sábado, 25 de setembro de 2010

Capitulo 5 - Parte 4



Um vago silêncio rodeava minúsculo quarto, desguarnecido de conforto e bom gosto. Deitado, vestido desde que chegara da rua, Marco permanecia estático, de olhar fixo e suspenso num ponto invisivel do tecto.
Os seus pés cruzados sob o lençol da cama, descalços, evidenciavam uma peuga remendadas no dedo grande do pé esquerdo e descreviam um bailado silencioso, em cìrculos vagos pela cama.
Desde que chegara da rua, que o jovem ali permanecia pensativo, meditando sobre os acontecimentos da noite passada.
Sabia perfeitamente que o " buraco" já não seria seguro e a contragosto, socorreu-se do seu quarto, raramente usado.
Porém o que realmente perturbava o espìrito confuso do sujeito, era a novidade da entrada de Rita no "jogo".
Tudo bem que até agora ele tinha-se safado, tinha aprendido as regras de jogo, deixado de ser a bola de futebol das duas equipas em confronto, para passar a ser a raposa numa grande caçada Medieval.
Nunca entendera o Mundo, mas aprendera a tentar agir com ele, e sempre gostara das coisas, preto no branco.
Na verdade,pensou, a situação até era para ele bem fácil. Uns homens maus fizeram-lhe coisas más, mexeram-lhe na cabeça,baralharam-no, castigaram-no, mas ele foi forte e astuto e num momento de fraqueza do inimigo fugiu. Depois há os homens estranhos, eles...Os que tudo sabem e nada fazem! Ficam a ver, ficam a estudar, a querer saber ...O que eles podem querer saber?
De repente, tudo fica baralhado!
E é uma pena para a rapariga, pensou!
Ele observou quando a levaram, ou maus, os trastes. Tentou resolver, mas o pai dela complicou, ( Que mão dura ele tinha), depois o acidente, ele percebeu que ela escapava, respirou fundo, precisava de ganhar tempo, para ver se Eles apareciam. Mas ninguem veio, então iriam eles seguir o Jeep.
Aleatóriamente deu indicações falsas, como vira nos filmes policiais na TV, rodaram algum tempo em circulo, e ele sem largar de vista o espelho do carro, percebeu que não....que não havia ninguem a segui-los. Só faltava calar o velho do punho de rocha, viu o barracão e improvisou.
Tinha tudo controlado. Há sua maneira, claro! Mas tinha tudo conrolado e de repente ela aparece, com a marca que Eles costumam usar, quando querem apagar a memória dos ultimos tempos.
Aqui, ele pensou...Porque queriam eles apagar as memórias dela? Que ela lhes contou? Falou-lhes do Buraco?
Ele agora corria verdadeiramente perigo, até porque ela sabe da existência do seu Tesouro, daquilo que eles querem, do caderno!
O seu estado meditativo assumia agora um ar de terror e incredulidade. Como poderia ele relacionar-se com ela, agora que ela tinha sido "conquistada"?
Tantas duvidas, tão poucas certezas e cada vez mais, ele se sentia verdadeiramente em perigo.
De repente um pensamento cruzou-lhe a mente. E se ela era um isco para o apanhar. Oh, como fora ingénuo! Claro que era isso que eles queriam! Só assim fazia sentido! Que palerma ele fora.
Num salto aterrado, calçou-se á presa, manteve as luzes apagadas e tentando não emitir qualquer ruido, rodou pacientemente a maçaneta da porta, encostou-se á porta e espreitou cuidadosamente pela frincha enreaberta.
O corredor permanecia escuro e sem movimento aparente. Sem abrir a porta, concentrou o olhar nas sombras da parede, tentando descortinar alguma saliência, ou algum vulto.
Nada de anormal parecia existir no corredor, mas mesmo assim, ele sabia o que os seus inimigos eram capazes.
Respirou fundo e fechou a porta devagar, depois avançou obstinadamente até à pequena janela sem persiana ou cortina e aninhando-se estudou a rua deserta, iluminada por ténues focos de luz amarelada dos candeeiros publicos.
Dois carros parados, aparentemente estacionados e vazios. Num esforço de concentração, estudou as matriculas e reparou que eram "clientes" habituais daquela rua.
Sentou-se uns segundos no chão e esfregou a pouca barba que lhe crescia no queixo.
Tinham de estar por aí fora. Tinha de ser. Ele havia-os conduzido a mais um esconderijo. Estavam apenas à espera para o apanhar.
Porque ele não fora cuidadoso? Oh claro, foi ela. Foi ela que o entregou e agora?
O suor escorria-lhe abundantemente. O pânico instalava-se como uma locomotiva no seu coração, acelerando-o e colocando-o num compasso irregular de bombadas violentas. Todo o seu peito latejava. Que podia ele fazer?
Descontroladamente , sem se erguer por completo, caminhou de novo até à porta, e aguardando uns segundos para ganhar coragem, abriu a porta e sem pensar desatou a correr pelo corredor, com as abas do casaco a esvoaçarem, quais asas de um milhafre.
Nada o poderia deter agora, ele sentia-se rápido, unico, impossivel de ser apanhado. Num ritmo acrobático, desceu os degraus dois a dois e sem perder a concentração, avançou pela porta principal que se encontrava entreaberta.
Controlando a respiração, dirigiu-se para a esquina mais próxima, sem olhar para trás, sem ver o que quer que fosse. Na cabeça dele, só existia uma unica ideia....Correr!
O ritmo era desordenado, inconsistente, mas sempre rápido. Todo ele cambaleava à medida que , forçava violentamente os seus sapatos pretos a galgarem metros e metros de passeio. Mas temia olhar para trás.
Tal corrida desenfreada, originou a que, ocultos da vista, encobertos pela penumbra de um edificio grande, dois sujeitos atléticos, colhidos de surpresa pela reacção do jovem, principiasse igualmente a correr no seu encalço.
O Som dos seus passos eram perfeitamente audíveis pelas ruas desertas, excepto para o Marco, que tomado de pânico, não prestava atenção a mais nada que não fosse o ritmo violento imposto ás suas pernas.
Como o jovem não era atleta, vinte minutos depois o corpo começava a dar de si, o ritmo cardiaco foi acelerando e a velocidade dos passos baixando.
Marco atravessara já dois quarteirões , dobrou a ultima esquina a caminho do terceiro, quando o pé esquerdo escorregou ligeiramente na calçada, desiquilibrando-o e obrigando-o a usar uma trajectória estranha. Ao dobrar a esquina, marco choca violentamente com Ana que vinha a caminhar pensativa, atirando-a ao chão.
Surpresa ela tenta refazer-se do embate, levantando-se observa o corpo inanimado no passeio :
-Por Deus, só me faltava mais esta!
Ignorando por completo, o sangue que lhe escorria do nariz e dos lábios, ignorando igualmente a violenta dor de ombro direito, Ana ajoelha-se de Marco e tenta reanimá-los, quando os dois sujeitos surge, estacando abruptamente:
-Chamem uma ambulância, ele não dá sinais de vida!
Os dois homens entreolharam-se e discretamente apalparam a arma escondida no coldre perto do sovaco.

---------------Fim parte 4

1 comentário:

  1. Não sei quantas partes li da história, mas sei que estou a gostar muitíssimo!
    Parabéns!

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