quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Blue Moon




Meia noite e o clube Blue Moon, resplandescia de vida, na metrópole de Chicago.
Vivia-se os ultimos dias do Blues e o rock and roll espreitava.
Emma Star, a dona do Clube Blue Moon, fazia contas á vida e assustava-se com os ventos negros que se aproximavam.
Durante a lei seca, havia sobrevivido e erguido um verdadeiro Império. Adorada pela Máfia, adorada pela policia de Chicago, mantinha a ténue fronteira dos atritos bem segura.
Definia-se como uma trapezista numa ténue e imaginária linha de equilibrio, e graças á sua mestria e diplomacia conseguia encher o clube todas as noites.
Confiara o seu talento em Jerome Day Lee, outrora um trompetista da moda, agora perdido em alcool e blues. Mas o seu talento ainda residia, graças á inspiração e aposta de Emma.
Era nos dias em que o clube enchia que Jerome tocava com toda a alma que tinha. Não raras vezes a prória Emma, sentia uma lágrima escorre-lhe pela face ao ouvi-lo.
Presença assidua do seu clube, era Jim Jim Jingles o chefe da máfia e padrinho da abertura do clube.
Jim Jim, considerava-se acima de tudo o patrono das artes e amava o som dos Blues. Não dispensando o Champagne, que àvidamente Emma lhe fazia chegar à mesa.
Jim Jim e os seus capangas, sentavam-se a um canto do clube, indiferentes a quem frequentava.
Mas Jim Jim era um cavalheiro, até na arte de se vestir. Sempre de fato imaculado. Sempre de de rosto bem tratado. Nascera para ser Líder e apesar dos seus gestos calmos, era frio e calculista.
Regra geral, na outra ponta do Clube, sentava-se Tony Shark ( ou Dead Tony como lhe chamava Jim Jim).
Tony era bem mais novo que Jim Jim, louco por aescender ao poder na Familia e tomar conta do lado Oeste de Chicago, mas Jim Jim não o iria entregar de bandeja.
Os dois grupos eram vigiados atentamente por Samuel Brick ( ou Sammy the kid, como lhe chamava Emma), detectice da policia de Chicago e tambem ele um aspirante ao sucesso de prender o grande Jim Jim.
Blue Moon era assim um rastilho seco de pólvora, só precisava de uma chama ou faulha para rebentar de vez., e por incrivel que pareça, Emma geria com pinças toda a situação, sem revelar alguma tensão.
Mas agora um novo desafio espreitava. Se Jerome já estava ultrapassado, com a nova tendencia que surgia nos rádios, iria definitivamente acabar. Emma tentara recrutar duas cantoras as " Golden Singers Sisters", mas o resultado tinha ficado aquém do previsto, mesmo que cantassem, com pouca roupa.
Era tudo uma questão de hábito e o publico habituara-se ao trompete de Jerome.
-Emma, estou arrasado e só agora comecei.
-Não comeces Jerome! Hoje estou sem paciência para choros...
-Não é isso Emma, não estou em forma.Eles já notaram.
-Jerome, eles vem aqui para beber e relaxarem com as meninas. Não te rales com isso.
-Sim, tens razão. Mas sinto-me a perder a força!
Emma lançou um rápido olhar para a miuda que segurava o tabuleiro do tabaco:
-Rose, chega aqui!
Como uma gazela, serpenteando por entre os pés perdidos, que deambulavam pelo chão frio do clube, a miuda morena, alcançou com precisão impressionate o pequeno balcão espelhado:
-Chamou Patroa?
-Sim ouve, dá-me um desses Camel ( entregando o maço a Jerome). Está a correr bem a venda?
-Nem muito. O costume, suponho.
-Ouve miuda, o Jerome está numa crise existencial. Aquilo que cantas-te ontem quando fechamos o clube...
-Sim?
-Eras capaz de repeti-lo?
-Sim. Hoje quando fecharmos posso cantar de novo.
Emma soltou uma gargalhada bem audivel e ripostou:
-Não querida. Falo em cantares agora, ali no palco.
-No palco?
-Exacto.Não era o que querias? Tens a tua chance.
-Mas o Clube está tão cheio.
