sábado, 23 de outubro de 2010

Esquizofrénico Capitulo 6 - Penúltimo Capitulo - Penúltima Parte


Como se tivesse sido bruscamente despertada de um sonho, Carina abriu os olhos apressadamente e nervosamente consultou o rosto erugado do pai de Rita:
-Ela não está no quarto?
-Quem?
-A Rita. Não está no quarto.
-Mas então onde poderia ela estar?
-Receio que pode estar metida em problemas.
Num esforço sobrehumano para quem acabara de despertar de um sono rápido mas profundo no sofá da sala de estar da amiga, ela tentou raciocinar:
-Custa-me a acreditar que ela saísse sem dizer nada! Mas a verdade é que desde que esse Mauro surgiu, que ela anda estranha.
-Mas ela saiu. Não podia ter sido raptada, a janela não foi forçada e nós não saimos daqui.
-Para onde ela poderia ir?
Durante um lapso de tempo infindável, os dois trocaram um olhar compreensivo e sem dizerem qualquer palavra, levantaram-se, apagaram a luz da sala e sairam sorrateiramente pelas traseiras. Se Rita tinha saído, 
só podia ter ido a pé, não devia estar longe e o progenitor tinha a sensação que se se mantivesse alerta, descobriria onde ela estaria, pelo barulho das sirenes da policia.
Alheia ás sirenes da policia, Rita agia sem reflectir ou pensar muito nas suas acções. Sempre fora de decisões rápidas e segundo o seu pai, imprudente por natureza, mas hoje e agora, ela sentia que tinha de estar aqui! 
O abandonado hospicio não lhe ofereceu muito mistério no modo de entrar e a custo, ela mantinha-se quase de joelhos, evitando que alguma fracção de luz a denunciasse perante o mundo de sombras que a cercava.
Na verdade ela não possuia qualquer plano, nem tão pouco o conhecimento necessário das instalações, para saber onde se dirigir. Curiosamente, ela não estava minimamente interessada no onde, mas no quando.
Sabia que tin ha de chegar a algum lado e rápidamente. Algo no seu interior a aconselhava a isso e então como uma predadora da noite, ela seguia os sons dentro da casa, aproximando-se como podia da voz que rasgava o silêncio do Hospicio.
A arma que trazia consigo não lhe oferecia segurança, mas garantia-lhe uma hipotética vantagem sobre um imprevisto. E esta era uma noite de imprevistos!

