sábado, 13 de novembro de 2010

Crime ...disse ele - último capitulo - parte 1


Com toda a calma que poderia usar, Julien dobrou a segunda esquina, encostando-se levemente nas sombras da fachada do velho edifício do cinema Orfeão, e aguardou.
Não fazia ideia quem o seguia, mas reconhecera o ” Modus operandi” da perseguição, próprio de polícias e não de detectives.
É que na verdade são bastante diferentes. Os detectives normalmente não andam aos pares e caso o façam, fazem separadamente em polos diferentes. A polícia, ao invés, usa o método “costas quentes”, caso haja troca de tiros.
Mas estes dois sujeitos que o seguiam tinham todo o ar de novatos.
Como calculara, minutos depois os dois dobravam a esquina em passo acelarado e ele esperou que o segundo passa-se e serenamente abandonou o esconderijo e surgiu de trás dos dois sujeitos:
-Boa noite, procuram alguém?
Apanhados de surpresa, os dois sujeitos levaram instintivamente a mão á arma.
-Devagar com isso, jovens. Não quero aumentar o número de viúvas nesta terra!
Pelo foco de luz do candeeiro público, os dois sujeitos viram o brilho prateado da arma de Julien, apontada na direcção deles:
-Agora que tenho a vossa total atenção, respondam por favor. Que procuram?
-Nada. Vínhamos apenas a passar! – Respondeu o sujeito alto.
-Sim. Só estavamos de passagem! – Confirmou o segundo.
-Nesse caso, sugiro que continuem.
-Como?
-Não perceberam? É normal, não sou muito esclarecedor.Falarei devagar.
-Ouça, somos da polícia e não sei se percebeu mas acaba de cometer um crime. Ameaçar a autoridade!
O riso estridente do detective de arma em punho, desnorteou os polícias:
-Ligarei ao meu advogado, estejam descansados. Agora se querem saber, eu tenho um problema!
-Um problema?
-Com efeito, eu sofro de tremideiras na mão direita. Coisa de espasmos musculares, e nesta posição eu diria que tenho uns três minutos antes de inadvertidamente…
De soslaio o agente da frente , retorquiu a meia voz para o companheiro:
-Somos dois, ele não vai ter a coragem de atirar.
-Ouviste o que o inspector disse? Ele é lunático, não vale a pena correr riscos.
Como se esperasse tal resposta o indíviduo da frente baixou os braços e desatou a correr na direcção oposta, seguido de perto pelo seu colega.
-Novatos! – retorquiu entre dentes Julien.
Apressadamente ele retomou a direcção da viatura e arrancou a todo o gás, na direcção da pequena igreja.
Se os seus cálculos estivessem correctos, o padre da freguesia iria se livrar rapidamente da jovem e destruir o seu cativeiro.
Julien sabia de inúmeras histórias em que o voto de castidade fora corrompido e se o padre ganhar o primeiro round, ele não se deixara ludibriar. Demorou algum tempo a perceber a habilidade do padre em contorar e ocultar as provas.
Indiferente à chuva que ameaçava cair e desrespeitando a velocidade limite legal, Julien praguejava entre dentes, contra a atitude permissiva do padre.
À saida da missa do fim do dia e como Julien calculara o padre meditara sobre a sua conduta e sabia que aquele detective arrogante voltaria. Após mais de dez anos a avaliar pessoas e a estudar rostos, o padre era já uma pessoa consciente dos sinais faciais e sabia que o detective não havia ficado muito convencido da sua inocência.
Tudo até então tinha corrido da melhor maneira para o padre Anselmo.
Inibido de ter relações por dever celibatário, o padre conhecera Rómulo, com quem travara amizade.
Rómulo detinha uma habitação rural e um cancro em fase terminal. Quando ele falecera e sem herdeiros, soara à igreja a sua habitação. O padre detinha então de um local sem suspeita para dar corpo à sua tentação. As virgens da freguesia.
Com esta não era diferente. era uma pecadora, via-se pelo modo de falar e de andar, pelo modo de se insinuar. Competia a ele, padre e temente a Deus, eliminá-la e tirá-la da tentação dos homens. O pecado teria de ser estancado.
Sem falsas modéstias Anselmo concluía que era bom no que fazia, mas o surgimento do detective tonava-o desconfiado.
Sem perder tempo, entrou na adega e soltando uma tábua que tapava uma curta entrada, saiu por trás e dirigiu-se, oculto pela ramagem até um caminho curto que dava para um palheiro, aí, olhou duas vezes para os lados e prontamente subiu os degraus e entrou.
Num canto escuro, atada de mãos e tornozelos, a jovem aparentemente dormia, de boca tapada com um lenço.
Ao vê-la tão encolhida, tão subserviente o padre sorriu de prazer. Não precisaria de a eliminar, como fizera antes com outras, em breve o seu contacto Espanhol chegaria e a levaria.
Na verdade Anselmo não gostava desta opção, mas dado o alvoroço que o desaparecimento desta jovem havia criado, não correria riscos.


Na décima sétima esquadra os dois individuos envergonhados por haverem deixado fugir o suspeito, explicavam o que havia sucedido, ante a face furiosa do novo comandante da esquadra:
-Um indivíduo armado, vocês eram dois. O objectivo era apenas segui-lo, que diabos!
-Mas ele nos descobriu.
-Pudera. Não aprenderam a ser discretos?-Meu comandante, nós achamos que ele já foi da força e…
-Vocês acham? Cambada de ignorantes! Temos um Serial Killer à solta, armado e vocês acham que ele é dos nosso?
-Bem pelo modo como…
-Calem-se!
O comandante circulava irritado pela pequena divisão e de súbdito, dando um olhar de relance pela vidraça da sala, descortinou a secretária vazia de Àvila.
-Ok. Emitam um aviso pela rádio. Sabemos o carro que tem e a matrícula. Alertem todas as unidades. De hoje ele não escapa.
-Certamente, chefe.
O comandante saiu rapidamente da sala, curvou no corredor em direcção ao balcão de atendimento:
-Sargento Rodrigues, preciso de saber a morada de Àvila.
-Do Ávila, senhor?
-Correcto.
-Muito bem.
Apreensivamente o sargento levou os dedos profissionais ao teclado e digitou o nome do colega. Segundos depois a ficha dele saia na impressora.
Sem perder tempo, o comandante entregou-a aos dois sujeitos:
-Não o percam de vista. Tenho a certeza que nos irá conduzir a esse assasino.
-Certamente chefe.

1 comentário:

  1. Confesso que ja tinha saudades de saber deste Julien...do desaparecimento misterioso...que aqui nesta nova parte nos revelas aqui coisas que me deixaram....uauuuuuuuuuu :)

    és talento!!!

    é tudo o que tenho a dizer!!

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