-Precisamente por isso. O Jerome hoje não se safa, e se não á atracção aqueles buldogs começam a trocar piropos e isto corre mal.
-Mas não estou preparada.
-Claro que estás, basta mostrares um pouco as pernas e as mamas se for preciso.
Incrédula a jovem nem pestanejou. Pousou o tabuleiro no balcão e ofensivamente protestou:
-Não sou uma miuda do Champaghe e de colo entendes? Tenho a minha virtude intacta. Não sou qualquer uma. Despeço-me!
Emma sorriu arrependida, e agarrou levemente o pulso da jovem:
-Desculpa, hoje estou nervosa. Esquece o que disse. Canta só hoje, por favor!
-Sim, que diabos, canta comigo miuda. Eu acompanho-te ao trompete. Vamos fazer algo unico.
Danny Rose suspirou e encolhendo os ombros, sentenciou:
-Imaginemos que aceitava e corria mal. De certeza que querias o teu publico enfurecido, Emma?
O ar meditativo da dona do Clube foi interrompido por uma voz profunda e ponderada:
-A miuda tem razão no que diz. Mas uma chance não deve ser desperdiçada.
Os seis olhos se viraram para o estranho de chapéu cinzento e gabardine.
-Desculpe? - Indagou á laia de desafio Emma.
-Só digo que se a miuda tem talento, que o exiba.
-Com quem tenho o prazer de falar?
O atlético sujeito sorriu, tirou o chapéu pousando-o discretamente no balcão e respondeu, em tom irónico:
-È curto o teu prazer! Jonh Menphis, de Nova York.
-Muito bem Senhor Menphis, na Big Apple tem o costume de se meterem nas conversas?
-Frequentemente, Dona Emma.
-Como sabe quem sou?
-Não seria musico se não soubesse.
Jerome exibiu um sorriso amarelo, perante a afirmação do estranho e interrompeu:
-Musico, ah? ès muito novo para ser musico. Ou és um desses charlatões do rock?
-Charlatões?
-Sim, esses miudos armados em musicos, sem conseguirem ler uma pauta de musica.
-Bem, eu sei ler pautas.
-Eu sabia. Livra-te dele Emma. Só vai trazer sarilhos!
-Calma Jerome, ninguem vai trazer sarilhos ao meu clube. Que instrumento tocas?
-Piano.
-Ah piano...Pfff
-Tranquilo Jerome!
-Pois bem, como vês eu tenho um piano no palco. Se fores tão bom musico, como és de garganta.
Menphis sorriu, deu mais dois goles de Gin e retorquiu:
-Podes apostar todas as tuas joias!
-Tocas o Blue Moon?
-De olhos fechados.
Emma riu a bom rir pela segunda vez nessa noite. Olhou de soslaio para o ambiente do clube e reparou no olhar fixo de Jim Jim em Tony. Estava a ferver o ambiente. Precisava de um balde de gelo....
-Ok grande senhor de Nova York. Vais tocar o Blue Moon e tu Rose vais cantar.
-O quê? Eu pensava que ja tinha deixado bem claro...
-Miuda, nunca negues uma opurtunidade.
Rose olhou fixamente o olhar candido e sereno do estranho e sem se dar conta, confirmou:
-Ok, vamos lá!
Deliciada Emma levou a mão ao ombro de Jerome e segredou:
-Meu lindo, vai anunciá-los. Vamo-nos rir um pouco.
-Isto é errado Emma. Isto é muito errado!
-Vai por mim Jerome. Vai valer a pena.
Encolhendo os ombros o trompetista, dirigiu-se ao palco e pegando no microfone anunciou:
-Senhores e senhoras, directamente de Nova York, o pianista Menphis e a nossa jovem promessa Rose, para vocês em exclusivo aqui no Blue Moon. E adivinhem, Rose vai cantar precisamente o tema Blue Moon.
O publico apaludiu, enquanto Samuel Brick, o detective de chicago observava atentamente o rosto do estranho, Já o vira em qualquer lugar e não conseguia compreender onde. Disfarçadamente, foi caminhando até perto do palco, ondde escolheu uma pequena mesa redonda, livre e sentou-se inquieto.
Aos primeiros acordes do piano, Rose transfigou-se e assumiu a pose de uma diva, sob um redondo de luz no palco, começou forte e impiedosa:


Blue moon,
You saw me standing alone,
Without a dream in my heart,
Without a love of my own.




