quarta-feira, 27 de julho de 2011

Infidelius - Capitulo 10 (parte 2)



"Portanto tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, o mesmo é válido também para o tempo durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria força e sua própria intenção." - Hobbes
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Com a pequena camera de video cinzenta, nas mãos, fechou a porta do quarto à chave e sentou-se uns segundos, olhando-a como se fosse um réu perante um juiz.
Incrível como um simples objecto , sem grande importância para ele, o acusava e o fazia sentir sujo e inexplicávelmente infeliz. A palavra traição, assumia agora aos seus olhos como uma questão de ética demasiado importante, para continuar a ser ignorada.
No cimo dos seus dezasaseis anos de vida, Guilherme enfrentava um terrível dilema, que poderia acarretar consequências imprevisíveis para si e para o seu heroi. Caio!
Durante todo este tempo, em que fôra incubido da mais vil sacanice, pretendera mantêr as aparências, como se tudo não tivesse passado de um sonho mau.
Mas a verdade nua e crua, residia numa traição da pior espécie a todos que conhecia e agora os pequenos segredos, as inconfidências, que ele julgara sem qualquer valôr revelante, assumiam neste preciso momento uma bola de neve, que o arrasaria.
Não era para ele uma questão de fazer o certo e o errado, pois já havia perdido essa chance, quando aceitara o papel que lhe fôra incubido pelo seu tio. Agora era apenas uma questão de minorar os efeitos paralelos da atitude que tomou.
Guilherme segurou firmemente a câmera entre os seus trémulos dedos magros e reviu a mensagem do seu melhor amigo. Assistiu as vezes que pôde, sem quase respirar, num sofrimento de Judas imaginativo, para de seguida, deitar-se na cama, banhado em lágrimas.
Que traste de amigo ele havia sido até aí! Como poderia um dia explicar a Caio e Marisa que havia sido ele o responsável pelo boato que largara em todos os cantos da escola, de que elea era uma bruxa, uma gótica insana, uma louca.
Como podia explicar que nunca houvera mais algum culpado senão ele? Havia sido a ele que nicolas, o seu tio, entregara o video e o incubira de a difamar.
Na altura Guilherme não percebeu bem porque o deveria fazer, mas a chantagem do tio, que sabia dos seus devaneios homosexuais e dos charros fumados às escuras, falou mais alto.
A bem dizer, os charros não eram propriamente um problema, pois o seu pai, músico de profissão, tambem os fumava e nunca escondido ou às escuras. O que realmente o perturbava era o problema de os seus pais saberem que ele gostava de homens.
Bom, articulou entre lágrimas, na verdade ele não era totalmente gay. Pelo menos não tivera ainda contacto sexual com homens, mas como tambem não tivera contacto com mulheres.
Era um dilema difícil e na sua cabeça a questão da sexualidade proporcionava-lhe fortes dores de cabeça.
No fundo talvez não saiba o que sou? No fundo talvez as minhas dúvidas fossem iguais à de mil adolescentes, ou não seria?
Nunca teve coragem para debatêr o assunto com Caio, ou com os seus pais. Temia ser mal compreendido e sobretudo mal interpretado, o que afastaria o respeito de Caio por si.
Pensou nele uma vez mais. No seu amigo de longa data, companheiro de aventuras e de glória no Futsal.
Sem jeito para o desporto, ele sempre lhe dera a mão, sempre apostara nele, sempre o ajudara e sempre achava que ele era uma mais-valia para si.
Era Sábado e ele estava sozinho em casa, como todos os sábados. No entanto por precaução, sempre fechava a porta do quarto à chave, como tentativa de deixar os fantasmas e mêdos do lado de fora e até aí sempre havia resultado. Mas hoje, neste dia em particular Guilherme estava rodeado deles na sua cama, a segredarem-lhe ao ouvido o traste que ele era.
