quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O acordar dos Sentidos - Capítulo 3." A Grande-Marcha" - Parte 1


"Existem dias de luto, que mais parecem noites cerradas,
quando dançamos com as sombras angustiadas do nosso ser,
a valsa é uma auto-comiseração que desliza pelo nosso salão de baile,
que nos segue, mesmo quando lhe largamos a mão,
com um sorriso de Mona Lisa que acompanha e perturba..."

Inês Dunas
 http://www.librisscriptaest.blogspot.com/2011/12/o-que-sabe-o-amor.html

Início de Dezembro de 2012 -Gabinete do Primeiro Ministro.Lisboa

Desde muito cedo, que nesse dia o Primeiro Ministro e o Ministro da Administração Interna analisavam os pormenores necessários com vista a estancar a famosa Grande-Marcha que franco à muito anunciara.
De certa forma, aguardavam um sem número de militantes ou simpatizantes do partido da Frente Revolucionária, dispostos quem sabe a tentar provocar o caos e a desestabilização da capital.
Tinha-se dobrado, quer em número, quer em eficácia o contingente da força policial, nas entradas da cidade,vigiando as estações de caminhos de ferro, estando atentos a grandes concentrações de massa popular e no entanto apesar de haver um aumento de entradas de pessoas na capital, tal não justificava para já, qualquer risco de instabilidade da ordem social.
Durante toda a manhã, um elevado número de poiliciais, de mota percorriam afincadamente a cidade, dispostos a transmitir de imediato aos ministros, qualquer grande concentração de povo ou qualquer altercação de ordem pública.
Sem querer correr grandes riscos, logo no início da manhã, sentado na sua cadeira de executivo, o Primeiro Ministro propusera a ideia:
-Penso que não só seria mais fácil, bem como mais seguro fechar os acessoas à Assembleia da Républica. Assim controlaríamos de imediato o contingente de simpatizantes e demoveríamos qualquer ideia de caos que esses loucos tencionassem armar.
-Mas senhor, não temos ainda qualquer indício de que possam existir situações de contestação. Segundo o que ouvi, trata-se de uma Marcha silenciosa.
-Não existe qualquer chance de haver uma marcha silênciosa. isso é para nos despistar! Não me diga que realmente acredita que cerca de cem gatos pingados se davam ao trabalho de silenciosamente marcarem presença em frente à Assembleia ?
-Bom, creio que é apenas uma tentativa de protesto e sinceramente é a minha opinião de que estamos a valorizar este facto.
O Primeiro Ministro ergueu-se pacientemente , aproximando-se da janela sem se preocupar em vêr o que se passava. Os seus pensamentos estavam apenas centrados naquilo que os elementos da Extrema-Direita a quem ele propusera o Caos pudesse fazer:
-A diferença, meu caro, é que eu tenho a certeza absoluta que algo irá acontecer e quero estar preparado.
-Mas senhor, pergunto-me se estando a televisão presente, toda a presença das nossas forças policiais não darão uma publicidade extra a esse partido?
-Talvez. Mas prefiro que me vejam como um homem atento e preparado, do que como alguem que subestimou a segurança do meu Povo.
-Senhor, fechar estas artérias ao trânsito, provocará por si só, um caos rodoviário e se estivermos certos quanto àquilo que esperamos,um número aproximado de 100 ou 200 apoiantes então seremos motivo de gozo nos media.
Hesitantemente o Primeiro Ministro afastou as cortinas e observou a cidade calma e tranquila aos seus pés e
rodando obre os calcanhares e ajeitando a gravata,ordenou:
-Seja! Talvez impedir o acesso à Assembleia da Républica não seja de facto uma boa ideia. Faremos ao contrário, mobilizaremos a polícia de choque para a escadaria do edíficio e aguardaremos. Afinal temos a cidade perfeitamente vigiada.
Como se estivesse a vislumbrar uma imagem só ao alcance dos seus olhos, ergueu o indicador da mão direita e continuou:
-No entanto que fique bem assente que o uso da força, a repressão policial deve ser exercida  em doses de provocação, nos apoiantes desta Grande-Marcha. Agir em força sobre uns quantos manifestantes, abafar o livre direito de contestação, pelo uso de força e repressão. Tratar esses manifestantes como meros indíviduos desestabilizadores  e causadores da tranquilidade de uma Nação.E para que não restem dúvidas eu estarei na Assembleia, como espectador previligiado a assistir a essa manifestação.
Com um aceno de cabeça, o Ministro da Administração Interna, abandonou a sala e dirigiu-se para os seus afazeres. Como membro do Governo estava já habituado a todas as formas de protestos e manifestações. Tinha inclusivamente assistido com algum pesar ao frio fim de Dezembro de 2011, onde um protesto contra o aumento dos bens de consumo e a perspectiva de mais cortes, motivou um rastilho de violência, que se expandiu até às grandes cidades do País.
Tal não iria nunca mais  se repetir, tinha sido a garantia expressa, dada pelo Primeiro Ministro à mulher de ferro Alemã e sossegado o seu homólogo Francês e acalmado a indignação do seu homólogo Americano.
De alguma forma , o Governo tinha a consciência perfeita e o receio próprio de quem se atemorizara com o discurso de Franco.

