quarta-feira, 1 de junho de 2011

Infidelius - Capitulo 6 (parte 3)



"O amor é comércio barato
 estratega em vendas de mercado
 que de boca a boca é publicitado!" - Dany Filipa
http://emjeitodeescritaportugal.wordpress.com/2011/05/12/o-amor-e-um-cabrao-de-dany-filipa/

Sofia preparava-se para acabar o expediente e recordava com alegria o inicio da sua actividade profissional, como recepcionista da Logical Spaces Solutions. Na verdade, nem sabia a sorte que lhe tinha caído autênticamente do céu. Vira o anúncio no jornal, cuja página surripara sem chamar a atenção do dono do café e dobrando-o cuidadosamente , como se de uma ultima esperança de vida se tratasse, consultou-o em sossego e uma vez que não tinha numero de telefone incluido, dirigiu-se da parte da tarde à agência de publicidade que solicitava os préstimos de uma secretária.
Na verdade ela não tinha qualquer experiência como secretária. Tinha 22 anos e toda a vida dela até aí, fôra a cuida da mãe, enferma e paralítica.
Os rendimentos da pensão e da Segurança Social não lhe permitiam sequer sobrevivêr e sem piedade, arcou com a responsabilidade de tentar orientar a vida dos outros.
Sempre funcionou em detrimento do que os outros queriam ou pediam, sempre se desdobrou em mil lutas. Com 16 anos ocupava as tardes livres da escola, a lavar escadarias,ou a "fazer limpeza" em casa de quem tinha tudo e não queria partir uma unha.
A custo, muito a custo, acabou o 12º ano, numa altura em que se valorizava o 9º ano e nem assim podia cumprir o seu desejo. Ser estilista!
Repartida entre a mãe, (uma vez que o pai esse havia fugido com a vizinha do terceiro esquerdo, quando ela ainda era bebé e a mãe saudável), e os diferentes trabalhos menores a que se via obrigada, Sofia era cada vez mais uma miuda muito só. Quando não andava dobrada em escadarias de vassoura e esfregão, estava a mudar as fraldas à mãe acamada, ou a limpar a casa.
Nunca tivera um grupo de amigos, nunca tivera alguem que a tivesse olhado como mulher, até esse dia na entrevista.
Sem fundos monetários para se parecer uma secretária, Sofia apostou tudo no que ela tinha de bom, segundo ela mesma. O à vontade de enfrentar qualquer provocação, e a garra de um dia querer ser gente.
Agarrou nas suas melhores calças de ganga e na unica blusa veraneia que possuia, foi a corrêr à corda pegar num sutiã quase sêco, e enfiando o seu pé nuns sapatos prêtos já gastos, rumou a mais uma nega. Assim ela pensava.
Sentiu-se desconfortável , ao chegar ao local indicado. Como formigas,um pelotão de outras raparigas havia chegado primeiro, e comparada a elas, ela nãopassava de um colegial sem interesse.
Pensou logo em abandonar, amaldiçoando-se por não ter uma carteira a tiracolo, como muitas das presentes. Na sua opinião, uma carteira pequena, independentemente da marca, dá um certo charme a quem observa e promove um Status mental.
Sendo das ultimas, encostou-se à parede, como que se escondendo e não se apercebendo do indecoro da situação , apoiou-se na parede com o pé esquerdo como suporte.
Aproveitava o momento de nervosismo das suas concorrentes para as analisar, para memorizar os pormenores dos seus vestidos elegantes, para contemplar os sapatos de diferentes tendências, embora nenhum deles tão gastos quanto os seus.
" Devia haver um Fundo do Governo para uma gaja comprar sapatos" Pensou entre dentes.
Todos os detalhesd evidenciados pelas suas concorrentes eram arquivados e aramazenados na sua mente e então num aceno de ombros negativo, murmurou:
-" Que merda estou eu aqui a fazer? Isto não é para mim! São perfeitas demais, jamais conseguirei algo."
Rodou sobre os calcanhares e tentando evitar os rostos acusadores e de vitória que as outras lhe lançava, dirigiu-se para a porta das escadas.
Ainda hoje, um ano passado ela não sabe o que a fez voltar atrás, mas algo lhe martelava no seu interior, como se houvesse uma mão invísivel a segurá-la, como se lhe segredassem: Grande Burra, não fujas!
Fugir? Ah, ela nunca fôra mulher de fugir. Nada lhe metia medo e a unica coisa que a desarmava fácilmente eram os galanteios sinceros.
