segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Napoleão, Bom Nas Partes. - Acto 1




ACTO 1

Sob um palco imenso e azulado, com o cenário de um castelo pintado, o foco de luz incidia sobre um pobre homem a varrêr a entrada do castelo. Calado, completamente mudo, indiferente ao que passava em seu redor o lacaio apenas varria.
Ao centro uma personagem, só com a cara iluminada , anunciava o que seguiria, em forma de poesia:

Chegavam os Franceses a granel,
na frente o General no seu no seu belo corcel
Cavaleiros de Napoleão
em número de legião.

Seguiam disciplinarmente o seu líder,
o seu grande general
Que ao ver o lacaio que varria
Cessaram o trote que os trazia.

Do alto da sua montada o general Francês
com receio de não ser por tal lacaio compreendido
tentou arranhar o Português
Que contudo mais soava a Chinês!

Um foco de luz, incidia agora sobre o comandante e seu braço direito, nas montadas erectos e imperturbáveis. Tirou o chapéu da cabeça, o general, em sinal de cortesia, e numa atitude cavalheiresca, iniciou o diálogo:
-Boas tarrrdes senhorrr....
-Boas tardes fidalgo - respondeu o lacaio sem parar de varrêr.
-Sou o General Junot
-Prazer, senhor Junô!
-Não, meu senhorrr...Junot, com T. Com Tê!
-Ah! É como a minha esposa.
-Como?
-Bernardete. Com Tê!
O general abana a cabeça:
-Bien, não percebi.
-A minha mulher? nem eu, senhor fidalgo. Nem eu a percebo!
-Não, não é isso. Bien, allors quero falar com o rei!
Sem levantar a vassoura de palha do chão, o lacaio responde sem hesitação:
-Não está cá!
-Mas onde estarrr?
-Sumiu, fugiu...
-Fugiu?
-Para o Brasiu!- Responde o lacaio em tom de samba.
O general, olha preocupadamente para os que o seguem e irritado interpela o lacaio:
-Eu sou Junot, General ao serviço de Napoleão Bonaparte.
-Ah,ah, que nome curioso. Bom nas partes! - Ri o lacaio parando de varrêr.
-Non. Bonaparte...comTe.
-Você é que sabe onde ele é bom...
-Mais nom...
-Mais sim. Afinal ele é seu comandante.

Reacende o foco de luz na face da personagem, que descreve o que vê em poesia:

Entra uma personagem feminina, a dona Bernardete
forte, de lenço na cabeça e buço sem toilette
Ao vêr o marido, sem trabalhar
Logo principiou a ralhar...

Apaga-se uma vez mais o foco de luz na personagem, para acendêr um sobre a Bernardete:
-Que fazeis agora meu mandrião? Se nem para varrêr, tendes condão!
-Não foi culpa minha, foi do bom nas partes.
-Não me digas que estás a dar letra a estes trastes - Aponta bernardete para os cavaleiros.
-Perdão nobre dama, eu serrr o general Junot...
-Ai o marmanjo, a brincar ao generais. Que quer daqui senhor Junô?
-JunoT com TÊ!
-O quê?
-Não imporrrta! - responde o general irritado.
-Atão se não importa, passe lá depressa, que este  homem têm muito para varrêr!
-Mas eu quererr falarr com Rei.
-Não está cá! - Assegurou a senhora.
-Viu, eu disse-lhe! - Assegurou o lacaio.
-Está no Brasil. - Concluiu a senhora.
-Então nós irrr lá!
-A cavalo? - indagou o lacaio.
-Mais oui. Napoleão Bonaparte mandou!
-Pode ser bom nas partes, mas no cérebro não! - Advertiu o lacaio
-Quem é bom nas partes? -indagou a senhora.
-Napoleão, o Líder de França! - Advertiu o General
-Ah, a terra dos perfumes... - disse o lacaio sorrindo.
-Dos lenços de sêda - Acrescentou Bernardete sonhadora.
-Parem! Digam como irrr a esse brasil.
-De barco! - assegurou o lacaio
-Barrco?
-Sim. - Confirmou Bernardete
-Mas então serr longe?
-Uiii, ondas e mais ondas! - Avisou o Lacaio
-Mas eu não saberr nadarr!- Constatou o General
-Coitadinho do Franciú! - Gemeu o lacaio.
-E agorrra?
-Agora volte para a França, que daqui não leva nada!
-Mas Napoleão quererr Portugal!
-Estamos mal. - Assegurou o lacaio.
-Como?
-Aqui está mal para esse napoleão querer. Não temos pão, não temos rei, não temos trabalho! - Assegurou Bernardete.
-Fala por ti, que eu estou a varrêr- Levantou o lacaio a vassoura.

Volta a luz para o personagem que a sorrir, atirou em poesia:

Vieram a cavalo, os nobres Francêses para o rei poderem vêr
Pobre lacaio que só queria o chão do Castelo varrêr.
Souberam os Franceses que o nobre rei fugiu para o Brasil
Onde surgiria o carnaval e delícias mil
Mas pobre do Junot, com Tê, que não sabia nadar!

Acende a luz para todo o plateau, onde os cavaleiros cantam:

Pobre generalzinho
Traído pelo Lusitano reizinho
De tão ousada viagem
Apenas um lacaio, nem um pagem!

Um pobre coitado que só varria
Nem sonhava a loucura que seria
Se fidalgo ele fosse,
Junot um duelo teria!

E agora que faremos
e a Napoleão que diremos
Uma viagem em vão
uma fuga sem razão!

Aproxima-se o lacaio, em jeito gingão, e de dedo erguido avisa:

Nesta terra tudo é diferente,
Sem rei agora,para guiar a gente.
Manda a mulher trabalhar
resta sabêr quem vai pagar!

Do outrora Portugal Colonial
Só vai restar um imenso Carnaval
Aqui o rei não vai nú
Aqui os Franceses levam um pontapé no cú!

Ri Bernardete de tão furioso general, peran te a argumentação do lacaio.
Cai o pano neste final de primeiro acto


(Continua...)


4 comentários:

  1. Ri a bom rir com o varredor e o Junot com T.
    Lol és impagável no bom humor e gosto bastante desta forma de registo.
    Levas mesmo uma pessoa a imaginar toda a peça.
    Brutal.

    Anita :)

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  2. Contente por teres gostado, foi apenas um devario.

    Obrigado pela visita!

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  3. Q saudades tinha da sátira das tuas peças!!! Subiu o pano e já não me movo daqui! Nem q leve uma vassourada!!
    Beijinho em ti
    Inês

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  4. E eu com saudades de as escrever. Feliz que tenhas gostado e deixa-te ficar por aqui...

    Beijufas!

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