Inicio de Dezembro de 2012. Arreiro - Lisboa

Como um autêntico formigueiro,os autocarros préviamente alugados que chegavam de vários pontos do País iam largando os seus passageiros, pouco equipados com bandeiras, que iniciavam a peregrinação até aos vários locais acordados, delineados à partida.
Apesar de serem alguns autocarros, a vigilância policial mantinha-se apertada , não havendo contudo grande motivo de preocupação.
O numero de passageiros que agora deambulavam pelas ruas, não era de todo um numero significativo que motivasse o sinal de alerta para o ministro de Administração Interna.
O que contudo eles não podiam adivinhar é que exactamente, no outro ponto da cidade durante os dois dias anteriores, vários militantess encontravam-se já a postos para executarem o plano de Franco.
Enquanto os manifestantes se dispersavam pela capital e para alguns era a primeira vez que rumavam a Lisboa, aproveitando a dica da marcha para tambem conhecerem um pouco melhor a cidade, para outros era o dia D, o dia da grande manifestção pública do seu partido e quase secretamente se preparavam a rigôr
Na verdade todos estavam cientes de que este era o momento de força preciso para agitar consciências e mover mentalidades.Não era própriamente o simples facto de estar presente, mas como o poderiam fazer.

Início de Janeiro. Praça do Marquês de Pombal - Lisboa.

Franco observava os ultimos carregamentos de Marketing do seu partido com destino à baixa Lisboeta. A tarde surgira optimista e a presença de chuva e frio não seriam elementos a ter em conta nesse dia.
Apesar do bom tempo as perspectivas de uma enchente humana não eram animadoras e de certa forma ele  mostrava-se apreensivo. Tinha secretamente enviado vários dos seus elementos num périplo pela cidade e os relatórios que ia recebendo pelo smartfone não eram de todo animadores ou inspiradores.
Encolhendo os ombros, meditava sobre o que realmente poderia ter corrido mal. Tinha tido um Feed-Back, bastante positivo das suas duas aparições publicas, o discurso que falsamente improvisara na varanda da sede do seu partido tinha aparentemente tido o efeito desejado e contudo ele esperava uma maior movimentação nesse dia.
Talvez a mensagem não tivesse passado com a força que ele desejara, ou talvez fosse preciso algo mais. Na verdade, poderia bem se dar o caso da população já estar farta de manifestações e de lutar sem resultados práticos. Franco acreditava igualmente que na mente de todos estariam ainda bem fescos os acontecimentos violentos do final do ano passado. Talvez fosse isso, pensou ele de olhar absorto. Talvez fosse preciso algo mais.
De riso aberto ele chegou à conclusão que chefiaria a Grande-Marcha. Se o vissem à cabeça da Manifestação, junto com os seus apoiantes, então a população acharia que seria efectivamente seguro.
Com um olhar malicioso, tirou o telemóvel do bolso e digitou rápidamente uma mensagem a avisar da súbita mudança de planos.Tinha tido algum trabalho para descobrir esse número, mas agora, mais do que nunca, pretendia usá-lo.
Início de Dezembro de 2012. Chiado - Lisboa

Verónica tomava a bica à pressa, pois soubera durante o dia anterior que os manifestantes se reuniriam pelo Rossio, bem como estava programado que todos se dirigiriam ao Areeiro e provávelmente ao Campo das Cebolas, mas sabia igualmente que todas as restantes estações de televisão lá estariam, pelo que optou por um circuito alternativo de forma, a como explicou a Plácido, poder analisar friamente e sem concorrência por perto a disposição dos militantes.
O que na verdade ela não contou, é que de acordo com uma mensagem anónima que recebera anteriormente, alguem a avisara que poderia  interceptar Franco antes mesmo do cameramen chegar e tentar chegar à fala off-the-record com ele, antes do início da Marcha.
Sentindo-se confiante, arriscou em dar uma dentada num bolo-de-arroz, quando nova mensagem surgiu seguida de um leve sinal, ela apressou-se a lêr.
Desta vez, avisavam-na que Franco já não iria acompanhado do seu staff parta o palanque previamente montado para esse efeito diante da Assembleia da Républica, mas para surpresa dela, iria juntar-se de livre e espontãnea vontade aos manifestantes, encabeçando a Marcha do Rossio até à Assembleia da Républica.
Serenamente ela meditou sobre o teôr da mesma mensagem. Era estranho e totalmente imprevissível, que mesmo um Líder como Franco tomasse tal atitude. Certamente que ele até poderia acreditar no sucesso da manifestação, mas era de certa forma bizarro, imaginá-lo fardado, com o seu boné a chefiar anónimos no direito às suas reinvindicações.
Pousando discretamente o bolo-de-arroz, fechou momentaneamente os olhos e tentou visualizar Franco na Marcha. Abriu os olhos e encarou as letras a preto no visor do Nokia preto.
Esfregou as mãos numa tentativa rápida de se livrar de certas migalhas e abrindo um sorriso rasgado, pensou:
-Diabos do Homem....Esta é de génio e eu sei como o encontrar!
A possibilidade de estar ao seu lado, diante da grande marcha, cobrindo como jornalista com lugar priveligiado, seria a cereja no topo do bolo, seria um golpe fantástico da sua parte e marcaria ainda mais a distância em relação à concorrência. Apercebeu-se então que não só Franco necessitava dela, como ela precisava dele, como rampa de lançamento da sua carreira.
Porém, secretamente era mais, muito mais que isso. Ele tinha o condão de a fazer acreditar que o Futuro poderia ser diferente, risonho, executável...No fundo, ela estava perfeitamente apaixonada pelo Homem e pelo político e ainda não se apercebera!

2 comentários:

  1. Hum, isto promete, Franco ao lado dos manifestantes, abrindo caminho, in loco, para a mudança num acto de irmandade social e de ousadia eleitoral! Parece-me muito bem! E Verónica com estatuto privilegiado neste acompanhamento!
    Estou a adorar estes preparativos todos, também posso ir com o Franco?
    :)
    Beijinho grande em ti!
    Inês

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  2. Li não sei quantas partes, e estou a gostar cada vez mais deste teu conto, talvez o melhor entre os melhores.
    Este Franco é qualquer coisa de fenomenal ;)
    beijinhos*

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