quarta-feira, 11 de maio de 2011

Infidelius - Capitulo 4 (parte 2)



Estou farta de não abraçar a fartura que a vida me dá...
E de me enterrar em amargura por projectos não cumpridos,
porque me gosto de viciar em sonhos interrompidos...
A Felicidade é a idade mais simples da nossa vida basta dar-lhe colo! - Inês Dunas

 http://emjeitodeescritaportugal.wordpress.com/2011/04/27/a-farta-fartura-que-nos-farta-de-ines-dunas/


Ao som do rodar da fechadura, como um foguete espacial, a sua mente arrancou em direcção ao vácuo dos lamentos perdidos.
Deitada na cama, aguardando a tão esperada tortura, o corpo gelado e os olhos embaciados, num chorar silêncioso, com a suprema humilhação de quem já tudo havia perdido.
Perdera por completo a ironia da salvação, no colo de Caio, que a iria libertar do terrível fado de não ser ninguem.
Em tempos, outros tempos de outrora sonhara com uma vida diferente. Uma vida de entrega tal como agora, mas a um principe que desceria do cavalo, ou que chegava de asas abertas e a levava em sigilo, para um Mundo de açucar. Um Mundo onde não haveria dôr, onde o seu corpo seria o seu corpo, onde seria feliz por pensar e falar no que quizesse...Onde teria amigos. muitos....Incontáveis e a todos agradaria e a todos espalharia felicidade.
Hoje, ela a miuda que não sorri, com o corpo numa morgue imaginária, sem sentir frio, calôr, ou dôr, vivia a fantasiar esse Mundo, vivia na unica réstia de humanidade que poderia têr. No fundo vivia na réstia de esperança de por fim, nada poder têr.
Os som dos passos aproximavam-se no soalho de tacos de madeira. Passos que tão bem ela conhecia e que tão bem ela sentia. Era como o corredor de morte, em que o carrasco fazia questão de se anunciar pisando forte, para afastar qualquer remanescência de resistência que a sua pobre alma ainda pudesse contêr.
 Abstraiu-se ocupando os ultimos minutos de salutar solidão que ainda lhe restavam, evadindo-se em mente inqiueta para os jardins perfumados das memórias de caio, onde conservava numa vitrine imaginária, o seu sorriso encantador, o seu qiuê de perturbador, o seu tom de conquistadôr.
-Oh Caio, porque me abandonas-te? Porque me voltas-te as costas?
Os lábios que se entreabriam nas preces silenciosas, o sentimento de ter sido rejeitada, esquecida, ingloriosamente afastada. Como pudera o calhorda fazer isso comigo? A interrogação de angústia no crescendo som da maçaneta da porta do quarto a abrir. Merda, como posso ser tão infeliz?
Recordou a primeira vez que se despiu para Caio. Como havia siudo tão diferente de quando ela se despe para o toque do padrasto. Com Nicolas, o seu padrasto, sente-se sempre suja, sente-se uma peça de um jogo. Mas com Caio....Oh fôra tudo tão diferente. Pela primeira vez, ela hesitou em se despir, e quando se resolveu a fazê-lo, fazia-o tão nervosamente, como se era a primeira vez que partilhava o seu corpo.
Tremia como uma haste de fino galho ao sabor do vento, as pernas acusavam o nervosismo e os dedos parecia que se enrolavam, mas a tudo ele sorria calmamente, sentado na unica cadeira que tinha no quarto, em frente de um monitor HP de anos atrás.
 Na verdade não havia qualquer entendimento e ela nem percebera muito bem porque havia subido. Caio era tão diferente de todos os que conhecera, que indubitavelmente com ele sentia-se sempre perdida, sem destino. Temia se entregar uma vez mais, acreditar uma vez mais, mas simultâneamente tinha sérias dificuldades em o vencêr, ou pelo menos o afastar.
Claro que ela tentara e obviamente que usara todos os truques para o humilhar ou pelo menos dissuadi-lo de se aproximar. Se resultara com todos os outros, porque insistia em se aproximar cada vez mais?
 Talvez tenha sido ele, num plano pré elaborado, que tenha sucessivamente derrubado as suas barreiras, ou talvez....Porque ele era unico.
Não ofereceu resistência quando a mão dele procurou a sua e o seguiu em silêncio, escadas de madeira acima, numa casa centenária. Não ousara sequer equacionar a hipótese de fugir, quando ele abriu a porta e a deixou entrar. Acompanhou-o sempre em silêncio, ultrapassando duas divisões da fantástica habitação e calmamente entrou no quarto.