As sirenes surgiam cada vez mais perto e no piso superior, os dois capangas de Jules , dirigiram-se apressadamente para a pequena janela, enquanto que pela primeira vez nessa noite, Jules exibia alguns sinais de receio e inquietação no seu rosto redondo.
Mauro, que não largava de vista a recente amiga baleada e tombada no solo poeirento da divisão, calculou que seria a hora de agir.
Não poderia obviamente enfrentar os três, e miuto menos seria capaz de tirar alguma ntagem num confronto fisico. Não possuindo qualquer arma perto, calculava um modo rápido e eficiente de agir.
Claro que uma pessoa no seu normal estado mental, hesitaria perante a situação e / ou tentava apropriar-se de uma das armas dos capangas, mas Mauro não era própriamente uma pessoa normal e quando os viu com receio e desorientados perante os sons das sirenes, lembrou-se de um primo com quem convivera grande parte da infancia e juventude.
O primo era autista e perante situações de stress ou de ameaça, destava a correr, saltar enquanto berrava a plenos pulmões. 
Subitamente, para Mauro isso pareceu uma boa tática e sem hesitar principiou aos saltos e a berrar a plenos pulmões, com toda a força e furia que a sua garganta aguentava.
Perante a subita e inesperada reacção de Mauro, os capangas hesitaram entre tentar calá-lo, ou continuarem a prestar atenção aos jardins circundantes.
Estupefacto ,Jules hesitava entre disparar sobre ele, ou tentar agarrá-lo ou simplesmente fugir.
Alaramada com a intensidade dos berros, Rita ergueu-se e num passo rápido, dirigiu-se de arma em punho na direcção das escadas de onde provinham os gritos.
Para surpresa dela, o unico homem de Jules que ficara no Rés do chão e que voltara a correr, alertado pelos gritos de Mauro, de fumar um cigarro ás escondidas, ao ver um vulto a aproximar-se sacou da arma e disparou na direcção da jovem.
Protegida pelas trevas do corredor sombrio, Rita atirou-se para o chão, não tendo ainda a certeza de ter sido atingida e disparou os dois primeiros tiros dessa noite, na direcção do vulto.
Como um rastilho de pólvora, o som dos tiros ecoou no piso superior e sem pensarem, perante os incessantes berros de Mauro, os capangas abandonaram a sala, descendo pacienetemente e atentamente as escadas, temendo que a policia já tivesse chegado às instalações.
À mesma conclusão chegara Mauro, que vendo que não sofria qualquer tentativa de reacção perante os seus gritos e saltos, assim que viu os dois homens a abandonarem a sala, aninhou-se e imitando um animal selvagem saltou sobre Jules, não lhe dando tempo de disparar.
Se fosse uma prova olímpica, Mauro seria certamente desqualficado, pois o seu salto foi tudo menos harmonioso, no entanto eficaz.
Perante o impacto, Mauro caiu sobre o corpo redondo de Jules e sem pensar, começou a socá-lo com força e repetidamente.
Na base da escadaria, o homem que guardava o acesso às escadas ripostava aos dois tiros de Rita, e em segundos a troca de balas ecoava no pequeno corredor.
Com os nervos desgastados pelo subito surgimento de Rita, o homem estava agora atento á rectaguarda, com receio que outros aparecessem e quando ouviu um barulho de passos, perto de si, não pensou duas vezes e disparou.
Quando o primeiro capanga que descia as escadas foi atingido, o segundo disparou em sua defesa, julgando que eram os policias a abrir fogo, abatendo prontamente o homem de Jules que guardava as escadas.
Rita, mantinha-se encoberta pelas sombras das grossas paredes, deitada no chão de arma apontada na direcção dos disparos. Não conseguia compreender porque não disparavam na direcção dela e então apercebeu-se que podia já ter chegado tarde.
Contudo, se havia algo que o seu progenitor lhe tinha ensinado, era qe nunca deveria abandonar o campo de batalha, sem ter a certeza de que não seria surpreendida pelas costas, de modo que usando de uma certa astucia, pegou delicadamente nas chaves de casa do bolso do casaco e sem desviar os olhos dos poucos metros que a separavam da base da escadaria de onde tinham provindo so gritos, atirou as chaves, com toda a força que conseguiu para o seu lado direito.
Reagindo ao barulho suspeito, o unico capanga ainda com vida ergueu-se e de arma em punho, dirigiu-se para o local onde as chaves cairam.
Lá fora, os primeiros carros da policia entravam com alguma velocidade nos jardins que rodeavam a fachada do Hospicio, iluminando parte da habitação com a luz dos seus farois.
Quando a luz surgiu pelas janelas térreas, incidindo sobre o homem que segurava a arma, a jovem aproveitando a completa visibilidade disparou, abatendo-o de pronto.
Sem pensar, levantou-se e principiou a correr para as escadas, galgando-as em número par e quando alcançou o piso superior, ficou sem reacção.
No pequeno quarto, Mauro continuava a golpear Jules, como se receasse que se interrompesse o espancamento, Jules o dominaria, enquanto a poucos metros dele, a sua chefe do café, jazia numa poça de sangue a seus pés.
Atónita, deixou cair a arma e ajoelhou-se junto dela.

No exterior, o sargento ia bradando ordens precisas aos seus homens da corporação e de armas em punho, numa questão de segundos, passos acelerados ecoavam pela escadaria e em breve a sala ficaria cheia de homens fardados de azul.
Só quando se viu arrastado pelos agentes e prontamente algemado é que Mauro recuperou a lucidez e observava com espanto o rosto completamente ensaguentado de Jules. Só então se deu conta do que fizera e de certa forma envergonhado, contemplou a face atónita de Rita e não consegui esboçar o mais ténue sorriso ou o mais simples sinal de que tudo estava bem.
Porque na verdade não estava!

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Foto de: Paulo Martins

2 comentários:

  1. ui
    que cena!!!
    ou melhor
    que cenas!!!

    fantástica toda a descrição da acção de rita!!!

    no final do capitulo, fiquei com pena de Mauro!
    Coitado... :S
    que lhe vai acontecer a seguir??

    E a chefe da Rita? ...espero que se safe!!!

    Misterioso
    Interessante
    Cativante
    FANTASTICO!!! :-)

    beijo

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