Nunca soube conviver com um bom galateio, talvez porque na verdade raramente recebia algum e mesmo quando isso acontecia achava do fundo da sua alma, que só poderia ser equívoco ou que no minímo, a Multiópticas se preparava para ganhar muitos clientes.
Sofia nunca tivera um namorado, um beijo na boca, um sincero galanteio...Flores, nunca tivera uma mísera rosa, quanto mais um ramo ou bouquet.
O amor para Sofia era desculpa de treta de gajos que só queriam paródia. Ria a fio quando assistia a um filme romântico, ou quando ouvia alguem falar de amor.
Comércio barato, um produto provávelmente inventado por chineses para rentabilizar o São Valentim.
Sim, ela recordava-se de quando recebêra uma vez um postal neste dia de comemoração idiota. Um tal de Júlio, colega da turma no seu 10º ano,coligira um enorme testamento onde dava largas à sua paixão, mimando-a com adjectivos como uma Deusa, de uma beleza invulgar e que devia vivêr no seu Olimpo. Já na ultima linha de uma caligrafia correcta,  ela soltou uma risada gritante, dobrou a carta e sem perdêr tempo aproximou-se dele e acenando a cabeça, falou para que todos ouvissem bem: " Ouve lá, se queres ter piada vai para o Circo e se queres te armar em intelectualoide de segunda, vai para o Bloco de Esquerda!".
Não mais recebeu qualquer olhar ou frase romântica e na verdade nunca sentiu falta.
Geralmente o seu dia-a-dia, parecia ter 34 horas e todos os momentos livres eram sagrados. Entre folhas e folhas de caderno, apresentava para um publico invisível a sua linha Primavera/ Verão ou qualquer segmento que considerasse importante. neste momento a sua prioridade de desenho, eram os vestidos compridos, com duas ou três laçadas de forma a fazer roda e meia, e a cair em folhos, como franja de um cabelo, igual aos que  via nos filmes sobre dança.
A mão invisível trouxera-a de volta á sua parede e ao fim de mais 45 minutos ainda aí se mantinha, firme e expectante:
 " Que se dane, o máximo que pode suceder é a pessoa se rir de mim!"
Num ritmo longo, as candidatas ias saindo e a fila de espera diminuia drásticamente, até ao momento em que de relance pela frincha da porta castanha, percebeu que era um homem, apenas um homem a conduzir a entrevista.
Sofia não acreditava em homens. Na sua opinião, fomentada pelo ódio com que ouvia a mãe a queixar-se do pai, não faziam qualquer falta ao Mundo e que só serviam para satirizar e se aproveitarem de quem tinha coração.
Por outro ladop, o facto de ser um homem a conduzir a entrevista não saberia interpretar os seus sinais. Se fosse uma mulher, bastaria olhar para ela, para perceber, que apesar de não correspondêr ao estereótipo de uma secretária, era uma pessoa que necessitava de emprego, que era depositária da confiança patronal e que defenderia a "sua" empresa, melhor que ninguem.
Mas sendo um homem, olharia para ela de alto a baixo, repararia nas suas calças de ganga gastas, nos seus sapatos gastos e acenaria a cabeça, com um unico pensamento : " coitada!"
Sofia aproveitou que a penúltima pessoa à sua frente entrasse e tentou observar melhror o entrevistador. Como pensara...Impecávelmente vestido e provavelmente com um ar de confiança nele.
Estava tramada, completamente tramada. Ele iria passar a tarde a rir-se de si, a não ser que ,,,,Improvisasse!
" Que se lixe, já que ele tem a barriga cheia destas empiriquitadas, vai levar com uma gaja sem complexos! Assim rimos os dois".
Sabia que a sua melhor arma eram os seus sinais fisicos. O olhar sempre calmo e doce, a correcta postura dos seus ombros, o queixo nem demasiado erguido (para não ser tomada como arrogante), nem demasiado baixo (para não ser tomada por pessoa sem presoinalidade).
Se tinha os gestos, tinha que dar um jeito rápidamente!
De modo a não perder mais tempo, avançou rápidamente para o WC, tirou a blusa fora e o sutiã, como não tinha onde o guardar, escondeu-o no cesto dos papeis " apanho-o à saída!", voltou a vestir a camisa, deixando propositadamente os dois primeiros botões abertos e simulou rápidamente ao espelho, como se deveria dobrar, de modo a mostrar um pouco deles, ao seu entrevistador.
