domingo, 31 de outubro de 2010

Esquizofrénico Capitulo 6 - Penúltimo Capitulo - última parte




A mulher alta e espadauda esgrimava argumentos ameaçadores, por entre uma enxurrada de injurias a e ameaças:
-Com que então é assim? Vocês brancos do raio, são todos ignorantes. Basta verem um individuo diferente, de vocês e prendem-no logo.
-Repare minha senhora, o nosso serviço é...
-Vosso serviço? O meu Nélson não é igual a um desses traficantes, ele coitadinho...Não faz mal a uma mosca!
O agente da policia, já com a idade a avançar perigosamente para o escalão de pré reforma, fazia um esforço para se manter coerente:
-Asseguro-lhe que o inspector que está a tratar do caso, irá proceder a todas as averiguações.
-Tretas! Cambada de racistas. Querem é um " bode expiatório".
-De todo minha senhora. De todo!
Na cadeira perto a mulher, Rita torcia a ponta dos dedos, algemada e nervosa. Não sabia o que estariam neste momento a perguntar a Mauro e não conseguia perceber como tudo tinha seguido esta escalada de violência. Temia sobretudo a face irada e acusatória de seu pai. " Coitado, que desgosto lhe dei" Pensou.
Achava inclusivamente um milagre não ter saido ferida do tiroteio. Na verdade ainda não acreditava que havia participado no tiroteio. De olhos marejados de lágrimas, assistia contemplativamente ao desenrolar da discussão:
-Aposto que esta finória aqui, vai sair em liberdade e o meu Nélson será preso- A mulher esticava o dedo para Rita.
-Os casos são diferentes. - Sentenciou o policia já a perder a paciência.
-Claro. Porque ela é branca e ...
-Ouça, a ver se nos entendemos. -Aludiu Rita 
-Como? - Indagou a mulher assustada com a reacção da jovem.
-Eu tive uma noite do caraças eestou-me a borrifar para o seu Nélson. Seja ele negro, branco ou Chinês! Estou muito sossegadinha aqui e se volta a apontar o dedo para mim, temos sarilho!
-Oh! Olha-me esta finória armada em dura. Sabe lá o que diz. Eu vivo num dos mais perigosos bairros...
-Não quero saber!
-Mas evia! Mas vocês brancos, só sabem...
Inexplicavelmente Rita ergueu-se rapidamente e sem pensar, deu uma cabeçada no queixo da mulher. Repentinamente gerou-se um burburinho e os policias de piquete, sinceramente não sabiam quem deviam agarrar primeiro.
Rodeada por dois fortes agentes, Rita ainda esperneava tentando atingir a mulher.
-Levem-na daqui. Coloquem-na numa sala isolada!
-Sim meu sargento, mas esta miuda tem força.
-Pois segurem-na antes que ela...
-Chiça, nem com algemas...
Quatro agentes tentavam domar Rita, que se esforçava para usar os ombros como arma de arremesso.
-Mas que raio se passa aqui? - Um vulto atlético assumiu no corredor.
-Chefe, esta miuda tem o diabo no corpo.
-Sargento, a sua função é acalmar os detidos, não eriçá-los.
-Mas eu não fiz nada, esta é que se pegou com a mulher de cor.
-Ah agora já tenho cor? è preciso ser agredida numa esquadra para ser gente?
-Basta! Sargento, traga-me essa jovem para esta sala. Eu vou interrogá-la.
-Muito bem chefe.
Como se tivesse sido domada pelo timbre sereno do alto oficial, Rita seguiu o sargento até á dita sala, não evitando uma troca de olhares acusadores com a senhora de cor.
Assim que a viu sentada e serena o atlético oficial, fechou a porta e abrindo uma cigarreira prateada, estendeu um cigarro á jovem:
-Obrigada, mas não fumo.
-Ah, nesse caso não se importa que eu fume?
-Quero lá saber!
O Inspector Matias acendeu um cigarro, soltando uma ténue baforada de fumo cinzento e não conseguindo esconder um risinho, avançou:
-Já ouvi o que o seu amigo relatou desta noite, agora estou curioso com o seu relato.
-O meu?
-Sabe, durante algum tempo que a policia tem andado em cima destes trastes que conheceu esta noite.
-Já ouvi essa história!
-Perdão?
-Essa trapalhada toda de uns serem maus, outros bons e os maus não sabem quem é,. e os bons, supostamente tambem não existem. Por isso, poupe-me!
Matias brincava com a ponta acessa do cigarro:
-De que raio está a falar?
-O seu colega, ele já teve essa conversinha comigo.
-Qual colega?
Rita ergueu lentamente a cabeça e contemplou demoradamente o rosto franco e barbeado do inspector:
-Eu fui supostamente raptada, alguns dias atrás, por uma força policial, ou pertencente á policia, que andava atrás destes sujeitos. Supostamente todos estavam interessados no meu amigo e nos escritos que supostamente ele guardava num caderno.
-Continue.
-É isso. As coisas foram acontecendo, até esta noite.
-E esse meu "colega"?
-Nunca mais o vi.
-Curioso!
-Acha?
-Sim. Porque segundo o que sei, você, o seu amigo e a outra mulher estão em maus lençois.
-Pois. Mas tudo tem uma explicação lógica.
