sexta-feira, 20 de maio de 2011

Infidelius - Capitulo 5 (parte 4)




"As sombras dos nossos desejos
são um estojo de maquilhagem...
Adornam a imagem alva do tempo
e tingem de sonhos quem passa...
O mundo é uma tela de Rembrandt." - nês Dunas:" Óleo sobre tela, Pastel sobre papel"
http://librisscriptaest.blogspot.com/2011/01/oleo-sobre-tela-pastel-sobre-papel.html


Guilherme não era propriamente o totó da turma, mas andava lá muito perto. Tinha ideias pré-concebidas em chavões metidos e era extremamente influênciável pelos outros. No fundo, Caio achava que ele estava a finallizar a puberdade em segredo, embora um bocado mais atrasado do que seria de esperar, mas na verdade não há propriamente uma data termo para estas coisas. Estas e a paixão....Pois para isso tambem não há cura, ou desígnio ou segredo. Apenas o martelar inconstante do coração numa loucura frenética, como se se bebese de um trago umas 12 chávenas de café, e as veias? Oh senhores, que lhe pulsavam pelo corpo, como cabos de alta tensão com milhares de Volts a circularem em viagens incontidas, incandescentes. Ser luz e simultâneamente ser cinza. O mêdo de deixar de ser coisa alguma, pelos menos aos olhos dela.
Os gestos de Guilherme eram maquinalmente contidos, como se receasse que o Mundo se risse. o olhar era calculado, como se quizesse impressionar no seu estranho modo de pensar.
Caio não estava com vontade de rodeios:
-Gui, vou precisar de ti.
-Ah,estou às tuas ordens capitão!
-Pára com isso, não sou teu capitão.
-Mas és da Equipa de Futsal e...
-Gui, deixa-te de merdas. Aterra, preciso de ti.
-Eh lá, estamos nervosos?
Caio observou-o atentamente. Sabia que ele já farejava algo, afinal ele era os "ouvidos" da escola. Nada acontecia sem que ele não tivesse conhecimento e muito provávelmente já algo lhe teria sido gemido aos ouvidos, mas não se importava minimamente. nada tinha a escondêr e o tempo corria apressadamente.
Ele tinha um plano e tinha um forte motivo para abrir o seu coração. Mediante o plano que traçara, iria precisar do apoio de um braço direito, e apesar de todas as suas limitações Guilherme era perfeito:
-Meu caro, estou apaixonado!
-Hum...
-É sério Gui. Muito sério mesmo. A minha vida mudou.
-Hum...
-Eu sei que te pode parecer estranho, mas de certa forma vi a Luz. Vi a forma de futuro concreto e definido que quero para mim.
-Capitão....Que andas-te a fumar?
Caio soltou um sorriso , rodando a rodela de limão no copo de gêlo e levantando ostensivamente o queixo para o seu interlocutor, afiançou:
-Não vou discutir detalhes ou meras suposições contigo. Nem tão pouco te vou pedir qualquer opinião, apenas preciso de uns favores.
 -Mas capitão é verdade?
-Já pedi que não me chamasses assim!
-Mas é a tua alcunha!
-Era. Esse tempo acabou. Vou pedir hoje à tarde a saída da equipa.
-Tu o quê?
-Não posso mais vivêr como vivia. Tudo tem um fim, estou em fase de mudança e não me refiro ao corpo.
Guilherme ficou em esdtado de choque, respirou fundo e coçou enérgicamente os três pelos rasos a que ele chamava de barbicha intelectual. Encostou-se ligeiramente nas costas da cadeira, cruzou as pernas, descruzando-as logo a seguir, então proferiu num assombro:
-Meu Deus a Bruxa apanhou-te!
-Isso meu caro é outra coisa que terás que perder. Se te referes à Marisa, de hoje em diante e pelo menos quando tiveres comigo não a chamarás assim. Percebido?
-Caio, respira. Eh pá, não sei o que ela te fez, mas estás diferente. Estás duro, intratável...Tu não és assim.
-Tens razão, estou diferente. pois pela primeira vez sei o que quero. - O olhar de Caio era de segurança.
-E que queres tu? - Perguntou o amigo verdadeiramente " perdido".
Com um Look de James dean, Caio olhou-o semicerrando a pálpebra do olho esquerdo de forma a que o fumo do cigarro não o ferisse e falou sem hesitar:
