terça-feira, 7 de junho de 2011

Infidelius - Capitulo 7 (parte 2)



"Cinco minutos de tentação
Mais dois perdidos em devoção
Atirei outros três na solidão
Dez minutos de Tesão" - Rogério Paulo Peixoto
http://rabiscosdealma.blogspot.com/2011/01/reinventa-o-meu-sorriso.html


Os preparativos haviam já iniciado sob o olhar clínico de Caio. De boxers e tee shirt, com o mapa de Portugal aberto sob a sua secretária, estudava alternativas e caminhos e idealizava destinos.
O cerco apertava-se cada vez e o oxigénio  rareava entre os dois. De acordo com os comentários de Marisa, Nicolas alterava significativamente a sua posição de ser passivo e contemplativo e pouco a pouco, ia-se aventurando mais no modo como a tocava.
Desde aquele célebre telefonema que marisa estava diferente, e  Caio sentiu o cerco a fechar-se.
Depois, a estranha coincidência de o ver num ponto diferente da cidade, e sobretudo o olhar que ele lhe deitou.
Como, se por qualquer motivo, ele tivesse a certeza de quem Caio era. Mas como poderia ele saber?
Sempre haviam sido cuidadosos e mesmo nos momentos mais quentes e loucos, tiveram todo o cuidado. Além do mais, jamais Marisa lhe comunicaria algo, ou se deixaria levar pelas suas perguntas maquiavélicas. De certeza absoluta que era apenas impressão dele.
Coçando o queixo com o lápis castanho, Caio debruçou-se mais atentamento nos rascunhos do seu plano para uma vida a dois.
 O grande problema do seu plano era Nicolas. Fugir precipitadamente agravava a ira dele e mais grave que isso,aumentaria a chance de erros infantis e seria fácil para Nicolas seguir o seu rasto de fuga.
Como conseguiria Caio fazer desmoronar toda a fachada de simpatia e honestidade que Nicolas acomulara junto de Marlene?
Por outro lado, a idade de Marisa era problemática. Sendo ela menor, para além de terem de fugir de Nicolas, toinham tambem de evitar a polícia e isso já era bem mais complicado. O fim mais certo seria a cadeia e ele jamais recuperaria Marisa.
No seu intimo, Caio sabia que tinha de ser perfeito a planear e acima de tudo, paciente pelo momento certo.
Certo tambem, que quanto mais ele esparsse, mais Marisa sofria.
Cumprida que estava a primeira tarefa do plano, o arranjar dinheiro para fuga, dependeria agora de Guilherme para a segunda estapa. Mas por agora teria que esperar!
Caio guardou pacientemente os projectos na mêsa de secretária e sentou-se na cama, pegando na viola e tocou os primeiros acordes de uma das canções do caderno preto de Marisa.
A vida dele era toda feita de planos. Aprendera com o pai a ser organizado e metódico, mas agora os planos que traçava para si, eram bem diferentes daqueles que os seus pais esperavam.
para tudo ele tinha um plano escrevinhado, elaborado por itens. Até para conquistar Marisa ele usara um, dividindo-o em quatro grandes etapas e cada vez que as ultrapassava riscava-as, como se o acto de as riscar as fizessem desaparecer.
Recordava-se de quando os gravou no estudio do pai de Guilherme, de toda a paixão e querer que colocara no Demo: Ela sabia que ele lera as canções e poemas que ia escrevendo em, segredo, nos intervalos em que o padrasto a visitava. Mas o que ela desconhecia era que ele havia tirado cópias das folhas e que gravaria um demo com elas.
Não tinha uma voz de encanto, mas era melodiosa o quanto bastasse para a surpreênder e jogava tudo o que tinha , naquele momento.
Quando acabou, apressou-se a guardar o demo no bolso das calças, sorrindo e agradecendo ao progenitor do seu melhor amigo, saindo apressadamente.
Faltava a quarta etapa de surpreender Marisa e a mais importante!
