terça-feira, 29 de novembro de 2011

O acordar dos sentidos - Capítulo 1 - parte 6 -



"Houve uma malícia burlesca nas gargalhadas espalhadas
aos ventos da saudade,
entre promessas dispersas em casas escritas no céu..
E um véu de juventude irreflectida que despiu os olhos
proibidos e desnudou as rugas da razão..."

Libris Scripta Est
http://librisscriptaest.blogspot.com/2011/11/pedestais.html


Novembro de 2012 - Gabinete do Primeiro Ministro. Lisboa

Não era só ao representante do Governo que o nervosismo assolava, tomando e dirigindo a vontade de raciocinar, de poder pensar racionalmente sobre o modo e caminho a seguir.
O seu acessor, vulgo braço-direito, procurou um espaço tranquilo de modo a poder fazer a sua terceira chamada do dia.
De algum modo, sentia, peses a sua curta experiência política, que os ultimos acontecimentos toldavam e moldavam o habitualmente bom raciocínio do seu líder e se ele porventura caísse, tambem o seu acessor caíria, o que seria sem dúvida drástico para os planos pré-estabelecidos, das secretas forças que o colocaram no Governo.
A medo, difitou um número que sabia de cor, no seu LG e aguardou:
-Sim?
-Temos problemas.
-De que tipo?
-O cavalo está a principiar a cegar, a caravana segue à deriva.
-Temos visto o início da cegueira. Terás de ser tu, Portucalle a tomar conta...
-Mas Portus, não era isto que supostamente...
-Estamos atentos, estamos alerta. No entanto terás de agir como sempre o fizeste, caro irmão. Portugal não pode agora estar à deriva. Arranja um modo...
-Certo senhor, mas este episódio está a afectar a governação.
-Tudo está a afectar a governação, desde que a Troika cá chegou.
-Compreendo.
-E de futuro....
-Sim?
-Não uses este número.
-Oh perdão, eu...
A chamada foi ingterrompida, provávelmente porque o Grão-Mestre da GOL, achou que não valia a pêna continuar a convefrsa.
Guardando atrapalhadamente o telemóvel no bolso, o maçónico passou as mãos pela cara e enervado, dirigiu-se ao gabinete do Primeiro ministro a fim de ultimar as pontas soltas para o discurso dessa tarde à nação.

Novembro de 2012. sede do Grande Oriente Lusitano - Lisboa.

Após desligar a chamada, o Grão-Mestre, irritado voltou a subir o som da televisão. Desde sempre que o GOL tinha zelado pelo bem estar da Nação, mas com o surgimento deste Franco, com este alvoraçar das gentes, tonava-se demasiado óbvio que algo de imprevisível pudesse acontecer.
As gentes estavam já fartas da Troika, fartas desta crise e de impostos sucessivos.
O principal sinal de insatisfação geral surgiu em Dezembro de 2011, após a IV Manifestação Geral em dezembro, em que pela primeira vez em muitos anos o Povo se rebeliou, tornando a frente da Assembleia da républica, como um verdadeiro palco de guerra. Acabara aí as boas graças e a noa imprensa deste Governo. A questão não era a previsão de um golpe de estado, pois era muitodifícil, retirar alguem que fôra eleito democráticamente, por alguem que não existia como oposição.
Mas com o surguimento deste novo Líder na oposição, o Povo dava mostras de  ter provávelmente encontrado o seu novo líder e se assim fosse, pelo que ele tinha lido nas entrelinhas, talvez a Républica estivesse de novo em perigo e isso o GOL não iria permitir.
Desde sempre que a ordem maçónica conseguiu colocar vultos de interesse nacional no poder e neste momento, segundo ele, Portugal e o GOl precisavam de um novo Marquês de Pombal, para dinamizar a indústria, para catapultar o comércio, para fazer correr o dinhiero pelas ruas.
Com as mãos cruzadas atrás das costas, aquele a quem chamavam pelo nome maçónico de Portucalle, caminhou hesitantemente pelo corredor estreito, fugazmente ilumindado, e como se estivesse a falar para si, advertiu:
-Talvez este Franco não passe de uma caricatura de Fidel Castro. O Povo Português já não se deixa levar por cantigas.