-Ainda bem que me perguntas, pois tenho duas tarefas para ti.
-Ouve Caio, não sei o que se passa, mas eu não quero ter nada a vêr com ela, certo?
-Errado.
-Ah?
-Não tenho mais ninguem a quem socorrêr. Eu preciso de ti, pois és o gajo ideal para isto. Afinal não somos amigos?
Guilherme alisou nervosamente o cabelo com a mão esquerda e manteve-se uns segundos calado.
Como poderia negar algo a Caio? Fôra ele quem o auxiliara quando os diabos dos brutamontes dos gémeos  o escolhiam diáriamente para saco de pancada. Ou quando ele fez o teste dele de história, nas "barbas" da professora e conseguindo que tivesse passado o ano escolar.
-Podes contar comigo. - Proferiu num tom monocórdico.
-Óptimo´.
Num sorriso rasgado, Caio tirou do bolso uma nota dobrada e entregou-a ao amigo:
-Preciso que o J.P me faça um favôr. Dentro dessa nota dobrada está um I.P. que quero que ele pesquise ou invada. Preciso de sabêr tudo a respeito dele.
-De quem se trata? Ah é da bru...ah, da Marisa?
-Mais ou menos. Não é bem dela, mas de alguem ligado a ela. É vital descobrir tudo o que possa estar relacionado entre os dois.
-Bem, sabes que J.P. não vai com a minha cara...
-Resolve.
-Tudo bem, eu posso fazer isso, mas mencionas-te dois pedidos?
-Pois mencionei....O teu pai ainda tem o estúdio de gravação em casa?
-Claro. Sabes que ele é músico e usa-o para...Mas para que o queres?
-Ele aluga-o?
-Sim claro. A ti sim eu falo com ele.
-Perfeito.
Guilherme encolheu os ombros. Caio estava mais estranho que o habitual. Estava decidido, estava frontal, no fundo....estava crescido!
Não sabia ao certo o que se passava, mas secretamente percebia com algum terrôr que o que se falava de Marisa era verdade. De alguma forma ela enfeitiçara-o e sem coragem para o enfrentar, apenas se despediu:
-Bem, vou á vida. Eu vou tratar disto.
-Gui, mais á frente verás que irás entender.
-Tudo bem Caio, mas falavas a sério acerca da equipa?
-Sim, muito a sério. Isso acabou para mim!
-Falamos por messenger.
Caio ia retorquir algo, quando viu surgir o Jeep cinzento na curva e detêr-se no café. Agarrou instintivamente ao de leve o braço de Gui e acenou com a cabeça, na direcção do veículo:
-Conheces?
- Oh, o pai do João.
-Ah?
-O pai daquele miúdo que passou o video...Bom sabes quem ele é.
-Não. Estás enganado. Aquele é o pai da Marisa. O que ele fará deste lado da cidade?
-Ia jurar que...
-Merda ele está a olhar para aqui.
Por uma fracção de segundos os dois entreolharam-se e Caio segurou os braços da cadeira, na esperança que estes o segurassem a ele. A vontade que tiunha era de se dirigir ao carro e esbofeteá-lo, mas ao invés respirou fundo. Minutos depois o Jeep arrancou a alguma velocidade.
-Caio, o que se passou aqui?
-Não sei.
-Isto está muito estranho....Bem, vou embora. Ficas bem?
-Tranquilo Gui.
-Porta-te bem.
Tão apressadamente quanto pôde, Guilherme saiu em passo rápido, perfeitamente confuso. Vendo-o a afastar-se Caio retirou as cópias que fizera do caderno de Marisa e pedindo mais um café, leu-as para si.
 Na verdade algumas das lêtras eram verdadeiras pérolas de amargura, de clausura, de sofrimento. De sobrancelha erguida Caio relêra durante essas duas semanas, ininterruptamente as letras até as decorar e talvez as decifrar.Afinal fôra através delas que ele a sentiu pela primeira vez.
Recordou com agrado a primeira vez que na escadaria da escola. lhe segredou ao ouvido o verso do seu caderno:
sou uma imensa dôr claustrofóbica,
uma nódoa nêgra hiperbólica
sou uma piada inconstante de mim
Sonhos violeta, numa mágoa sem fim

Recordou com ternura o olhar de estupefacção dela, no seu colo, ao o ouvir e contráriamente á reacção de raiva que ele temia, por a lêr em segredo ela beijou-o e chorou convulsivamente.


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