A pista para esta etapa, viera por incrivel que pudesse parecer da boca de sua mãe. "A melhor forma de vigiar as aventuras do teu pai é controlar-lhe o telemóvel. Porque os amantes, oh céus são tão inconscientes, que julgam que ninguem repara. Como digo, quanto maior fôr a aventura, mais fácil é o desleixe".
Merda, é isso mesmo, pensou Caio na altura. Se queriam ter alguma privacidade e segredo, precisavam de telemóveis deles apenas. De um contacto apenas dos dois.
Com a desculpa da necessidade da compra de umas novas sapatilhas para o Futsal, que nunca compraria, ele arrancou dinheiro à mãe e comprou dois dos aparelhos mais baratos do mercado, bem como se apoderou de dois cartões pré-pagos.
Caio esboçou um sorriso enquanto se encostou cómodamente na cama. Pensar em Marisa fazia-o sentir tão bem, tão feliz, tão completo.
Pensar no corpo de Marisa, tornava-o tão em paz, tão concentrado nos pequenos pormenores.
Visualizava-a mentalmente quando não estava com ela e a imagem era sempre perfeita.
Sentia-se feliz pela loucura dela em o tocar, em o querer ver nu.
Só odiava que ela o chama-se menino da mamã, tudo porque um dia confessara que a vira deitada na cama a masturbar-se enquanto falava ao telemóvel com alguem que Caio não soube precisar. Mas num determinado momento, confidenciou essa mesma visão com Marisa:
-E então, ela é grandinha para isso, não te parece?
-Sim, mas...bolas é minha mãe.
-E deixa de ser mulher?
-Não, não é isso. Mas podia-o fazer de porta fechada.
-Tu fazes de porta fechada?
-Eu?
-Ah não acredito que tu não o faças?
-Bem, não. É estranho...
-Estranho? É só tirá-lo para fora...
-Mudamos de assunto?
-Já estás duro?
-Marisa pára um pouco e concentra-te...
Sim realmente ele era assim. Demasiado evasivo, sempre fuzilado à queima-roupa pela loucura dela.
Mas houve uma altura em que a deixou sem sabêr o que dizer e foi no momento, em que numa quarta-feira, só podia ser à quarta-feira pois ambos inventaram uma aula fantasma, de forma a irem para o seu quarto, onde invariávelmente faziam amôr.
Aquele mesmo quarto, onde Marisa o havia tomado no seu colo. Aquele mesmo quarto onde ele agora permanecia de mão direita dentro dos boxers, na mesma cama onde a tomara vezes sem conta. Nessa quarta porém , ao invés de se despirem e soltarem a sua paixão, Caio ligou a aparelhagem e inseriu o Cd demo.
-Hoje vamos ter banda sonora? - perguntou ela tirando a tee shirt.
-Mais ou menos, quero que ouças isto. Estive a pensar dar-te para ouvires em casa, mas queria ver a tua reacção.
 Marisa ia contestar, quando de subito ouviu a voz dele, ecoarem nas potentes colunas e sentando-se na cama ouviu atentamente o inicio das primeiras frases:

Here in my room,
pain in my pillow
The darkness will come soon
all over my dreams


A voz dele era no tom perfeito da mágoa que ela pretendia transmitir e instintivamente apertou as mãos, como se temesse desmaiar:

Claustrofobic whisper
ghost of my shadow
ending of my lonely heart
let me die in peace!

O arranjo acustico da viola bem afinada, na voz calibrada dele, humedeciam-lhe os olhos, e no refrão acompanhou com voz trémule a gravação, enquanto Caio a observava rendido a tamanha dor.
Quando a primeira musica acabou, aproximou-se dela, ajoelhou-se e beijou-a demoradamente e encarando-a apenas disse : Os teus mêdos, são agora os meus. Deixa-me ser o bardo do teu infortúnio. Apenas quiz partilhar esse teu Eu contigo.
A custo ela limpou as lágrimas com as costas da mão direita e segredou-lhe:
-És encantador e perfeito. Foi a melhor coisa que fizeram por mim. Amo-te!
Num gemido incontido de olhos cerrados, e boxers recuadas, Caio suspirou por uma vida a dois, onde pelo menos ela o bservasse tambem nestes momentos.


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