-Espero bem. Porque não só invadiram propriedade privada, como atacaram um dos mais ilustres benfeitores desta cidade.
-Como é?
-O cidadão a quem o seu amigo espancou, é uma pessoa muito influente!
-Nunca o vi antes.
-Não é do seu circulo social, nem do meu infelizmente.
Rita principiou a empalidecer:
-Então, os que foram atingidos por mim....?
-Guarda Costas apenas, que tinham o direito de abrir fogo, dado que estavam a ser atacados.
-Mas eles tinham Mauro preso.
-Não temos provas disso!
-Mas foram eles que comandaram tudo ate agora.
-Tudo?
-As encenações, as perseguições...Isto!
Matias levamtou-se e começou a circular em redor da jovem com as mãos atras das costas:
-Rita, pense bem no que me vai contar dentro de minutos. Infelizmente sou forçado a gravar o depoimento, pelo que deve pensar em salvar a sua pele. Homicidio, menina Rita. Tem pelo menos uns 20 anos de cadeia.
-Jesus! Mas estou a dizer a verdade.
-Bom se realemnte é assim, e enquanto vou preparar tudo para o seu depoimento, pense numa seguinte questão.
-Sim?
-Quem esteve sempre presente em todas essas situações? Quem lhe fez acreditar qua corria perigo?
-Ora isso é fácil foi o Mauro que...
-Precisamente!
-Mas , não não pode ser. Eu vi-o a ser largado de um carro em andamento.
-Um Ford preto?
-Sei lá, não entendo nada de carros e marcas.
-Sabia que Mauro era um jogador compulsivo de Poker e perdeu para um mafioso de terceira categoria?
-O Mauro a jogar poker? Ah, ah, desculpe mas isso eu pagava para ver.
-Foi o que ele fez. Só não tinha dinheiro. Sinceramente, acha-o normal?
-Não, ele foi ...
Como se tivesse ficado com a sensação que falara demais, Rita sacudiu a cabeça, tentando reprimir as ideias que lhe vinham á mente. Era a segunda vez que lhe explicavam que Mauro era má rés, um doido, um sujeito sem categoria e na verdade que sabia ela? Não, ela assistira a tudo. Ela fora submetida a testes e ninguem sabia, esse era o trunfo dela.
-Inspector?
-Sim, menina Rita?
-Seria possivel eu beber um café. Toda esta confusão...
-Certamente, eu vou buscar.
Ser filha de pai militar, tinha por vezes as suas vantagens e Rita jamais esqueceria um fim de semana, passado no Quartel, onde por piada, um colega de caserna do pai a ensinara a livrar-se de algemas.
Aproveitando a saida do inspector, Rita apropriou-se da caneta Bic Azul do tampo da secretária, e com alguma pericia, enfiou-a discretamente no bolso. De seguida tacteou o tampo da secretária em direcção aos clipes e pacientemente abru um, esticando-o. Em tempos demorou um minuto e meio a abri-la, mas agora estava destreinada. 
Três minutos depois o clique da fechadura das algemas soou, e sentiu a braçadeira metálica a abrir-se no pulso esquerdo.
Sem perder tempo, agarrou numa folha em branco, da pilha de papel que aguardava atenção por parte do inspector, colocou-a por baxo da porta e usando a caneta empurrou a chave da porta elo cano da fechadura, obrigando-a a cair sobre o papel.
Rezando baixinho para que a mesma passa-se debaixo da porta, Rita recolheu cuidadosamente a folha e sorriu de satisfação ao ver que a chave efectivamente passara por baixo da porta.
Sorrindo, pegou na cadeira que jazia inerte á frente da secretária e colocou-a obliquamente sobre a maçaneta, de modo a dificultar o arrombamento da porta.
Procedeu a uma cuidada análise do gabinete. Existia apenas uma janela, que até dava para ela sair, mas era arriscado. Encolhendo os ombros, agarrou no candeeiro da mesa e atirou-o contra a janela.
O som do vidro partido atraiu a atenção dos policias que circulavam no interior da esquadra e antes que pudessem reagir, Rita ultrapassava a janela e caminhava rapidamente pelo beiral do edificio.
Marco iria rir se a visse novamente a saltar pelos pátios e então uma ideia veio-lhe á cabeça. Recordou-se do que ele lhe falara no momento de saltar os pátios:


"-Para onde vamos?
-Para o " buraco".
-Desculpe?
-Para o forte. Para curar as feridas."


Ora, se o nome dele é Mauro Fortes...Sim tinha de ser a pista que faltava. Serpenteando pelos telhados, com a policia atarantada com a rápida fuga dela, Rita usou o cano de saida de aguas pluviais, escooregou até ao rés do chão, e apanhando-se á solta, correu com toda a sua força em direcção á habitação de Mauro.
A poucos metros dela, Carina que abandonara a esquadra para ir tomar um café, viu-a sorriu e seguiu-a.
Na esquadra, a furia do inspector Matias cairia sobre Mauro. Dependeria a sua salvação da perspicácia de Rita?

1 comentário:

  1. Incrivel final misterioso onde ninguém segura Rita .Bravo!!!!
    Beijos
    Susan

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