terça-feira, 3 de maio de 2011

Infidelius - Capitulo 3 (parte 1)


Descobre o verdadeiro amor em ti
Ou pelo menos procura-os nos outros!
Mas tem tento, não sigas em juizos
ou pela lingua dos Loucos! - Mefistus

Sentado na solene mesa de refeição, ele fazia os possiveis para finalizar a posta de pescada sem levantar ondas de protesto dos olhos atentos da mãe.
Além de odiar solenemente peixe, odiava igualmente aquele olhar ameaçador dela, sentada na ponta da mêsa, com um sublime anglo amplo de visão para o seu prato.
Na cabeceira da mêsa, o pai parecia apreciar o repasto, salpicando a sua posta de pescada com gotas douradas de azeite. Nem assim o gosto desaparece! Pensou ele.
Na opinião de Caio, as teorias sobre uma alimentação saudável e cuidada que a mãe trazia das suas tertúlias de chá e bolachinhas de aveia com as tias , não passavam de patranhas aflitivas de senhoras de meia idade a quem subitamente alguem avisara que a sua juventude já acabara.
Caio gostava de um bom bife, com montes de batatas fritas ( não das congeladas, que ele chegava a duvidar serem batatas), e no minimo um ovo estrelado a cavalo, tudo devidamente empurrado por uma côdea de pão de trigo.
Afinal, pensou ele, o seu avô sempre comia o seu bife e aos 90 anos era saudável como um touro.
A dois dias da data da fuga marcada em segredo com Marisa, a miuda que arrebatara o seu coração, ele via agora que o plano era mesmo para ser seguido à risca.
Ele lembrava-se de quando tudo aconteceu. Na verdade tudo aconteceu muito antes de ela perceber que havia começado. Uma semana antes de ter sido atacado na biblioteca, pela ponta de um lápis assasino , Caio reparou nela.
Marisa era a antítese de qualquer rapariga que jamais havia conhecido na sua vida. perfeitamente anti social, perfeitamente nas tintas para as bocas dos miudos da escola, indiferente ás manifestações de violência que eles lhe pregavam.
No fundo era como se ela não tivesse amor próprio e tal comportamento mexeu com ele.
Fôra prudente na procura de informações sobre ela, nos corredores da escola e mesmo assim as mesmas informações eram contraditórias e escassas.
Por um lado, alguns jovens da escola tinham-lhe um mêdo de morte, por outro lado sorriam de espanto ante a menção do seu nome.
Foi através de Guilherme, um dos miudos da turma dela, que foi mais ou menos informado. Guilherme tinha um genuino mêdo dela, apelidando-a baixinho de bruxa de negro, tarada assasína:
-Assasína? - Sondou Caio.
-Sim. Da pior espécie!
-Porque dizes isso?
Agarrando-lhe no braço, Guilherme conduziu-o até um sítio afastado e mostrou-lhe o video no telemóvel. O video de baixa resolução em que de calcinhas, Marisa mostrava e agitava os seios numa expressão provocadora:
-E então, que isto tem a ver com  assasinato?
-Tudo!
-Guilherme pá, não tás bom da cuca!
-Ouve Caio e ouve bem . Não te metas com a bruxa! O gajo que filmou isto, dois dias após filmar jurou-nos de joelho que a comeu e subitamente cancelou a matrícula na escola e sumiu...
Caio pousou interrogatóriamente os seus olhos castanhos mel no rosto assustado do sujeito, depois esboçando um sorriso opinou:
-Talvez tenha mudado de casa?
-Não pá! A minha mãe é directora do Conselho Directivo e disse-me que não acreditava que o João tivesse mudado de casa. Um dia simplesmente veio com o pai e anulou a matrícula.
-E tu achas que ela ameaçou o puto, ou o pai?
-Ya, isso mesmo.
-Guilherme a miuda é da minha idade, mas nesse video parece muito mais nova!