Caio sentara-se e como a desafiá-la olhou-a lânguidamente. Não seria um gajo qualquer que a humilharia, esse serviço estava apenas destinado a Nicolas, pelo que sem rodeios, tirou o casaco, atirando-o para o colo dele, rodos mostrando-he as costas à medida que abria o seu cinto, e a fivela ganhava vida, como se de uma serpente se tratasse.
Como uma visão dos Infernos, Nicolas irrompeu por fim no quarto e como um castelo de cartas, as suas memórias caíram, momentos antes da densa cortina que albergava os seus tesouros, os seus segredos, na sua memória se cerrava.
Contrariamente ao usual Nicolas aproximava-se como que hesitante, como se esperasse uma ratoeira ou uma armadilha, como se hoje, por ser hoje, fosse necessáriamente diferente dos restantes dias e abusos passados.
Os seus passos abrandavam e parecia ter receio em se aproximar da sua cama. Deu-lhe para ter medo agora?
Reparou que ele não sorria, o que nele nem era estranho, e observou em silêncio o olhar demorado que atirou ao Toshiba:
-Desculpa a demora minha querida!
Ele a pedir-me desculpa?? Que raio se passa? Indagou entre dentes.
-Esperaria sempre por si. - Apressou-se a dizer.
-Eu sei que sim. Sabes que sou teu amigo não sabes?
-Sim, sei.
-Sabes que sou incapaz de te fazer mal, não sabes?
-Sim, sei. - Mentiu ela.
-Já estavas com saudades minhas?
-Como sempre, senhor!
-Optimo, agora vamos ver como estás.
Após um momento de hesitação da parte dele o "jogo" havia começado uma vez mais, tal como ela o conhecia. Sabia as regras de cor e o que podia ou não podia fazer. Sabia igualmente que  ele se sentaria na cama e começaria a passar-lhe a mão no corpo. Começaria pelos seios, pois ele sempre gostava de começar por aí, enquanto ela teria forçosamente de virar a cara em direcção contrária.
Como calculara ele parecera contente por sentir os seus mamilos livres da priosão do sutiã. Os mamilos que mesmo que ela não pretendesse , ericar-se-iam ante o toque calmo e complacente dos seus dedos . Sentia a mão a rodeá-los, a apertá-los no toque carnal dos dedos rígidos e compridos. Sentia igualmente a segunda mão descer pela barriga, em direcção aos seus boxers masculinos:
-Porque ainda usas isto? Eu já não te proibi de usares estes boxers masculinos?
-Sim senhor.
-Então porque insistes em me contrariar?
-Perdão senhor. Esqueci-me.
Marisa havia gasto longas horas a treinar as palavras e o modo de as proferir. desde que ele lhe mostrara um filme pornográfico em que elas falavam assim, ela começou a entender. Tinha tudo a ver com poder e ele gostava dessa sensação:
 A tua sorte é que hoje não poderei te castigar, por nitida falata de tempo. Mas esse correctivo não será esquecido.
Marisa aguardava a ordem para se voltar. Isso significaria que ele iria abrir o fecho das calças e entregar ao cuidado da sua boca, aquilo que ele realmente mais idolatrava. Mas desta vez, só desta vez ela tinha um segredo. Ela que já havia provado o de Caio, imaginaria que voltava a estar com Caio e que quem tinha à sua frente não era o Nicolas.
 Porém tal não sucedeu e  de olhar fixo no relógio, disse num tom calmo:
-Veste-te.
-Como?
-Arranja-te. Quero te mostrar uma coisa.
-O quê?
Era a primeira vez que ele desistia do jogo e isso transtornou-a. Depois de ter sido abandonada pelo Caio, o homem da sua vida, será que seria tambem agora abandonada por ele? Mas porque ela tinha de ter um corpo tão reles, tão franzino?
Em silêncio vestiu-se, reparando que o fecho metálico das calças dele mantinha-se fechado, não visualizou qualquer volume nas suas calças e voltanmdo-se a sentar na cama, olhou confusa para o rosto sereno inquieto de Nicolas:
-Trouxe-te uma prenda.
-Mas só faço anos amanhã!
-Eu sei e festejaremos. Mas quero que vejas isto.
Plácidamente tirou a câmera fotográfica Sony da caixa e entregou-lhe:
-Uma câmera? Para quê? Nesse preciso momento a porta da rua abriu-se e Marlene entrou no quarto a sorrir. Sem perder a calma, ele sorriu-lhe e confidenciou:
-Querida, chegas-te em boa altura. Estava a entregar à nossa menina a prenda dela.
-Ah, a famosa câmera?
-Sim querida. E então Marisa, gostas-te?
-Bem...
-Sabes miuda, tens de ser mais social e com essa câmera podes ter um Hi5. Um perfil...eu ajudo-te.
-Mas....
-Ora Marisa, o Nicolas pensa em tudo para o teu bem. És uma felizarda!
Pois sou, pensou ela quase a chorar de dor. Porque ninguem me ouve?

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