quarta-feira, 27 de abril de 2011

Sou...



Sou como o teu primeiro cigarro, num maço metido, de filtro contido e folhas secas amassadas.Num bafo tragado.
Sou corpo de fraca essência,resumo de espiral de vida, em fumo perdido, numa tosse latente.
Como uma primeira passa, balanço nos teus lábios, sinto o humido toque labial da tua presença.
Sinto-me seguro em teus dedos.Carrego em mim o tormento do sofrimento no cilindrico desejo.
Escorre em mim, em ponta incandescente, a vida que não vivi, o filho que não tive,a sorte que não vi, o medo que sempre vivi...de estar só.
Como teu primeiro cigarro, perco-me nos teus pensamentos, rolo nos teus dedos, à medida dos teus (nossos) desejos.
A minha essência em teu redor flui, nessa auréola de fumo que te cerca as narinase te penetra, e te invade as narinas e se cola nos teus pulmões.
Como teu primeiro cigarro, aguardo hesitante, em saber, até que pontos absorves o meu ser, fazendo do meu corpo cinza e do infortunio nosso cinzeiro.
E quando já nada restar, quando o prazer terminar, serei beata do teu desconforto, acabando pisado, numa via publica desta vida, numa qualquer sarjeta da razão.

Sou...
aquele livro chato, lá no alto da prateleira, que alguem te recomendou e tu nunca acabas-te de ler.
Sou esse mesmo livro, de um autor anónimo ou quase desconhecido, que te sendo sugerido, nada vês que valha a pena.
Sou...
esboço metido, do livro escondido, no alto da prateleira, tornado em reservatório de ácaros, encimado por poeira.
Sou...
aquele livro sem dedicatória, que depois de conhecido, sou deixado, abandonado, esquecido pela falta de coerência na cadência em mim.
Sou...
aquele livro, na eterna Feira do Livro, repetido, só para colmatar o vazio, sempre à pressa de ser metido.




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