terça-feira, 3 de maio de 2011

Infidelius - Capitulo 3 (parte 2)



Como posso perder os teus braços?
Se todas as dores se calam quando me cruzo contigo
no abrigo dos meus sonhos?
“A(braços) repentinos...” de Inês Dunas


Pouco antes de adormecer, enquanto Caio segurava a almofada vagarosamente com a mão esquerda e ouvia os ultimos acordes de "November Rain", meditou uma vez mais na sua relação com Marisa. Ele gostava imenso de adormecer a pensar  nela e sobretudo no que poderia um dia suceder.
Tudo tinha avançado demasiado rápido, na opinião dela, mas para ele havia sido uma tortura até conseguir ter a sua atenção.
Reparara nela como por perfeita casualidade, com o cabelos pretos caídos sobre os ombros, o corpo aparentemente frágil e esguio, o andar um pouco masculino e a ausência de qualquer traço de femininialidade nela. Nem brincos, nem aneis, nem colares ou pulseiras, excepto um grande pentagrama como colar que só se havia visto num célebre video, difundido na escola. Maquilhagem forte e carregada de tons pesados, que Caio descobrira que eram pinturas de guerra, estratégicamente feitas no WC do acfé antes da entrada na escola.
Tal como as pinturas,as pesadas botas de biqueira de aço pretas, as calças de ganga da mesma cor e já gastas e sempre de tee shirt, mas com um casaco muito fechado para esconder os contornos femininos. Então as góticas não usavam saias?Caio percebeu imediatamente que mais que uma moda, era uma tentativa de defesa e de intimidação junto de tipos como o Guilherme que sempre comiam pelos olhos.Ele sentiu-se atraído por aquela figura fina, a bruxa palito como lhe chamavam em surdina.
Talvez porque Caio sempre fôra habituado a peças de teatro, como as protagonizadas pelos seus pais, sempre aparentando ser um casal unido, quando na verdade os episódios de violência física e verbal entre os dois sucediam-se constantemente, mas a bem das aparências tudo era abafado ao longo dos tempos.
Claro que no seu quarto ele ouvia constantemente o Vou-te matar canalha! Proferido pela voz embriagada de Gin da mãe, ou os choros entrecortados dela, quando ele demorava a chegar a casa. Mas para que raio ele se dá ao trabalho de voltar?
 Fosse como fosse, com o seu 1,70 m, corpo perfeito e rosto a lembrar o falecido James Dean, Caio era a tentação de todas as miudas. Para além disso tinha um charme inacto, quer a falar, quer simplesmente a olhar. Nunca descurava o seu físico e nunca abdicava dos seus 30 abdominais matinais antes de ir para a escola. No fundo era óbvio que ao contrário de Marisa, ele chamava a devida atenção, não sendo menos verdade que poderia ter qualquer rapariga que quizesse, ou pelo menos uma parte significativa delas.
Contudo, apesar da sua tenra idade, ele tinha dois dedos de testa para perceber que a sua popularidade na escola caíria em flecha se desatasse a dar troco a qualquer uma ou a todas. Tinha de manter o seu Status e sobretudo tinha de ser cuidadoso  nas suas investidas.
Acima de tudo, vira como o nome de Marisa havia caído em desgraça na escola, através de um simples video e precisamente por isso, precisava de meditar e de se certificar se valeria a pena aproximar-se dela.
 Ele tinha um defeito. Amava planos. Planos e tácticas sobre qualquer coisa, sobre tudo e sobre nada. Era acima um indivíduo calculista,meditativo e com uma cultura geral acima da média.
Não sendo propriamente um aluno brilhante( ele sabotava certos testes para não ser rotulado de marrão), safava-se sempre nas calmas estudando pouco, ouvindo muito e percebendo muitíssimo.
 Caio voltou-se sonolento para o outro lado da curta cama de solteiro e coçando ao de leve a cabeça recordou os preparativos do Plano Marisa.
Calmamente e sem dar nas vistas foi-se aproximando do dia-a-dia dela, de forma a não ser por ela visto com regularidade e o mais low profile que conseguiu, seguiu-a regularmente até casa dela, onde após ela  entrar, ocupava a esplanada do café um pouco abaixo, mas com excelente vista para o edificio de dois pisos de cor castanha.De inicio pensou tratar-se de um só alojamento, mas depois constatou que seriam duas famílias independentes e que ela ocupava o primeiro piso, por sorte dele o quarto dela era mesmo voltado para a artéria principal e ele podia regularmente vê-la a assumir à janela. Isso era um perigo, pelo que nos restantes dias optou por escolher uma mêsa mais resguardada.