-Sim, o video tem cerca de dois anos. Percebes? Nunca mais ninguem o viu!
-Nem apareceu qualquer corpo.
O argumento de Caio pareceu baralhar um pouco as alegações de crime tão fortemente elaboradas na cabeça de Guilherme:
-Talvez ela tenha-o feito desaparecer. Afinal ela é bruxa!
Caio riu com vontade perante a perplexidade de Guilherme:
-Ouve, ela não é bruxa alguma. Ela é gótica, ou pensa que é. Nem todas as góticas fazem bruxaria, apesar de sinceramente achar que só dez por cento acreditam mesmo nessas coisas. De resto ser gótica com esta idade é apenas uma tendência, e sinceramente não acredito que uma Pita de 14 ou 15 anos possa fazer chantagem com uma familia.
Guilherme pousou plácidamente a mão no ombro do amigo e vizinho e aconselhou:
-Seja como tu dizes, mas mesmo assim, pá deixa-a tranquila. Ela não vale um chavo!
Caio acendeu tranquilamente um Marlboro , parecendo meditar na afirmação do amigo:
-Desculpa a pergunta, mas quantas gajas já comeste?
-Ah?
-Sim, diz-me....Quantas gajas já levas-te para a cama?
-Bem, eu...Assim de repente...eu...hum...
Caio riu devagar e não perdendo tempo reformulou:
-Okay, esquece as gajas que comes-te....Quantas mamas viste ao natural, na vida?
-Mamas?
-Tetas, mamas, marmelos...Quantos viste á tua frente em carne e osso?
-Bem, as mamas não têm ossos...
-Pois não Scherlock, então presumo que não fazes a minima ideia do que é uma gaja boa?
-Então pá, estás a defender a gaja?- Tentou reagir o amigo com a cabeça á roda
-Não. Só estou a confirmar a tua opinião sobre uma gaja que não vale um chavo.
-É o que dizem, mas se calhar é exagerado!
-Pois é! E para mim o simples facto de ela não vos dar troco,só significa que tem miolos e consegue bater-vos aos pontos.
-Lá vens tu com estórias...
-Elementar meu caro Watson, agora se me dás licensa tenho uma aula para assistir.
Engolindo o ultimo pedaço de pescada e depois de obter a devida autorização para se levantar da mesa, Caio precipitou-se para o seu quarto e sem perder tempo tirou o Nokia do esconderijo, ligou-o e marcou o Pin que tinha memorizado nesse mesmo dia. Certificando-se que a porta estava bem fechada, aumentou o som da aparelhagem e abrindo a caixa de mensagens escritas digitou:
-Amor, mal posso esperar para iniciarmos uma vida os dois.
Sentou-se na cama e aguardou que a resposta surgisse. O ti ti metálico soou em volume baixo:
-Meu heroi, meu principe. Estava com saudades!
-O animal hoje ficou quieto?
-Nunca fica, mas hoje nada me perturba.
-Não entendo Mar, porque não o encostas à parede.
-Vamos fazer como tudo de acordo com o planeado. Eu e tu meu homem, vamos nos vingar de tudo e todos.
-Sim Mar XD. Amo-te!
-E eu a ti , doce Caio!
Desligou o telemóvel e escondeu-o pacientemente atrás das taças de Futsal que ganhara durante dois anos consecutivos e usando o Motorola habitual e conhecido, discou um numero e esperou:
-Guilherme, tenho uma cena marada para te contar.
-Então?
-É uma bomba. É sobre a tua bruxa assasina...
-E então? Conta-me!
-Amanhã. Hoje não posso. Afinal há alguem interessado em que ela fique com má fama.
-Tás a falar a sério?
-Puto, amanhã pagas uma cola no Capa Negra e eu conto-te tudo.
-Okay Caio, amanhã falamos antes dos treinos.
-Seja!
-Porta-te bem.
Com um riso de satisfação Caio despiu-se e vestiu as boxers para dormir que sempre usava como pijama. O plano corria como suposto e assim que ele e Marisa estivessem longe o animal ia perceber o que lhe ia doer!



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