Desde que se conhecia que sentia uma atracção pelo amigo, uma atracção física e psicológia. Para ele, Caio era tudo o que ele gostava de ser um dia. Um homem decidido, forte, de corpo atraente e admirado por todos. Em contrapartida, ele era fraco, tímido, inseguro e agora ....Traidor!
Agora que os problemas começaram, era a ele que Caio recorria, numa prova viva do respeito e admiração que tinha por si. Então porque o traía?
Guilherme recordou o dia em que o tio, lhe pousou a mão na perna e num sorriso, naquele seu sotaque francês, lhe segredou:
-Sei o teu segredo, maricas de merda!
O coração como lhe parara e ficou branco como a cal. Como ele poderia sabêr isso?
-Não te adianta negar, sei bem os filmes sujos que vês e os charros que fumas. Diz-me, divertes-te a masturbar a vêr homens nus?
Ele sentiu falta de ar, as pernas tremiam-lhe e a cabeça principiara a andar à roda...Como ele podia sabêr isso?
Recordou com nojo, a mão dele a subir na sua perna, a tentativa de ele se mostrar indiferente, quando na verdade não conseguia reagir.
-Gostas disto não gostas?
O olhar aflitivo à procura da mãe, que estava a preparar bebidas na cozinha, o olhar aflitivo para o lugar vazio na sala do seu pai, um socorro inaudível pelos lábios perdido, sem ousar encarar o seu tio:
-Meu caro sobrinho, tenho a intenção de nada contar. Será um segredo nosso!
A mão dele sob o seu sexo, sob as suas jeans, os seus dedos a tentarem vêr se ele estava excitado.
-Que tenho de fazer? - Perguntou rêndido.
-Apenas um favôr. Nada demais, uma coisa mínima...
Os dedos dele como ferros, sob o volume nas calças. porque a mãe não aparecia? Como podia se levantar se mal conseguia falar:
-Que tipo de favor?
-Algo leve. Para fazeres na escola!
O cérebro parecia que lhe parava. Na escola? Que podia ele fazer na escola?
-Não entendo.
-Irás entender.
E realmente nese dia ao fim da tarde entendeu todo o plano. Recordava-se agora, num ar de revolta que até gostou do que lhe fôra proposto.
Guilherme desconhecia por completo a Marisa e não lhe custava minimamente dizer mal de quem quer que fosse, logo que servisse para desviar as atenções dele e salvar o seu segredo junto dos pais.
Na verdade, pensou de seguida, havia agido mal. Havia sido um traste e inevitávelmente magora uma miuda inocente que nada lhe fizera. Nunca compreendeu o porquê de a difamar delhe massacrar a reputação, mas agora que punha em risco a felicidade de Caio, tinha de agir.
Sim, ele pecara e pagara o seu preço. Ele já tinha feito a parte que prometêra e como tal, já nada o obrigava a nada.
Olhou de soslaio para a camera. Por linhas paralelas, talvez o destino lhe tivesse a dar uma segunda oportunidade e afinal se já havia traído um amigo, que mal tinha em trair um tio?
Sim, era isso! Finalmente agora tinha uma oportunidade! Era certo que o seu tio se vingaria, mas se Caio e Marisa estavam dispostos a enfrentá-lo, porque ele não estaria?
Sorriu como uma criança num parque de diversões e nu, sentou-se diante do PC. Iria emendar as coisas de uma vez por todas!
Ele que tentara confundir Caio, ao verem Nicolas, com a insinuação de que ele era outra pessoa, que não o conhecia, agora iria repôr toda a verdade e talvez assim reconquistasse o respeito por ele mesmo e
Acima de tudo, esperava nunca ter de enfrentar Marisa, nem de lhe entregar o video, mas se por qualquer razâo o tivesse de fazer, recuperaria a sua vontade de vivêr.
O que nunca contara ao amigo era quem realmente Nicolas seria como homem. Segundo a irmã, uma pessoa perigosa, habilidosa e obscura, o que provarar que tambem ela estaria sob a sua alçada.
Havia conseguido mentir ao tio, sobre a conversa tida com Caio na esplanada, e ainda bem que o fizera.
Na guerra e no amor vale tudo e agora o tio deixara de ser seu aliado e passara a inimigo, só tinha de saber equilibrar as coisas e tentar minorizar qualquer prejuizo que inconscientemente tivesse criado ao seu amigo.


Se por qualquer razão a fuga não resultasse, ele agiria per si!

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