terça-feira, 31 de maio de 2011

Infidelius - Capitulo 6 (parte 2)



"Demoro-me mais na sombra do meu obscurantismo,
entre os anjos selvagens à solta nos meus olhos...
Queria despir devagar um sonho de cada vez,
pausadamente, apreciando-o,
desejando-o num erotismo quase masoquista..." Inês Dunas: "Querer ou não Crer..."
http://librisscriptaest.blogspot.com/2011/01/querer-ou-nao-crer.html



O latejar das veias cada vez mais salientes, no seu pescoço denunciava a extrema ira que assolara o corpo bem constituído do homem Belga.
 De ar irado,  praguejou entre dentes e simulou dois pontapés nas virilhas de uma silhueta inexistente, enquanto de punhos fechados, circulava no espaço entre a cadeira de escritório e a mesa castanha.
Juras de amor e promessas de um final feliz, rolavam em caracteres harmoniosos no monitor, perante a incredulidade dele.
Era um autentico balde de àgua fria e arfando de raiva,gesticulava para alguem invisível enquanto soltava ainda mais injúrias.
Sentou-se nervosamente diante do teclado, fazendo um esforço verdadeiramente heroico para acompanhar o diálogo entre Caio e Marisa no Messenger, procurando de alguma forma uma solução.
Não sabia como fora possível alguem ainda ter coragem de se aproximar de Marisa. Ele mesmo tratara de evitar que isso acontecesse, vigiando-a, estudando-a, isolando-a
Tudo fora planeado até ao mais ínfimo detalhe, numa operação morosa e cara. Tivera inclusivamente o cuidado de não deixar rasto, de eliminar rápidamente quem o auxiliara até ali e quando finalmente cuidava que Marisa era sua e só sua, eis que lhe cai do céu um idiota a ousa-lo desafiar!
Nicolas respirou fundo e tentou se autocontrolar, como Jerome, o seu mentor lhe ensinara. Afinal esse era o unico defeito dele, segundo o seu mentôr: Quando confrontado com uma contrariedade explodia num rasgo de fúria, sendo incapaz de se concentrar. De resto nunca se esquecera da primeira vez que um plano lhe saíra de controle:
-A concentração e a capacidade de improviso é a unica arma verdadeiramente imbatível de um vigarista.Claro que o jogo de cintura é imprescindível, mas nada existe em termos de credibilidade, se não houver um auto controle da tua parte.
-Mas enerva-me ter a situação controlada e de repente...
-Nunca terás verdadeiramente a situação controlada, pois na vida nada se controla. Nem a Mãe natureza, na sua infinita sabedoria pode prever um facto alheio...Como a exitência do Homem.
-Enganas-te. Eu controlo, eu premedito, eu sei como agarrar a plenitude dos factos.
-Veremos se sempre estarás tão seguro quanto agora o demonstras.
Haviam se passado oito anos desde que ele e o mestre tiveram este aparte.Pouco depois, Nicolas denunciaria à policia o paradeiro de seu mestre, com vista a obter um salvo conduto para fora do País e eis que chegava a Portugal, com todas as mais valias financeiras que tivera o cuidado de subtrair de Jerome.
Por Marisa e Marlene, montara uma  empresa de Publicidade, que lhe permitia aplicar alguns dos seus golpes conhecidos e com provas dadas em França e simultaneamente manter-se livre para vigiar Marisa. Nicolas serviu-se de mais um café e então, tentando se auto controlar sentou-se em frente ao PC , e com outro estado de espírito, abriu um operativo do programa informático que lhe permitia controlar o LapTop de Marisa, e sacou o numero de IP do sujeito com quem ela teclava.
De seguida, abriu o seu email, colou o IP na caixa der texto e acrescentou uma frase: Descobre-o, espia-o e aniquila-o. Queima-lhe o CPU se tiver de ser. Não quero ouvir falar dele. 3.000 Euros são teus na conclusão do apagão dele.
De seguida, mais satisfeito sorriu ao de leve e concentrou-se no diálogo dos jovens:
