sábado, 20 de novembro de 2010

Esquizofrénico - Penúltima parte


Quando ele acordou, ainda sentindo a testa latejar de dor, reparou que havia sido deixado só no pequeno cubiculo.
Sabia que o interrogatório não iria ser fácil e tal confirmou-se, mas agora percebia claramente que a fuga de rita não fora um Bluff. Realmente se o tivesse sido, eles insistiriam nessa permissa de forma a o incentivarem a revelar.
Mas na verdade ele já havia revelado tudo. A existência do segundo caderno, a inutilidade do primeiro caderno e mesmo assim não o entendiam nem levavam a sério.
Mauro levantou-se e como se temesse ser observado, sentou-se calmamente na cadeira de madeira rude e aguardou a vinda do inspector, enqunato acariciava o queixo dorido.
Como Rita podia ter fugido de uma esquadra? Ele , que era perito em fugas de prisão de alta segurança ou de sitios isolados, jamais se aventuraria a fugir de uma esquadra. Sobretudo neste momento, em que sentia que estava tudo doido para lhe dar um tiro, ou para ele dar uma desculpa.
O tique taque enervante do relógio redondo, que o olhava agressivamente, pendurado na parede branca do cubiculo, começava a enervá-lo. 
-Meu deus, como isto chegou até aqui? Como pude envolver gente sem culpa nisto? Agora que aqui estou, como posso me salvar? Que fim irei ter?
As duvidas sucediam-se num ritmo intenso, na cabeça de Mauro. Ele tentou levar uma aparência discreta, ele tentou não levantar suspeitas, seguir a sua vida. Nunca percebia porque escolhera aquela cidade como destino final da sua fuga, mas havia uma voz interior que lhe sussurrava o nome da cidade, perdida nos seus pensamentos.
Não fora fácil chegar até lá, mas rápidamente se estabeleceu, permanecendo oculto algum tempo. E depois o café, a Rita e "eles" apareceram.
Como eles puderam saber onde estava? Como ? Ele sempre fora cuidadoso, sempre evitara exposição e de repente os descobriu a rondar as imediações.
Mauro mantinha-se entreteido nas suas divagações, enquanto no outro lado do edificio o inspector Matias, fazendo um esforço sobrehumano para se acalmar, aguardava noticias da busca dos seus homens ao apartamento, quando um Cabo de cabeça rapada, se dirigiu á sua presença:
-Inspector, acabam de chegar dois oficiais do exército. Pedem para falar consigo.
-Comigo?
-Correcto inspector.
-Credo. Já não me bastava a imprensa a rondar que nem doida, tentando fuçar sobre o tiroteio, agora aparece o exército. Que podem eles querer comigo?
-Receio que não seja consigo! - De pé e fardado o pai de Rita encontrava-se junto á porta ladeado pou um outro oficial.
Por uns segundos Matias permaneceu atónito, mirando a face séria do velho sargento, apra de seguida soltar um sorriso sarcástico, acompanhado de uma introdução igualmente sarcástica:
-O Carnaval chegou mais cedo este ano?
O pai de Rita ignorou a acidez da observação e após ter dado um sinal com a mão, ordenando ao seu colega oficial que fexhasse a porta do gabinete, avançou endurecido para o inspector, saudando-o militarmente. Vendo a estupefacção no rosto do policial, ele sentou-se e pausadamente iniciou o diálogo:
-Poupe-me as piadas idiotas. Seguramente não serão bem vindas num momento como este. O meu nome , caso não saiba ainda, é Afonso Gonçalves. Sargento Afonso Gonçalves, da oitava brigada da Companhia de Comandos e simultaneamente chefe máximo da Policia militar.
-Ah sim? E o que posso fazer por vés, Sargento?
-Estamos aqui para levar um suspeito que se encontra à vossa guarda. Aquele a quem chamam de Mauro Fortes.
Pesadamente o inspectror deixou-se cair na fabulosa cadeira giratória de veludo e incrédulamente inquiriu:
-Com que autoridade?
-Temos uma ordem de execução, assinada pelo comandante maior do exército a solicitá-lo. Como deve saber, esse vosso suspeito é um desertor militar e será julgado ao abrigo de um Tribunal Marcial.
