domingo, 7 de novembro de 2010

Esquizofrénico - Capitulo 7 - parte 2


Na esquadra Mauro sofria ante a supervisão e fúria do Inspector Matias após a fuga de Rita. 
Havia demasiado em jogo e caberia a Mauro entreter e baralhar a autoridade. Apesar do imenso foco de luz no seu rosto e dos constantes gritos e murros que o inspector aplicava ao tampo da mesa, ele mantinha-se calmo e mudo. Teria de evitar dar informação necessária e ao invés, soltar informação confusa e desconexa.
Algo que ele naturalmente conseguiria fazer sem esforço, apesar do pouco à vontade de Matias para brincadeiras:
-A tua amiguinha saiu a voar pela janela. Que me dizes a isto?
-Que não devia haver janelas.
-Não. Refiro-me à fuga dela.
-Eu não sou policia, diga-me você que acha disso!
-Eu acho que ela sabe de algo e que nos vai conduzir ao caderno.
-Lamento, não vejo como isso possa suceder. Só eu sei o paradeiro do caderno.
-Não acredito em ti!
-Pode acreditar. É a verdade!
-Veremos. De qualquer forma meu amigo, tu estás tramado!
-Ah sim?
-Tens plena consciência que te posso manter preso por muitos e bons anos?
-Perfeitamente.
-E isso não te assusta?
-De todo. Sei que em breve estarei livre.
-Porque dizes isso?
-Pelas cosias que eu sei.
Matias olhou de soslaio para o outro agente presente no interrogatório e levando a mão á cabeça, retorquiu ao colega:
-De certeza que não posso espetar uns bananos neste caramelo?
-Inspector, isso é contra a ética de interrogatório e vai de encontro aos direitos...
-Ok, poupa-me esse palavreado mole. Estamos a ficar moles. Ouvis-te? A corporação está a ficar geleia e estes gajos abusam.
-Mesmo assim inspector.
O pesado agente sacou o ultimo SG Gigante e amarrotando o maço vazio, atirou-o á cara de Mauro:
-Tens sorte deste amigo estar aqui presente, ou então já estavas a levar muito que contar!
Perante o Show Off do inspector, Mauro não conteve uma risada e sacudindo a cabeça, retorquiu calmamente:
-Nada que já não me tenha sucedido um dia.
-Sabes, não sei se essa tua postura é coragem ou estupidez, mas garanto-te que em breve cantarás tudo o que quero saber.
Fingindo-se irritado o inspector abandonou a sala de interrogatórios com o pretexto de ir fumar um cigarro, seguido de pronto pelo colega de esquadra.
Nesse breve momento em que ficou sozinho Mauro pensou no motivo que fizera Rita fugir. Terão eles a ameaçado? Terão eles a maltratado? E se tudo fosse um Bluff e na verdade Rita continuaria presa?
"Anjinhos, pensou. De mim jamais saberão alguma coisa."
No pequeno corredor de acesso á sala de interrogatórios, o inspector e o ajudante tratavam da táctica para a segunda parte do interrogatório
-Garanto-te que o gajo quebra se estiver sozinho com ele.
-Temos pouco tempo. Em breve os outros chegarão e o levarão.
-Eu sei que tu querias que o soltasse, mas não temos a certeza que nos levaria ao caderno.
-Deviamos matá-lo. Alegáva-mos que o gajo ia a fugir ou assim!
-Estás louco e se a pequena descobre aquilo?
-Não. Eu acredito nele. Ela não sabe do caderno.
-Mesmo assim, o chefe não iria gostar.
-Matias tens de perceber que isto nos está a escapar das mãos!
-Ok, mas se começamos temos de acabar. Que diabos, ele é um pobre coitado!
-Um pobre coitado que envolve a policia, que envolve um departamento secreto e uma data de gente civil.
-Danos colaterais, não te preocupes.
-Mas preocupo-me. Não te esqueças do dinheiro que está em jogo.
-Nunca um caderno valeu tanto.
-Palavra de honra que gostaria de saber o que esse caderno tem dentro!
-Esquece Figueiredo. Continuo na minha que esse caderno nem deve existir.
-Porém todos o querem
-Vamos acabar com isto.
-E a miuda?
-Com as acusações que tem, vai ficar presa cem anos.
-Certo, entra tu que eu fico a controlar a sitruação.
Quando Matias entrou na sala de interrogatórios Mauro apresentava um ar estranho, alucinado.
-Onde está o seu colega?
-Foi apanhar morangos! Somos só os dois meu caro e desta vez não vou fazer perguntas!
Pacientemente e num modo autoritário o inspector abriu o cinto das calças, soltando-o das alças e hábilmente principiou a enrolá-lo no pulso direito.
-Que vai fazer?
-Acabar contigo de uma vez por todas!
-Mas eu tenho os meus direitos!
-Tu? Um louco como tu não tem direitos.
Matias esticou o cinto de cabedal e aproximou-se da garganta de Mauro:
-Tens apenas cinco minutos para falar!
-Não me pode estrangular!
-Estrangular? Não te preoucupes...O caderno, onde está?
Mauro respirou fundo, fechou os olhos e analisou rapidamente a situação. Estava numa esquadra, a ser violentado por um elemento da policia. Se se revoltasse e por mera chance o agredisse, seria prontamente condenado ou quem sabe, abatido em legitima defesa. Contudo, se o enrolasse, talvez sobrevive-se:
-Borboletas, borboletas! - Gemeu aflito.
-Que disses-te?
-Borboletas. O caderno...As borboletas.
Matias parou, e olhou-o desconfiado:
-Que patranha vem a ser essa?
-Há um quadro com borboletas no meu quarto.
-Os meus homens já reviraram o teu "quarto".
-Não. Não é esse. Esse quarto tem o caderno falso!
Matias riu a bom rir, de seguida alertou-o:
-Ouve bem meu louco, não foi descoberto qualquer caderno no teu quarto.
-Porque não procuraram. Está no W.C. mas é falso. O verdadeiro está nas borboletas.
-No WC?
-Isso.
Matias pousou o cinto, dirigiu-se á porta e berrou para Figueiredo.
-Ele diz que está no WC, no quarto dele.
-Ok, vamos para lá.
-Não- Perceberam mal, esse é o falso....Borboletas!
Matias virou-se para ele e sentando-se pesadamente acendeu o cigarro:
-Para teu bem, espero que lá esteja alguma coisa.
-Não me está a ouvir. Não quer saber. Eu estou a dizer...
Matias ergueu-se e socou o o queixo de Mauro fazendo-o tombar no chão, junto com a cadeira:
-A ver se te calas um minuto.
-Mas porque não me entende? As borboletas...- De dor Mauro desmaiou.

3 comentários:

  1. aiii...
    Sem palavras , qe vicio qe este conto se tornou :D

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  2. Incrivel o modo como o conto se desenrolou até atingir a maioridade nesta reta final.
    Começou por ser uma loucura deliciosa, onde o personagem central ( que entretanto troca de nome?), alimentava as suas loucuras, para subir em modo seguro para o drama e policial e por fim, ao longo de todo este trajeto,eu como leitora não consigo deixar de ler.è sem sombra de duvida um conto digno de uma série de TV.Empolgante!

    Paula F. Quintas

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  3. A ação toma cada vez mais conta da história que fica , no seu passo final imperdivel !!!!
    Beijos
    Susan

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