quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Infidelius - Capitulo 12




"Era um fado de imensas memórias
De amores perdidos, outras história
de sexo, morte e vida, suas glórias
De tragédias e vidas inglórias." - Rogério Paulo Peixoto
http://rabiscosdealma.blogspot.com/2011/06/fado-fadado-e-nao-cantado.html


Quando os primeiros raios de sol, irromperam timidamente por entre as nuvens, lambendo as ruas e as casas, com uma lingua primaveril, ele estava acordado.
Não dormira grande coisa a noite anterior, tal a excitação da espera deste dia e não encontrara forma de atenuar as suas preocupações.
Desde o encontro na sala de jantar de sua casa com Nicolas, que Caio percebeu que o seu destino estava comprometido, mas não o ria dar por perdido sem tentar dar luta.
Tudo mudara nestes ultimos dias e apesar da presença constante de Nicolas no seu pensamento, durante os preparativos da fuga, nunca se deviou um milímetro do seu plano original. Mais a mais, porque não tinha qualquer forma de avisar Marisa de qualquer mudança de planos e por outro lado, temia que a simples mudança de local de encontro a demovesse da fuga.
Bem vistas as coisas, desde que se se reuniu forçadamente com Nicolas, que Caio não acedeu ao computador, e desfez-se rápidamente do telemóvel secreto, para evitar desconfianças.
A verdade porém é que se não mudara os planos, passara a ter mais cuidado e tivera que criar à força e com pressa um segundo plano. Um plano alternativo, um plano malicioso, um plano ainda mais perigoso.
Só depois de o acabar é que concluiu, que não seria um plano de recuros, mas que faria efectivamente parte do seu plano original.
Com um sorriso de malícia, Caio dera seguimento ao que chamara de "apertar" o padrasto de Marisa.
Era um plano perigoso, porque nunca na vida, ela concordaria com a realização deste seu plano, dado que colocava em causa a estabilidade conjugal da mãe. Mas por vezes, temos de agir e acordo com o que é importante, doa a quem doer. Em terminologia de guerra, se chama de Danos colaterais.
A prioridade de Caio é apenas Marisa. Nunca conheceu a mãe, nunca privou de perto com o ambiente familiar dela, mas os ecos que recebia da violência do padrasto bastavam-lhe para o assustar. Afinal, não existem inocentes!
Mesmo acreditando que Marlene, a mãe não estivesse ao corrente do que se passava, ele não acreditava que ela pudess confiar tanto numa pessoa que apenas conhecia à poucos anos, ignorando uma filha que era sangue do seu sangue.
Importante, pensou ele, era salvaguardar tudo o que acreditava, ttudo o que defendia e tudo o que se preparava para abraçar. Não podia haver mais medo na sua relação com Marisa e isso só era possível, se mantivesse Nicolas ocupado.
Enquanto tomava a sua segunda chávena de café no espaço de meia hora, Caio releu a carta que deixara para a mãe, de forma a tentar encravar Nicolas:

Querida Mãe,


Desculpa nunca te ter contado nada. Desculpa toda esta situação da carta, mas realmente não sei como procedêr.
No teu colo fui embalado, ensinado a acreditar que todos os homens são bons, que sou responsável pelas coisas positivas que me rodeiam, mas que sou igualmente responsável pelas maldades que possa cometer.
Pois bem, querida mãe eu fiz bastantes maldades nestes ultimos tempos. Eu portei-me como um qualquer , um mentiroso compulsivo, um braço-direito de um escroque da pior espécie.
Sem me dar conta abandonei os meus principios, deixei a turma do futebol, envolvi-me em negócios que não compreendia e deixei os meus amigos de infância.
Mas acredita mãe, que eu só tinha boas intenções. Fui seduzido na mentira por um Ás de pura maldade e quendo me dei conta, já não era fácil desistir.
Quero que saibas, querida mãe,que te amo do fundo do coração e contigo partilhei todos estes magníficos anos.
Mas subitamente esse escroque entrou na minha vida, e virou-a ao contrário.
Esse escroque que se faz passar por membro do Conselho Directivo da Escola, mais não é que um vulgar ladrão, que me usou para sacar algum dinheiro da tua conta, com o teu Visa.
Sei que não o devia ter feito, atraiçoei a tua confiança e sobretudo pactuei com as loucuras deste homem. A questão, querida mãe, é que como finalmente arranjei coragem para o enfrentar, ele agora ameaçou-me e temo pela minha vida. Acredita que sei que ele é capaz.
Este homem, que esteve aqui em casa, na nossa sala e emque tu tão plácidamente confias-te, tem um escritório na baixa e creio que seria interessante se a polícia lá fosse fazer uma visitinha.
A própria filha dele era usada por ele em esquemas identicos, tambem ela ameaçada e na ultima sexta-feira resolveu ir à policia, ele viu-a e desde então não mais foi vista.
Tenho medo, muito medo e se tu chegas-te a ler esta carta é porque realemente não voltei ao sossego do meu quarto.
Promete-me que o castigarás se tal suceder!