Novembro de 2012 - Parque das Nações - Lisboa

Verónica sentava-se de um modo desconfortável diante de Plácido e de Ana, aguardando com relativo interesse a razão de ter sido convocada para uma reunião nos estúdios do Canal 5.
Plácido tentarmostrar-se indiferente ao rumo dos ultimos acontecimentos, mas agorta depois do que vira nos cafés e ruas da cidade, não poderia de modo algum tentar manter-se neutro.
A verdade é que o surgimento de Franco e de toda esta diamização das conciências políticas e sociais das gentes, havia trazido um fenomenal aumento de audiências do seu canal e pela primeira vez em muitos anos, Plácido via-se obrigado a precisar da confiança que aparentemente a repórter depositava em Franco.
Como um jogador esperimentado, ele consultava os gráficos das ultimas audiências como quem analisa o tabuleiro de Chess, pensando no que poderia fazer com a dama e onde colocar a torre.
A verdade é que o canal seu concorrente apostaria tudo no directo do primeiro ministro e embora a sua consciência profissional lhe indicasse que seria éticamente correcto proceder à cobertura televisiva do discurso do primeiro ministro, o que ele realmente queria era aproveitar e bater a concorrência e só o conseguiria se apresentasse algo novo.
Como um surfista, teria de aproveitar a melhor onda, o melhor pico e dentro de si, algo lhe gritava para colocar Verónica na Rotunda do Marquês.
Por outro lado, não tinha como negar que o envolvimento, acidental ou não, de Verónica com a ideologia do novo Líder, poderia colocar em causa a sua isenção jornalística, ou bem pior, conotar o Canal 5 com esse partido.
Mas era já muito tarde para retrocedêr e nas guerras de audiências, um trunfo destes era para um "All In"!
Quando por fim lhe comunicou que ela estaria na Rotunda do Marquês, na sede do Partido Esquerda Revolucionária, Verónica sorriu ao de leve e com um brilho diferente no olhar, dirigiu-se ao seu destino.
Ficava por fim feliz, por percebêr que tambem o seu "chefe" atribuia grande importância ao Líder.
Talvez este gajo possa mudar algo neste País, pensou ela mordiscando uma bolacha de água e sal.

Novembro de 2012 - Estação da C.P. - Santa Apolónia. Lisboa.

Com uma aparente descontracção o líder do pequeno grupo que desembarcara do Inter-Cidades, seguia em passos certos na frente do pequeno pelotão que o seguia.
Tinham feito uma viagem tranquila até à Capital, com o secreto intuito de prepararem a Grande-Marcha que surgiria em dois dias.
Como Líder de uma célula clanestina ligada à Extrema-Direita, " dedos", como era alcunhado dentro do grupo, via na actual situação política e social do país, o momento oportuno, para fragilizar e contestar ainda mais o Governo e se possível, espalhar um pouco de caos e destruição.
De qualquer modo, o Dezembro de 2011 ainda estava bem vivo nas suas memórias e de certa forma, permitiu-lhe estudar melhor o modo como a polícia de choque actua.
Hoje, ao contrário dessse dia, ele sente-se mais preparado e com a concentração que a tal marcha pode acarretar, é o momento perfeito para atacar.
Isto, no fundo, foi a mensagem que tentou passar aos seus seguidores, mas o "dedos" secretamente temia era a aceitação que aquela figura do novo partido parecia surtir no povo em geral.
Ele não tinha igualmento ficado indiferente! Havia algo naquele rosto de pedra, naqueles olhos incissivos e naquela atitude autoritária, que de certa forma lhe despertavam um secreto respeito e simultaneamente um discreto receio.
Se a Extrema-Direita precisava de um líder, este Franco era a pessoa ideal, rosnou ele entre dentes e sem pensar muito continuou o monólogo;:~
-Mas porque raio é que o gajo é de esquerda 
-Estás a falar comigo, dedos?
-E acaso eu sou doido, para falar sozinho? - disfarçou ele.
-Não. Mas vais tão lançado que não te entendi. repete!
-Digo que Portugal agora é isto - Disse ele apontando abertamente para um grupo de indíduos Indianos.
-Yah! Podes crêr! Estão por toda a parte....
-Assim como os negros.
-Temos de limpar Portugal, mano.
-Temos...Pois temos.
Feliz por percebêr a lealdade de quem o seguia, "dedos" conduziu o grupo até ao número 12 do largo da Graça, subiu-os ao primeiro andar e sem perder tempo, anunciou:
-Sabem o que têm a fazer! os cocktail Molotof têm de ficar prontos até amanhã!
-Não te preocupes mano. Isto vai ser um carnaval!
-Espero bem!
Num ar de visível preocupação, "Dedos" encostou-se à janela e meditou durante largos minutos sobre o que poderia acontecer nos próximos dias.
Atrás de si, na televisão recentemente ligada, o primeiro ministro preparava o início do seu discurso ao País.


4 comentários:

  1. gramei o clip á bfrava, granda musica.

    está cada vez mais empolgante este conto mas estou convencida que o melhor está para vir.
    os gajos da extrema direita estão a preparar alguma.
    Viciante

    Anita

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  2. Os preparativos continuam e Verónica vai estar a dar a conhecer ao povo português as medidas e avanços, de Franco, em primeira mão, conquistou a cereja no topo do bolo, a notoriedade que ambicionava e estar ao lado da causa que começa a acreditar! Será que assistiremos a episódios de violência por parte do grupo recém-surgido, ou o pulso forte de Franco conseguirá ter um controlo total sobre a situação q se avizinha?

    Fico à espera das respostas!!
    Beijinho em ti!
    Inês

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  3. Anita;

    Sempre contente por teus comentários e realizado por saber que este conto te apaixona.

    Muito obrigado!

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  4. Inês,

    Uma pérola essa síntese até agora. Realmente é admirável o poder dos teus comentário.
    Sempre Lúcidos e focados...

    A ver o que Franco ainda esconde!!!

    Volta sempre.

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