-Não podem...
-Podemos sim inspector. mas se queizer passar por um momento embaraçoso, pode ligar agora mesmo para o Quartel general e inquirir!
Matias passou nervosamente a mão pelo cabelo e lentamente começara a perceber toda a situação. Evidentemente que a Rita estaria envolvida. O pai tambem estava. Como ele fora cego.O pai era a ligação de toda esta trama e ele não vira. Perder a guarda de Mauro agora era o golpe fatal para as suas aspirações. Definitivamente devia tê-lo morto quando teve chance. Agora não o poderia fazer.
-Então inspector, vai ser preciso fazer a chamada?
Matias corou de raiva e vergonha. Não acreditava que fora ludibriado uma vez mais e se fizesse a chamada , aumentaria ainda mais a sua vergonha ao questionar ordens directas. Quem sabe se tambem não daria direito a uma despromoção.
-Não. podem levá-lo. Definitivamente nada mais poderemos fazer.
Um sorriso de alivio estalou no segundo oficial do exército que seguindo o inspector e o sargento até à sala de interrogatórios onde Mauro estava, ia cantarolando uma musica dos Queen.
Quando o inspector Matias abriu a porta e os três homens entraram, Mauro olhou demoradamente para o pai de Rita e ao o ver fardado, ao o ver assim tão formal, lembrou-se efectivamente de outros tempos. 
Como um murro desferido a frio, ele recordou-se perfeitamente da face enrugada e encolerizada do sargento, do brilho das suas medalhas, da sua voz pausada. Todas as imagens giravam em catadupa na sua mente e tal como anteriormente ele não conseguia reagir. O torpor do choque, a ansiedade o medo de voltar aos calabouços de qualquer departamento obscuro do exército provocaram um suor frio e desagradável na sua testa, que rapidamente se estendeu a todo o seu corpo.
-Parece que hoje é o teu dia de sorte, fedelho, Agora é com o exército!
-O exército?
-Exacto fedelho. Da minha parte teria todo o gosto em continuar a partir-te a cara, mas eles querem brincar contigo. E eles mandam! - Sorriu sarcásticamente o inspector.
Ao ver o rosto de pavor dele, branco e ensaguentado o sargento aproxinou-se cautelosamente, bradando:
-Pelos diabos miudo, o que estes monstros te fizeram?
-Nada. não fizeram nada. - Retorquiu o pobre sujeito em pânico,
-Soldado 6456, viemos-te buscar. Chega desta paranoia, é tempo de voltar a casa.
Tal frase do sargento, poderia provocar um descontrole emocional intenso em Mauro, mas desta vez porém ao o ver a piscar o olho e lembrando-se que ele era o pai de rita, sdominou o impeto de correr, analisando a situação o mais friamente que podia.
para ele havia duas possibilidades: Ou desatava a correr, oferecendo a Matias a secreta possibilidade de o alvejar e resolver o assunto, alegando que o individuo resistira á autoridade, ou seguia este sargento. Bem sempre era mais fácil voltar a fugir de um qualquer armazem oculto, que de uma esquadra.
Levantando-se lentamente, ele sacudiu ao de leve as calças, como se pretendesse afastar a invisivel poeira da maldade a que fora sujeito durante o tempo que estivera naquela sala e saiu:
-E acerca da jovem que vocês detêm sobre custódia? - Inquiriu o sargento.
-Fugiu! - respondeu um envergonhado inspector.
-Fugiu?
-Correcto.
-De uma esquadra da policia, cheia de agentes?
-Correcto. - Respondeu nervosamente Matias
-Como foi possivel?
-Lamento, mas isso é do foro interno. Estamos em averiguações.
Por uns segundos o Sargento Gonçalves teve vontade de rir ás gargalhadas, mas contendo-se a muito custo, ordenou a mauro:
-Vamos, temos um longo caminho a percorrer.
-Não o vão algemar?
-De todo inspector. Os nossos homens não fogem!
Eviatndo o agora rosto trocista do Sargento, matias voltou as costas, deixando os tres homens sairem do edificio.
