quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Infidelius - Parte II - Capitulo 11




Passamos a vida inteira a tentar ser amados,
fingimos amar os outros, num servilismo interesseiro,
de obrigar alguém a retribuir algo que nem sabemos dar...
Porque o amor magoa e a mágoa assusta...

Inês Dunas:" Mel do masoquismo"
http://librisscriptaest.blogspot.com/


De olhos inchados por falta de descanso e atenção permanente ao rádio, o inspector mexia-se pouco à vontade no banco de estofos azulados. Sabia no seu íntimo que seria apenas uma questão de horas até os seus homens conseguirem detectar e seguir o rasto de Nicolas, mas até lá ele próprio tinha de se manter vigilante.
Tinha a perfeita consciência que todo este caso fôra mal conduzido por si desde o início e para agravar a questão, deixara-se ludibriar por um escroque como uma criança de 12 anos. Assim, não só permitira a hipotética fuga de Nicolas, como a do impostor Belga e colocara em perigo uma sua agente, que encetara uma teoria recambolesca.
Falhara em toda a plenitude e se era verdade que a "descasca" que iria levar do comandante seria enorme, a conciência de ter colocado em perigo a paixão da sua vida, motivava-lhe toda esta revolta. Não era o enorme relatório de Mea Culpa, que teria que fazer, mas acima de tudo, voltar a encarar Angélica depois de toda esta confusão.
O que ele fazia. o que ele demonstrava, aquilo que no fundo ele era, resumia-se a surpreender Angélica e chamar a atenção da detective para a sua pessoa. Nunca tinha tido grande sorte com as mulheres, afinal sempre tinha sido um condutor de homens, sempre tinha gerido a carreira de todos os seus subordinados, com especial à vontade, mas em relação a ela, comportava-se como um adolescente e isso irritava-o profundamente.
Talvez, para ele o amor fosse um castigo e por qualquer razão, Deus ou o Destino haviam vedado esse direito a ele, impedindo-o de um dia sentir o prazer da entrega do corpo de uma mulher, sem ter de pagar para isso. Talvez um dia...
Cigarro atrás de cigarro, a sua obcessão por notícias frescas aumentava gradualmente, enquanto sentado no carro, tentava analisar sempre detalhadamente todo este caso Vespa.
Os sinais haviam sido evidentes desde o primeiro dia. O ar calmo de Nicolas, o ar calmo do puto patifoide, nessa altura longe de imaginar que Guilherme era da família de Nicolas e talvez feito com Nicolas....Maqs porque ele não encostou o puto à parede?
Deu uma palmava irada no volante e percebeu que não apertou com o miudo pois aquele sujeito pequeno e arrogante de sotaque Belga, avançou com uma teoria de drogas e o diabo a quatro. Drogas? Como ele tinha sido tão iludido!
Na altura, ao ouvir falar em drogas, a un ica coisa que lhe veio à mente, foi a chance de uma primeira página, de abertura dos noticiários, de se "exibir" a Angélica.
Sim, fôra isso que o cegara e o diabo do pequeno Belga sabia exactamente que a sua reacção seria essa.
Andou horas numa caça aos gambuzinus, trocando os factos por hipóteses, procurando fantasmas, enquanto os vivos o enterravam.
Agora só dependia de um golpe de sorte e apesar de permanecer confiante no surgimento de um milagre, nas próximas horas era mais uma questão de fé que própriamente devido a trabalho de investigação.
Simplesmente já não havia empo. Recebera a confirmação quie Nicolas estava em algum lugar a sós co Marisa, provávelmente raptara-a para servir como refém de fuga, o pequeno impostor Belga desapareceu igualmente sem deixar rasto e do puto ranhoso que tinha ido prestar depoiment, não havia qualquer notícia sobre o seu paradeiro.
Coincidências, atrasos, facilidades....Todos à sua volta pareciam mover-se rapidamente, como se estivessem numa dimensão paralela e só ele funcionava a carvão.
Marisa corria perigo, ele corria perigo, Angélica corria perigo e até a mãe de Marisa corria perigo.
Mas agora ele não iria descurar o génio de Nicolas. Agora sabia perfeitamente que não poderia dar um passo em falso.