Sofia era na verdade dona de uns seios salientes e que quando usava tee shirt captava alguns olhares masculinos. Não era a sua arma secreta, pois só ela sabia as dores de costas que tinha em os carregar, mas era sem dúvida um atributo diferente.
Regressou à parede branca, onde já havia marcado com a sola do sapato, a sua presença e sem perder tempo entrou.
Como havia calculado o homem nem se dera ao trabalho de se levantar, apenas a recebeu com um olhar firme interrogativo.
Ela podia imaginar o que ele pensava " Que raio é isto? Uma visita de estudo?", mas nem assim as pernas lhe tremeram.Percebeu contudo, que a partir desse momento a sua sorte estava condenada.
Não descurou qualquer dos movimentos pré-ensaiados, e deu-lhe uma visão pormenorizada do seu decote, rezando para que pelo menos o deixasse consternado.
Mas o seu entrevistador não desarmou os seus modos, nem a sua atitude. Falava num modo pausado, com umsotaque estranho, mas perfeitamente convincente.
Sofia sabia onde ele queria chegar, mas não lhe deu muitas inmdicações do seu ambiente familiar, nem tão pouco desvalorizou o seu 12º ano.
Transmitiu apenas a ideia que ela seria sempre uma mais valia para a empresa, pela sua vontade e capacidade de querer aprender.
O Sujeito não parecia muito entusiamado, mantendo-se concentrado nela, apenas no rosto dela e isso começava a irritá-la e a induzi-la em pânico.
-Porque o gajo não olha para as mamas. Foda-se todos os homens olham, porque esta besta me olha nos olhos?
O sujeito de sotaque Francês, explicava-lhe calmamente aquilo que pretendia:
-Não é de todo uma tarefa difícil. teremos períodos emn que o telefone não tocará uma unica vez, em que não haverá qualquer Fax para enviar, como poderemos ter alturas em que mal descansa.
-Compreendo perfeitamente senhor.
-Sabe operar com o Word?
-Perfeitamente.
-Tem prática do Windows na óptivca do utilizador?
Sofia hesditou, finalmente ele queria questionar as suas competências. este era o momento em que ela sempre perdia:
-Receio que não tenha assim tanta experiência...
-Porquê?
-Desculpe...- Ela parecia atarantada com a pergunta.
-Porque não tem experiência? ou seja, o que pretendo saber é se tem computador e usa para banalidades ou se realmente tem computador e o usa com a necessidade de saber.
Ela passou derrotada a mão pelo cabelo:
-Eu não tenho computador.- Acabou por confessar.
-Mas sabe...
-Sim, meu senhor. Sei escrever no Word, sei fazer gráficos e cálculos no Excell, inclusivamente  sei trabalhar com Power Point, mas apenas sei o básico. Lamento!
Sofia havia chegado ao limite das suas forças. Estava convencida que pelo menos ele iria ser brando com ela com os faits divers do seu corpo, mas é como se para ele ela fosse uma estátua.
-Porque veio a esta entrevista?
-Desculpe, foi uma estupidez, mas a verdade é que pensei que podia lutar de igual para igual com...
-Menina Sofia, está contratada!
 Ela ficou pálida, como se ele lhe tivesse dado um tiro. Desnorteada, confusa, incrédula:
-Como disse? - perguntou quase sem voz.
-Que está contratada! Não houve uma unica pessoa hoje que se gabásse de saber fazer e escrevêr e que apresentasse as suas referências...Chatas!
-Mas eu não sou uma profissional. Eu nunca...
-Menina Sofia, acredito perfeitamente  que possa estar incrédula, mas por favor não me ofenda. Eu não gosto que coloquem em causa as minhas decisões.
-Sim, desculpe, eu...Sim, tem razão, desculpe!
-Mais um desculpe e fica na história como a pessoa que foi contratada e cinco segundos depois despedida.
Sofia sorriu então pela primeira vez nesse longo dia! Usualmente só sorria quando acabava um desenho.
-A menina, se me permite, tem um rosto lindíssimo e uns lábios perfeitos. Eu acho que é importante para mim, trabalhar com gente bonita e que tem vontade de aprênder e além do mais mademoiselle, deixe-me que lhe diga que agora que está contratada, passará a ter unhas mais cuidadas. Isso é a sua primeira ordem.
Afinal, pensou Sofia, os gajos tambem sabem vêr os sinais, sem pensarem em mamas ou sexo apenas.

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