola duas vezes e de repente ouviu os passos certos das solas dos  sapatos de verniz de Nicolas, na entrada do apartamento. Hesitante deu uma ultima olhada ao Toshiba como se certificando que o computador estava mesmo deligado, abriu o botão das calças e guardou a navalha debaixo do colchão e deitou-se fingindo estar sossegada.
Era este o procedimento habitual. Nicolas chegava invariávelmente mais cedo e logo entrava no seu quarto, invadindo o seu castelo, sem pedir licença, com o usufruto total do seu corpo e espírito.
Ele entrou balançando a gravata nas mãos, tirando-a segura entre o polegar e o indicador, e sorriu ao vê-la deitada:
-Boa tarde, vejo que me esperavas!
-Como sempre. - Disse numa falsa alegria.
-Então e o que tens feito entretanto?
-Como? - Ela pareceu surpresa com a pergunta.
-Tens-te entretido na minha ausência?
Que raio de conversa era esta?
-Não sei a que se refere!
-Oh sabes sim ! - Ele permanecia atento ao seu rosto.
 -Fiz o que sempre faço. - Ela mantinha-se desconfortável.
Nicolas entrou vagarosamente no quarto, olhando atentamente para a mesa do computador. Observou com uma atenção analítica o computador desligado e reparou no telemóvel pousado perto dele. Pegou-o sem desviar os olhos de Marisa, usou o polegar para correr as chamadas recebidas e as mensagens e voltou a pousá-lo com um sorriso.
-Vamos ver um filme?
-Já tinha desligado o Toshiba. - Disse ela sem pensar.
-Ah, então tiveste-o ligado. Para quê?
Merda, como sou estupida!
-Tinha-me dito ao telemóvel que estava a pensar num filme, liguei-o para isso, mas ... eu não sei escolher!
Inteligente a miuda, pensou Nicolas.
-Bem,levanta-te!
Este era o modo como ele gostava de funcionar com ela. Autoritário, mandão, arrogante e por vezes lascivo. Mas era igualmente capaz de abrandar na sua arrogância, à medida que ela ia obedecendo.
Se porventura ela se mostrava difícil, sabia de antemão que ele iria endurecer cada vez mais com ela.
Obedeceu sem hesitar, e percebeu onde ele queria chegar pelo que se aproximou dele, enquanto ele ligava o Toshiba e desligava o telemóvel dela.
Assim que o Windows Vista entrou sentou-se e sempre a sorrir, avisou-a numa voz calma:
-Talvez seja melhor tirares as calças, afinal quero te sentir!
-Sentir?
-Exacto.Tira-as!
Isto era uma novidade, pensou ela. Já havia visto filmes com ele, mas regra geral era apenas com os seios dela nas mãos dele e o membro dela entre as suas mãos.
Sem calças e com uns boxers masculinos com a frase Just to High for u, sentou-se no colo dele, como tantas vezes já o fizera.
Marisa recordava-se perfeitamente da primeia vez que ele lhe mostrara um video porno no monitor de 17 polegadas. Na altura, havia rebentado o escândalo do video dos seios dela na escola e toda a escola em peso gozava com ela, pelo que no seu tom de voz calmo e neutral, Nicolas desmistificou o que ela mostrara, socorrendo-se de videos bem mais perversos e imorais que ela nem sonhava existirem.
Nesse dia em particular mostrou-lhe todo um conjunto de imagens que mesmo à noite, na suavidade do silêncio dos seus lençois ainda a marcavam, em flashes mentais consecutivos.
Recordava-se que apesar do pouco à vontade inicial, o entusiasmo de um adulto lhe mostrar livremente um filme proibido,levava-a a memorizar o maior de incidências possíveis do filme. Sem ele saber, ela mesma visitara diáriamente esse mesmo filme a sós.
Enquanto as primeiras imagens desfilavam diante dos seus olhos, nesse dia particular, sentiu pela segunda vez, depois de um célebre jogo do galo, as mãos dele frias, porém àvidas de a conhecer melhor.
Agora ele mudara o termo para sentir, mas ela sabia que o procedimento iria ser o mesmo.
Nicolas , com toda a paciência, escolheu um filme curto de oito minutose encostando os lábios ao seu ouvido. murmurou:
-Hoje estás com sorte. Outra rapariga resolveu acalmar-me!
Ela não respondeu, tentando com toda a atenção, descortinar a mensagem que recebera e decifrá-la. Com ele era sempre assim. Falava por meias frases, mantendo-a alerta e concentrada.
-Outra rapariga?
-Sim. Uma pobre criatura que se portou mal. Que estava a precisar de castigo.
Ela tremeu inconscientemente:
-O que ela fez?
-Desagradou-me.
Nicolas abriu-lhe violentamente as pernas, pousando decididamente a mão sobre o seu sexo, sobre os boxers.
-Entendo. - Respondeu ela à laia de melhor frase.
-Sabes como odeio quando me ocultam algo.
Ela evitou olhá-lo, mantendo-se sentada no colo dele de pernas abertas, tremendo mas sem frio.
-Tu não me escondes nada, pois não Marisa? - inquiriu apressadamente, porem de um modo firme.
-Não. - respondeu ela instintivamente.
Ele ergueu a mão direita batendo violentamente no sexo dela:
-Não senhor. Nunca te esqueças do senhor!
Ela assustou-se. nunca ele havia procedido assim com ela e sentiu a palmada com uma dor aguda. Sentiu que ele apontara bem á zona do clitóris.
Oh Meu deus, o gajo está possuído!
-Desculpe senhor.-Assim está muito melhor.
O filme ia avançando, com um casal em posições variadas. Os seios dela eram pequenas pérolas, escondidos e abrigados sobre as suas mãos , como conchas.
Debaixo dela, ela sentia-o a crescer, a ganhar a forma fálica monstruosa que tão bem conhecia:
-Levanta-te!
-Sim senhor.
Baixou-lhe as boxers, atirando-as para um canto e voltou a sentá-la:
-Estás a gostar do filme?
-Sim senhor. - Disse ela nervosamente.
-Deixa ver se é verdade! - Ele inseriu-lhe lentamente um dedo.
-Mentirosa!
Ela estava aturdida por todo este novo proicedimento. Jamais ele havia se comportado deste modo. Tinha que improvisar e levando a mão às calças dele , apresentou uma justificação:
-Isto está a desconcentrar-me!
-Queres vê-lo?
Ela não queria, nem estava minimamente interessada, mas dadas as circunstâncias não podia negar:
-Gostava! - mentiu
-Optimo. - Concordou sorrindo.
-Mas e se a mãe chega?
-Não vai chegar! - Disse ele tirando o telemóvel do bolso
Ele abriu o fecho e tirou-o para fora:
-Como te disse ele já teve acção hoje.
-Ah sim? - Retorquiu ela indiferente, quase a chorar
-Prova-o e verás!
Ela ajoelhou-se prefeitamente contrariada, enquanto ele ligava a Marlene e mantinha com a companheira uma conversa de circunstância.
Meu Deus, ele está a mostrar-me todo o seu poder e prepotência, estou tramada!
Pelo pensamento de Marisa passou a imagem da navalha inerte debaixo do colchão.
Isto um dia tem de acabar, pensou entre lágrimas!

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