Amo-te mãe!

 Ele chorou compulsivamente. Odiava mentir e sobretudo mentir tão deliberadamente com o unico intuito de prejudicar Nicolas. É certo que ele podia apenas partir e deixar para trás um lar já desfeito, onde tambem ali, ele desistiu de lutar e de os guiar à razão, mas no seu íntimo Caio acreditava que talvez nunca chegasse a estar com Marisa. Mas se por acaso o conseguisse, então deixaria passar uma semana e surgiria na esquadra com provas irrefutáveis do que afirmava.
Encolheu os ombros, mais como um sinal de cansaço que de impotência e releu a carta que nunca chegaria à esquadra da polícia:

Caro Inspector;


Sei de antemão que nada do que vou afirmar é novidade para si, mas venho por este motivo assumir a culpa, nos vários roubos efectuados no bairro onde vivo.
Sei que só pelo simples facto de enviar esta missiva, não me ilibará de me apresentar na vossa esquadra a fim de ser submetido ao procedimento normal para arguidos, mas receio que esse dia nunca venha a suceder.
Estou contudo disposto a chegar a um entendimento com os vossos serviços e envio em anexo a morada, onde os mesmos bens furtados se encontram armazenados. Aí encontrarão o mentor destes roubos na pessoa de Nicolas Dussard ou outra identidade,das muitas falsas que usa, e verão que ele oferecerá resistência. Creio efectivamente que ande ainda armado!
Como disse, é minha vontade apresentar-me daqui a dois dias na vossa esquadra, pelas dez horas e trinta da manhã e responder a todas as vossas questões.


Cumprimentos,

Caio deixou deliberadamente a carta por assinar, pois na verdade não fazia a minima intenção mais uma mentira,. apenas queria que se as coisas corresem mal, a mãe a visse ainda no envelope aberto e apertasse ainda mais o cerco a quem devia.
Futilidades, pensou meio enervado e de seguida vestiu-se , com um sentimentoímpar de que seria a ultima vez que o faria naquele quarto.
Sim, era finalmente o dia da grande fuga.  dia da morte de Caio e da reencarnação como outro Caio, como o Caio feliz e sorridente, amado por Marisa e distante dos seus dramas familiares.
O mesmo dia, mas um outro Caio!
Para isso só precisava de dar o pontapé de saída e agarrando obstinadamente a mochila, guardou algumas notas de vinte euros estratégicamente dobradas, no bolso direito das calças e saiu.
Como esperava, os dois sujeitos que desde ontem o seguiam encontravam-se a postos. Só poderiam estar a mando de Nicolas, pelo que seria de bom tom não mostrar que já os avistara.
Diligentemente, sentou-se na Vespa, com a mochila a tiracolo, apertou a fivela do capacete cinzento sem viseira, calçou as luvas de cabedal demoradamente, numa tentativa de enervar quem o perseguia e aguardou.
 Bem vistas as coisas nada podia fazer de extraordinário, dado que era apenas uma Vespa, uma mota nada potente, uma mota para dar umas voltas e não para grandes fugas. Independentemente do carro que eles conduziam...Era sempre e só apenas uma Vespa!
No fundo, pensou ele encolhendo os ombros, era como um Porche a perseguir um trator!
Esta parte do plno não estava preparada ou estudada, dado que quando ele planeou, não esperava dois gorilas sentados num carro, à espera que ee arrancasse de Vespa.
Caio vira-os por acidente ontem, enquanto caminhava absorto para casa. Reparouneles, por uma estranha coincidência. Tendo o hábito de colocar a argola metal do porta-chaves, no dedo indicador da mão direita, tinha por hábito rodá-las como uma hélice de um helicóptero e então a argola soltou-se do dedo e cairam. No momento em que ele se preparava para as apanhar, reparou naqueles olhos vazios e duros em cima dele..."Onde quer que estejas, eu te observarei...", algo assim que Nicolas disse, e pelos vistos falava verdade.
Quem se dava ao trabalho de subcontratar dois gorilas para perseguir um tótó? Quem se dava ao incómodo de perseguir um puto numa Vespa? Teria o seu inimigo tanto respeito por ele, que temesse que ele pudesse de alguma forma pôr em perigo o plano de Nicolas?
Caio sorriu...De certa forma ele acertou e agora tinha uma chance. Apenas uma chance de eliminar estes dois.
Entrecortada no alto da colina que dava para a sua residencia, encontrava-se nas encostas uma escadaria algo longa, se a Vespa aguentasse....Eles teriam que dar a volta ao quarteirão e ...não, ele não era um bom condutor e duvidava que a Vespa conseguisse descer os degraus...Merda, Marisa se ao menos ela lhe tivesse vendido a 125 CC.
Caio respirou fundo, olhou por cima do ombro duireito para o carro,colocou o motor da Vespa a trabalhar e arrancou.
Segundos depois o Ford Fiesta fez exactamente o mesmo!
Isto vai ser complicado, barafustou Caio, rodando ferozmente o manípulo direito do velocipede.



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