Vendo-se livre da companhia dos homens do exército, matias correu para o gabinete e pegando no telemóvel tentou saber o resultado das buascas ao apartamento:
-Lamento informar inspector, mas não temos o caderno.
-Como não têm o caderno?
-Talvez as duas jovens o tenham encontrado.
-Que duas jovens?
-A suspeita e uma outra estavam a sair do apartamento quando chegamos.
-Tragam-nas cá.
-Impossivel.
-Como assim?
-Elas fugiram inspector.
-Mas será que só lido com incompetentes? Como podem ter deixado duas jovens fugir? Cambada de ignorantes...
-Elas eram ágeis senhor.
-Calou. Quero os dois aqui imediatamente!
-Impossivel inspector.
-Porquê?
- O Jaime faleceu.
-O quê?
-Caiu do pátio, bateu com a cabeça no beiral do passeio.
Nervosamente matias pontapeou o pequeno cesto de papeis do seu gabinete e temendo a resposta inquiriu:
-E que raio fazia ele num pátio?
-Perseguia a jovem, quando os dois cairam. Ela fugiu, ele não.
-Merda. Lançarei um mandato de captura imediatamente.
Atirando com o telemóvel contra a parede sentou-se na cadeira giratória afundando a cabeça entre as mãos. O dia não lhe estava a correr de feição.
A medo o seu braço direito entrou no seu gabinete e após fechar a porta, avançou timidamente em direcção a Matias:
-Vieram buscar o pássaro?
-Correcto.
-Bem disse que deviamos ter dado cabo dele na altura. E agora?
-Não sei, aguardo instruções. Aquelas bestas tinha de surgir logo agora.
-Pois e é estranho...
-O quê?
-Eu estava a chegar e fiquei surpreso ao os ver a sair. ele não estava algemado.
-Eu sei. Esquisitices do exército.
-Mesmo assim, não era suposto utilizarem um veiculo oficial?
-Sim, suponho que sim.
-Pois eles arrancaram no Jeep particular.
-Hum...
Num rasgo de ansiedade, matias consultou cautelosamente o papel e temendo ter sido ludibriado, abriu a internet no seu computador, abriu o Google e consultou o simbolo oficial dos comandos e comparou-o com o que tinha. De seguida fez a ligação:
-Boa tarde, peço desculpa ligar a esta hora. O meu nome é Rui Matias, sou inspector da 17 esquadra da Policia judiciária e tenho aqui dois oficiais do exército que vieram levantar sob custódia um suspeito.
-Boa tarde inspector. Em que esquadra?
-Décima sétima.
-Só um momento, vou passar a chamada.
Do outro lado da linha um Tenente atendeu a chamada:
-Tenente Custódio. Boa tarde, em que posso ser util inspector?
-Tenho aqui dois oficiais do exército para proceder ao levantamento de um suspeito sob custódia.
-O nome dos oficiais?
-Sargento Gonçalves, comandante da policia militar com uma autorização assinada por General Prieto!
-Aguarde um segundo....
Matias balançava nervosamente a cabeça, mosdiscando a ponta da caneta, enquanto á sua frente o seu braço direito em comando, aguardava igualmente ansioso:
-Lamento inspector mas não temos qualquer acção na sua esquadra. O unico sargento Gonçalves que pertence aos quadros da P.M., já se encontra aposentado.
-Merda. - gritou Matias amarrotando a folha.
A dez quilómetros de distância o Jeep parava diante de uma casa pequena, um T0 rusticamente mobilado e sacando um punhado de notas do bolso, pagou ao seu parceiro:
-Sabia que darias sempre um bom soldado. o exército perdeu um grande oficial.
-Sempre pronto para ajudar um amigo. É o que vale ser um actor de teatro desempregado.
-Obrigado.
-Até uma próxima.
Sorrindo para Mauro, enquanto o seu amigo se afastava, o sargento convidou-o a entrar e prontamente o iria colocar ao corrente de toda a situação.

1 comentário:

  1. Adorei aquela parte do relogio enervante que o olha agressivamente .

    Sempre bem , e com o seu sentido de humor :D
    Qe pena estar na recta final

    Continuação de boa escrita
    E continue sempre a surpreender-nos :)

    Cumprimentos

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