Ao piano Menphis, fazia os dedos cairem pesadamente certos no tom correcto e a um canto, escondido atrás das grandes cortinas negras do palco Jerome acariciava a Harmónica, lembrando-se de outros tempos e outras Eras, onde tudo era inocente e vago.
Alarmado pela presença, tão perto de Brick, Jim Jim aconselhou um dos seus capangas a ter a mão preparada para sacar da arma.
Tal gesto alarmou Tony, que momentos antes havia trocado uns piropos com o capanga, e sem receios abriu o casaco, agarrando a coronha da sua arma, preparado para a sacar.
Emma apercebendo-se do movimento de Tony, aproximou-se dele e tentou em vão acalmá-lo
No palco Rose, seguia segura:


Blue moon,
You knew just what I was there for.
You heard me saying a pray for
Someone I really could care for.




A tensão era grande, os receios estavam no limite. Temendo ainda o pior, Emma levantou-se com um beijo na face de Tony e foi tentar juntar-se a Jerome, para trás do palco.
A voz de Rose enchia a plenos pulmões o ambiente:


Blue moon,
You saw me standing alone,
Without a dream in my heart,
Without a love of my own.




Jim Jim mantinha o olhar atento em Brick, que por sua vez concentrava-se em Menphis. o pianista, que era observado por Jerome, angustiado por o ver tocar tão bem Jerome que era desejado por Emma, que era observada pelo capanga de Jim Jim, que era observado em todos os seus musculos por Tony Shark.
A nota final aproximava-se, Rose rejubilava de talento, segura e formosa. Seguia-se as ultimas frases:


Blue moon...
Without a love of my own.




E Rose acabou, nuns apalusos nervosos mas sentidos.
Deliciada Emma aproximou-se do palco para cumprimentar e felicitar os seus novos talentos, quando inesperadamente Menphis repara no distintivo a brilhar de Brick, e sem perder tempo, saca de uma arma, escondida por baixo da gabardina, perto do cinto e dispara em direcção a Jim Jim, atingindo-o.
Nesse pronto momento,Brick saca da arma, e atinge Menphis. Que proporciona que Tony saque da arma, e dispare para o guarda costas de Jim Jim, atingindo-o no peito.
Porem ao ser alvejado, o Guarda costas dispara acidentalmente, acertando Brick nas costas que por suas vez ao cair, dispara uma ultima vez.
Passos, gritos e horror sucedem-se em atropelos. Mesas são viradas, clientes são empurrados.
Deitada no chão, Rose esgueira-se para trás do piano e algures no meio do Salão do clube, começa um pequeno incêndio.
Jerome atónito, observa o corpo ensaguentado de Menphis caido no palco. Observa a confusão, o caos e subitamente, vislumbra o corpo de Emma tombado perto do palco. Desesperado, avança em direcção a ela, limpando o pequeno fio de sangue que escorria dos lábios dela,abraçando-a:
-Eu disse que era um erro. Esse gajo cheirava mal.
-Pois disses-te meu doce Jerome. Pois disses-te!
-Emma, estás ferida. Balearam-te.
-Oh Jerome, o que eu fui fazer!
-Aguenta Emma, a ambulância não tarda. Raios me partam se compreendo o que se passou aqui!
Emma sorriu timidamente e perguntou:
-A Rose...Está bem?
-Sim. Está. A miuda safou-se!
Por uns segundos os dois fitaram-se longamente, depois, sentindo a voz fugir-lhe, Emma pediu:
-Tens a tua armónica?
-Sim Emma, está aqui.
-Toca para mim, como sempre tocas-te...uma ultima vez.
De lágrimas nos olhos castanhos, Jerome nem hesitou. Pousando a cabeça dela no seu colo, tocou um Blues conhecido, na sua velha e gasta Harmónica até Emma deixar de respirar.


FOTO DE : Pedro Sacadura - http://olhares.aeiou.pt/code_red_foto3576058.html
Blue Moon ...Musica.....http://www.youtube.com/watch?v=4218R-gBmts

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