Nevosamente, certificou-se pela miléssima vez nessa meia hora que o rádio se encontrava ligado, tirou a sua arma do coldre uma vez mais, revisitou a munição, soltou o travão de segurança e voltou a guardá-la.
Ele estava preparado e atiraria a matar se tivesse de ser. Não tinha tempo para reféns!
Onze anos na polícia. Onze anos de esquecimento de si mesmo, de rotinas com o sono trocado. Anos de dedicação a uma causa maior, a algo que para muito é intercepível: Servir e proteger! 
Um eteno juramento cuspido num suspiro no dia da sua formação e que o tempo e pó dos dias haviam transformado num velho e gasto slogan de um tempo de inocência.
Hoje já não quer servir, mas dirigir. Devia ainda saber proteger, mas prefere deixar acontecer. Ao que ele chegara, suspirou ele entre dentes.
Talvez no fundo, não fosse bem assim, talvez no fundo, por ironia das coisas maiores ele tivesse de saborear a derrota para dar destaque à sua vitória! Talvez tenha de saber perder para aprender a vencer...Filosofias!!
O seu grande problema era o tempo que avançava desenfreadamente numa corrida contra ele.
Bolas, pensou, porque eu simplesmente não arquivo tudo isto por falta de provas e atiro para trás das costas? Afinal, era a pura verdade. Apesar de algumas cartas encontradas no quarto da hipotética vitíma, nada tinha de substâncial. E uma vez que o corpo de Caio nunca chegara a aparecer, não teria a autópsia para sustentar alguma agressão e sendo assim, a teoria de assasinato seria fácilmente derrubada até por uma dvogado inexperiente.
Um milagre, só preciso da merda de um milagre, suspirou ele nervosamente por entre uma névoa de fumo azulado.
O que o inspector desconhecia é que um milagre estava a chegar, sob a forma de comunicado rádio. O destino, por vezes tem destas coisas e resolve funcionar a pedido. por vezes é só preciso ter fé. 
O vibrar do Nókia no bolso do seu casaco, alertou-o e ansiosamente atendeu:
-Sim?
-Inspector?
-Sim.
-Não vai acreditar nisto! - O seu subordinado parecia hesitante em dar a notícia.
-Já acredito em tudo, que se passa?
-Temos o paradeiro do suspeito.
-De Nicolas?
-Correcto.
-Optimo, onde?
-Na Avenida Infante Sagres, um hotel...
-Um Hotel?
-Correcto.
-Afirmativo, todos os homens que avancem para as imediações. Aguardem a minha chegada e mantenham-se discretos.
-Combinado...
-Escuta, quem o viu?
-Essa é a melhor parte, todos os agentes receberam um email com esta dica anónima. Supostamente alguem sabia que o procuravamos.
Por milésimos de segundos o inspector sentiu a sua mente a congelar, asvárias ideias e pensamentos que sempre lhe ocorrem no momento de ditar ordens, pararam e sem reflectir, retorquiu a custo:
-Mudança de planos, isso não me está a cheirar nada bem. Todos os homens que se mantenham atentos, eu irei sozinho investigar essa informação. Repito, não abandonem os vossos postso. Combinado?
-Perfeitamente inspector.
Fechando apressadamente a tampa do aparelho, meditou:
-Ok, o que raio faz um gajo suspeito de abusos sexuais a menores, com uma miuda de 17 anos num quarto de hotel? E quem podia sabêr os endereços de email dos meus homens?
Só uma resposta vinha à sua mente, Nicolas e o impostor Belga estavam metidos nisto e Marisa sempre estava como refém. Mas então porque se esconderem num quarto de hotel, em vez de tentarem fugir do País?
Deu à chave a arrancou em direcção à Avenida Infante Santo, enquanto na sua mente traçava cenários possíveis. E se fosse uma armadilha? E se os dois lançaram um isco para todos os agentes seguirem numa direcção errada? Que poderiam lucrar com isso?
Acendeu um novo Camel, enquando ignorava dois semáforos vermelhos e de súbito tentou uma linha de pensamento diferente:
-E se os dois belgas não forem cumplices mas rivais?
Merda, pensou ele nervosamente, nesse caso...Deus ajude a miuda, pois já pode ser tarde.
Pisando furiosamente o acelerador do carro descaracterizado, tentou avançar rapidamente os ultimos 5 quarteirões que faltavam.


Sem comentários:

Enviar um comentário