segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Infidelius - Capitulo 10 (parte 4)



Decidis-te agora errar ó poderosa criatura
Decidis-te agora ignorar quem te atura
E sofrerás o sabor do errado
Nos teus lábios, feito pecado! - Mefistus

Surpreendentemente as más decisões chegam sem aviso, sem preparação, sem cuidado. Tombam como uma maçã madura de um galho, em cheio na mente e o que parecia uma bosa solução, ou uma impecável acção, conduz inevitávelmente a um desastre sem salvação.
É difícil reconhecer uma bosa solução, quando ela surge. Não vem bem vestida a descer os degraus altiva, em direcção à nossa mêsa, nem vem em sussurro de anjo, enquanto se dorme.
Uma boa ideia tal como uma péssima ideia, simplesmente vêm, sem nada o prevêr, aterrando no Ser que a teve, rosnando-lhe aos ouvidos, infiltrando-se no pensamento, enfim tomando esse Ser por completo.
Como se não fosse suficiente, surge sempre num dado momento de stress, qual Diva de uma tragicomédia grega, implorando para ser ouvida, para ser tomada , para ser consumida.
Domingo, Nicolas tomou uma decisão. Sem floreados, sem enredos, apenas em devaneios líricos, encontrou uma forma de enfrentar quem o martirizara nas ultimas horas.
De bom grado ele aceitaria muita coisa, sem se dar ao trabalho de ripostar, ou de dar luta, mas tudo o que envolvesse Marisa, era diferente.
Desde os 14 anos que ele a treinava para ser sua amante, que ele a nomeara como sua, como unica.
Criara essa imagem mental de uma menina dócil, a ganhar corpo, a começar a ter mamas. Criara esse paranoico ideal de a moldar, como se fosse o seu supremo Criador e de a instrumentalizar para lhe dar prazer.
Armou-se de tal forma, nesse psicológico papel, que se viciou na magnitude do poder de livremente usufruir dela sempre que quizesse.
Tomara os devidos cuidados, pois geralmente só a visitava de noite, após horas de sexo com Marlene, de forma a não cometer erros, a não permitir que a intensidade do toque nela, o levasse a fins impensáveis.
De um modo absolutamente estranho, aprendera a dar valor a esses pequenos caprichos, aprendendo igualmente a usar com moderação todo aquele pico de tesão.
Agradáva-lhe sobretudo a sua vida, conforme a vivia até então e não iria permitir que um qualquer sujeito colocasse em causa tudo o que ganhara.
Não havia sido fácil conquistar Marisa e sempre soube que um dia teria de lutar por ela, mas sempre cuidou que esse dia demoraria.
Tamborilando os dedos no volante do carro, acabou por se decidir a enfrentar o seu opositor, o que se viria a revelar um dos seus maiores erros de acção.
Se se  tivesse acalmado,  se tivesse respirado, teria agido de uma forma diferente, apanharia os dois em falso e ali mesmo com a polícia ao seu lado, resolveria a situação. Mas acabou por se decidir pelo confronto, pela arrogância, não só serviu para preparar melhor o seu opositor como deixou pegadas bem visíveis aos pais, que testemunhariam contra ele, no caso hipotético de algo suceder ao jovem.
E então inevitávelmente descobririam que ele não faria parte de conselho de qualquer escola e mais não era que um vil pedófilo.
Curiosamente os pedófilos nunca se vêm como tal, sempre procuram em qualquer razão obscura e sem lógica, uma desculpa plausível para a sua doença.
A queda, como se costuma dizer, doi muito, por vezes bastante e a pior queda é aquela em que pela primeira vez, nos alertam para aquilo que realmente somos.
Como um malabarista de circo que após anos a proceder mecânicamente ao mesmo numero rotineiro, de repente hesita e pensa e falha o momento cirúrgico e...cai!
Noutro tempo, Nicolas certamente sorriria ante esta analogia. Ele sempre se considerara uma espécie de Houdini, de grande mágico. Ele sempre supunha sabêr as combinações dos cadeados e os truques das correntes, mas tal como o Houdini um dia...
O pior é que à saída do encontro domingueiro em casa do seu opositor, Nicolas assustara-se verdadeiramente com a força e carisma de Caio.
Ele estava à espera de encontrar um parvo sonhador, um puto com a mania que era gente grande, mas ao invés, encontrou um jovem maduro, ciente do que queria e do que pretendia. Um jovem com ideias precisas e pulso firme, mesmo sob pressão familiar, de defender os seus pensamentos e ideais.
Isso chocou terrivelmente Nicolas, que percebeu então, por meio de falsos sorrisos de confiança que ensaiava, que havia perdido o embate.
 Ele estava ao corrente do plano de fuga de Caio com Marisa, embora desconhecendo de momento, como realmente os dois planeavam fugir. Tinha apenas uma data, essa Terça-Feira que seguiria no desfolhar do calendário da semana que se aproximava.
Para além do mais, ele percebeu que Caio sabia muito bem quem Nicolas era e confirmou o seu maior receio, de que havia de facto provas circunstanciais contra ele.
Aquela Putinha havia-o traído, na sua jura de silêncio!
Agora que ela faria 18 anos na quarta-feira e que ele a teria como prémio. o supra-sumo de todo o seu trabalho nesses quatro anos, é que ela se preparava para fugir.
Como poderia ela trocá-lo por aquilo? Grunhiu entre dentes.
Regressou a casa calado e confuso, absorto nos seus problemas recentes. Por duas vezes, perdera as estribeiras e nessas duas vezes colocara em risco a sua continuidade nesta vida que escolhera.
Perdera por completo a razão, quando violara a frio Sofia, no seu gabinete.Nunca o deveria ter feito, nem sequer tal havia sido premeditado.Mas a verdade é que o fizera e agora estava dependente de uma reacção dela, e perdera igualmente a razão neste parvo confronto com Caio.
De repente vira-se rodeado por uma data de problemas e a todos teria que dar resposta. Tinha a Marisa, repentinamente mudada e disposta a enfrentá-lo, tinha um adversário com estampa, disposto a roubá-la de si e por fim tinha a Sofia, que supostamente deveria ser seu braço direito e agora?
Por uma fracção de segundos, abandonou o seu drama por Marisa e concentrou-se em Sofia. E se por mero acaso, ela pretendesse vingança? O que ela poderia fazeêr para o assustar?
Nicolas que se mantinha calado durante a refeição, indiferente aos olhares de superioridade que Marisa lhe deitava do outro extremo da mesa, consultou o relógio.
Que poderia Sofia fazer? Tudo. Afinal ela tinha livre acesso a tudo, inclusivamente ao seu gabinete. Ele nunca fechava o seu gabinete....
De repente sentiu-se mal disposto e nervoso, sentia as veias a latejarem-lhe e sentiu a pressão do sangue como uma poderosa locomotiva a gargar-lhe o corpo.
Teria de ir ao escritório, teria de não só se certificar que tudo estava bem, bem como alinhar arestas contra Caio.
Levantou-se a meio do almoço, simulando estar a receber uma chamada no seu telemóvel sempre sem som ao Domingo e beijando apressadamente Marlene saiu, perante o olhar estupefacto da companheira:
-Desculpa amôr,...Negócios.
Marisa por seu turno franziu o sobrolho. O monstro estava a preparar alguma, teria que se mantêr atenta, embora soubesse perfeitamente que nada a poderia atingir. pois agora ela era força, era raio-de-luz!
Ou podia?? 


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