quarta-feira, 25 de maio de 2016

Devaneios à meia-luz estourado!

SER EXISTÊNCIAL...



Ser Existêncial.


Fiz amor contigo....
pousei-te sobre o lençol branco, imaculado
e te tomei, usei e abusei,
o paraíso criei,
em mil beijos e afagos,
onde dormimos abraçados.

Depois o coração aumentou de tamanho
foi crescendo e crescendo
invadindo espaços, tonando-se bola incandescente
e explodiu numa furiosidade de cores!

Dele, saíram pequenas pequenas partículas
pequenos nadas que circularam à sua volta
arrefecendo com o movimento orbitral,
e viraram planetas frios e cinzentos.

Então o coração, agora bola de fogo foi descendo
e saiu-me pelo umbigo, rasgando o meu centro do Mundo
e pousou no meu colo, pedindo-me abraços e beijos,
com medo, assustado da Divina luz que o recebia.

Lentamente foi ganhando pernas e braços
e eu, seu servo e criado, gerador daquele afago
fui-lhe ensinando as coisas da vida,
a língua dos homens, o amor aos pedaços.

Serenamente foi crescendo, trilhando seu caminho
entre nós, Homens, expoentes máximos da evolução
Por ser meu e de mim ter nascido,
calculei que lhe tinha de dar nome, uma herança futura
uma corrente que o prendesse a mim, sempre
como personagem criada nos meus enredos
quem sabe, fruto dos meus segredos.

Chamei-o de menino...De menino Jesus.
Foi um nome apenas que me lembrou Amor.
E ele gostou e o coração agora menino, sorriu.

E do chão brotaram flores
de fragâncias mil e dos céus
caíram amores, em gotas de orvalho
E nasceram cores, arco-íris do olhar
da fome se livrou o lavrar,
o sustento da alma, para nós homens
deo menino Jesus corado.

Levei-o ao colo pelo mundo,
segredava-lhe os meus pensamentos, os meus receios
as minhas loucuras, os meus devaneios.
A tudo ele dizia sim...Compreendo!

Já grande, lá pela vigéssimo ano
o menino era já quase senhor
Sabedor das coisas da vida,
conspurcado com os Homens
Saciado de Humanidade
Dono de qualquer moralidade.

Era já Superior, a caminho de ser Doutor,
e eu olhava e já não o via,
já não era o menino, o meu menino Jesus,
Era vida, era ar, era sangue, era diferente.

Escolheu as companhias, que a má sorte lhe deu
eram treze os seres errantes, aos olhos de outros
eloquentes e pensantes,
Não tinham o nome grande,
Pedros, Paulos e outros inventados.

Já corria e não caminhava,
já falava e não cantava,
era dono de si e já não dono de nós
Do pio da andorinha, fez voz.

Era trovão! Embaraço! Voz de Bagaço.
Chamavam-lhe citadino, senhor do dinheiro.
E o coração conheceu a dona Dor,
por nós homens magicada,
E os meus sonhos se foram.

já não cantava os teus feitos pelo Mundo
já não sonhava a tua alma, feita milagre
Perdida a tua aura Celestial
eu caminhava agora, quase defunto.

Era a sombra do amor que deu tudo,
que criou tal menino,
que o ensinou a andar, falar e cantar
e estava agora exausto....

Vazio, perdido, só!

Queria, o meu ex-menino me chamar de avô
pois do regaço da dor,sob o olhar do amor embevecido
nasceu o filho varão Ódio.
Uma criatura de seis braços....De olhos irados.
E eu resignado, aceitei e chorei.

O ser Angelical, tornou-se assim Existêncial!

Virou pó dos nossos dias, na dureza da evolução e de tudo se fez silêncio.



4 comentários:

  1. Ui! Um fantástico e realista retrato/percurso dos homens. Da inocência perdida.

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  2. Tão bonito, tao esperançoso e triste, desesperado ao mesmo tempo...
    E somos realmente assim, não é nascemos puros e depois vamos sendo talhados pelo Homem, às vezes o Amor só não chega para nos livrar de todo o mal...
    Comove-me isto tudo...
    Beijinho em ti, dos grandes!

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