-Poderemos fugir, deixar tudo para trás.
-Mas Caio, não posso...a sério que não posso!
-Não podes viver sempre assim, e afinal tens quase dezoito.
-E tu?
-E eu vou vivêr sempre contigo!
-Para todo o sempre?
-Sabes que sim, miúda.
-Prometes?
-Promessas são sempre mentiras adiadas, sabes isso.
-Promete-me...
Nicolas soltou um riso de escárnio e levantou-se premeditando o seu regresso a casa.A sua vontade era arrancar já, chegar lá o mais rápido possível e castigá-la de um modo como ela nunca sonhara. A pequena putinha ousava desafiar a sua autoridade, perdia-lhe o mêdo. Nada podia ser pior para um abusador que sentir a sua prêsa ficar mais forte, mais destemida.
Como pudera ela lhe fazer isso? Como pudera ela se apaixonar?
Não, não podia ser nada forte, apenas ela não resistira a um jovem da sua idade!
Não era ela quem devia ser castigada, mas esse infeliz que ousava desafiá-lo. Sim, fora ele quem dera a volta à cabeça de Marisa. A sua Marisa não iria trocá-lo de livre vontade por um desgraçado de um puto.
Por outro lado, Nicolas não podia demonstrar que tinha acesso ao Toshiba dela, de um modo que ela jamais calculara. Isso poderia enfraquecê-lo diante dela e pior que tudo, bem que ela poderia deixar de usar o computador.
O problema mantinha-se: Como podia ele a castigar sem que ela soubesse que a sua fúria era devido ao seu conhecimento da sua relação com aquele fedelho?.
Quando iniciou a sua relação com Marlene, percebeu que a mãe era fácil de conquistar, mas para o fazer teria que conquistar a simpatia da filha. Agora chegava a um ponto em que superara a sua ambição e detinha as duas, sob a sua alça. Claro que por vezes era forçado a castigar Marisa e a marcar a sua posição igualmente perante Marlene. Ele era o homem da casa, o chefe supremo e não toleraria qualquer desafio.
Com a sua companheira não tinha qualquer chatice ou receio, mas os jovens...Ah os jovens são sempre rebeldes e imprevisíveis e não havia sido propriamente fácil dobrar Marisa.
O telefone tocou, num zumbido metálico, arrancando-o dos seus devaneios e voltando-o a irritar. Ele tinha deixado instruções precisas à sua secretária para não ser interrompido. Nunca gostava de ser interrompido, quando se dedicava a Marisa:
-Oui?
-Perdão Senhor, mas está aqui um vendedor que insiste...
-Ele que desande. Não o vou recebêr, nem agora nem nunca.
-Mas...
-Creio que fui claro, menina Sofia!
Um silêncio de segundos surgiu, para depois ela se despedir.
-Com certeza, senhor.
Num gesto brusco ele atirou com o o lápis com que se entretinha a fazer círculos no ar, e então sorriu de agrado. Sofia dera-lhe uma ideia. Sem ponta de hesitação, pegou no seu telemóvel e ligou a Marisa, enquanto mantinha um olhar cuidado no monitor:
-Sim?
-Estás na escola Marisa?
-Não senhor. Não tenho aulas de manhã. Porquê?
- Não, por nada...
Com um ar apreensivo ele assistiu ao diálogo no Messenger entre os dois:
-Meu Deus,ele está a ligar!
-Quem?
-Ele.
-Não atendas.
-Tenho de o fazer.
-Mas porquê Marisa?
-Tenho de o fazer.
Após um silêncio, ela escreveu:
-Ele está atento!
-Que queres dizer com isso?
-Ele nunca me liga e logo agora...
-Mas...
Segundos depois ela ficou offline.
Esperta a miuda, pensou Nicolas e com satisfação continuou:
-Só liguei para avisar que chegarei mais cedo, a fim de vermos um filme. Pode ser?
-Sim. - Respondeu ela prontamente.
-Excelente. Até logo!
Nicolas sorriu de verdadeira satisfação ao desligar o telemóvel. 
Então ela ainda o temia! Óptimo!


1 comentário:

  1. esta a ser um enorme prazer seguir este conto onde retarta temas tabus.
    desde ja um abraço e fico a espera de mais pra ler.mário silva

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