Sabia onde ela morava e sabia que ela aparentemente não possuía amigos e desconfiado anotou isso na sua pequena sebenta. Como podia uma míuda de 16 anos não têr amigos?Faltava-lhe a segunda parte do plano, que lhe exigiria algum dinheiro e alguma sorte. Precisava de obtêr rápidamente o messenger dela, mas como? Não tendo ela qualquer amigo, como podia ele obter tal informação? Formulou mil teorias e planos, pensando inclusivamente em Guilherme...Ele sempre conhecia alguem que supostamente a tinha comido...Talvez tivesse o email.
Por outro lado sacudiu a cabeça negativamente. Mesmo que conseguisse o email dela, dificilmente ela o aceitaria e seria trabalho perdido.
Relutantemente pensou que só havia uma alternativa: ser ele a pedir-lhe directamente e isso iria lhe custar uma grande dose de coragem. Sabendo de antemão que ela frequentava a biblioteca da escola, nesse dia resolveu arriscar. Iria precisar de uma grande dose humor negro e algum à vontade.
Como esperava o primeiro contacto havia sido um completo desastre e ela mostrara não só ser anti-social, como meia desiquilibrada. Após ter sido expulso expulso da biblioteca ( ele bem sabia que a biblioteca era um sítio perigoso para estar), fumou um Marlboro no exterior, fazendo horas, aguardando a sua saída e questionando-se se valeria mesmo a pena aproximar-se dela. O que Caio não podia sabêr era que já havia sido vítima da seta do cupido.
O segundo contacto após a saída dela da biblioteca não marcou migualmente muitos pontos, mas pelo menos começava a aproximar-se dela e por qualquer razão que ele não descortinava, ela  o afastava, não  por falta de interesse dele, mas por medo dele. Medo dele?
Porque ela haveria de ter medo dele? Foi ele o atacado e não ela. Ele por seu lado tinha algum receio dela, mas porque ela teria receio dele?
Ou pior, será que ela tinha receio de estar com ele? Nesse caso, a que se devia esse receio?
Caio relembrava a angústia que sentia de tentar ganhar a sua confiança e pelo menos um sorriso, mas incrívelmente ela mantinha-se completamente inacessível a ele. Nunca tal lhe havia sucedido e a incapacidade de conseguir inter-agir com ela nos primeiros tempos foi a pimenta que faltava para que em breve o seu coração estivesse por ela dominada.
A custo ele ia conseguindo mantêr as aparências dentro dos portões da escola. Tudo fazia e tudo calculava ao ínfimo pormenor para não ser ligado a ela, sobretudo pelo pessoal do Futsal, ou seria a desgraça do seu Status.
Só ao terceiro dia ele registou com agrado algum avanço na aproximação e para isso tivera que usar o peste, o gajo mais chato da turma dela, incentivando-o a desafiá-la roubando em algum intervalo o caderno preto, que ela escrevinhava nas aulas.
Peste conseguira o caderno e com um sorriso de satisfação e sem menos dez euros que passara para as mãos do puto borbulhento, Caio dirigiu-se ao bar e encarando-a sorriu ao de leve, para antes que ela pudesse ripostar, argumentar:
-Tive conhecimento que alguem se apoderou de algo teu!
Porreiro, outro palhaço com piadas novas sobre o video,pensou.
-Para além do meu nome, que desconheço como tu o sabes, nada mais me falta.
-Tens a certeza?
-Absoluta.
Caio fitou-a durante alguns minutos, muito sério, depois como que desistindo da troca de olhares, ripostou:
-Okay, então a história sobre um roubo de um caderno preto, escrevinhado a caneta preta é boato!
De subito ela ficou pálida e ganhando forças, interrogou num tom de voz fina:
-Diz lá isso outra vez?
-Ah, nada. Não é importante.
-Tás a brincar? Claro que é. pela descrição parece ser o emu caderno....Mas ele está na sala de aula!
-É verdade. Mas tu estás aqui!
Marisa ficou em pânico. Não que o caderno tivesse algo revelador do que quer que seja, mas sempre era o seu caderno e ela sabendo ser temida na turma, não imaginava que alguem tivesse coragem para a desafiar:
-Merda.- praguejou levantando-se abruptamente.
Caio com alguma paciência segurou-lhe no ombro e voltou a sentá-la:
-Armares-te em Xerife só vai compensar quem to tirou.
-Ah sim? E o que sugeres, então? - o olhar dela era de desafio.
-Que acabes de comer essa torrada e vás para a aula. Eu recupero o teu caderno e encontramo-nos ás 3 da tarde.
Encolhendo os ombros, Caio voltou-lhe as costas, numa atitude encenada:
-Espera...Onde?
-Onde me atacás-te com um lápis!
A sorrir nervosamente ela concordou!



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