quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Desculpa Se Sou Puta -Parte 1 - Capítulo 5




Pudesse eu despir o perfume dos espinhos das rosas,
que me vincam o corpo morto de carinhos violentos...
Pudesse eu sangrar-me e destroçar-me e desamar-me,
para desamar-te..

http://librisscriptaest.blogspot.pt/2011/04/pro-ver-bios.html


Tinha calcado com toda a inocência e ingenuidade do meu ser, a fina linha do não-retorno. Aquela marca invisível, que após a ultrapassar nunca poderia voltar atrás. Fiz dessa linha a minha corda bamba, num equilíbrio penoso entre a racionalidade e a efervescência própria de quem sonha abraçar o Mundo. Há decisões que têm de ser tomadas, grandes pensamentos que necessitam de ser feitos e há a estupidez própria dos meus catorze anos, onde achamos que as decisões ou actos podem ser livremente tomados, sem qualquer consequência, como se de uma birra se tratasse.
As consequências são sempre alheias ao nosso espírito e já não há rede que nos segure de um tombo sórdido, motivado por um acto inconsciente, por vezes cometido num insano momento. Era uma espécie de queda livre onde não temos tempo para pensar ou reflectir. Saltamos de cabeça, de olhos fechados, esperando que no esticar da corda, fiquemos seguros, nem que seja pelos pés.
Recebia com extrema loucura o toque ágil dos dois dedos de P. no meu sexo, tocando, alisando, introduzindo a ponta do polegar, trocando com o indicador, sem dizer uma palavra, sem me olhar nos olhos, só focado na minha concha que se molhava cada vez mais nos seus dedos. Volta e meia segurava o meu clitóris entre o indicador e polegar, apertando-o com alguma força, forçando-me a gemer, a gritar e a gemer vezes sem conta.
Desistira de olhar o que ele fazia, adoptando a mesma técnica que usava no dentista. Fechava os olhos, atirava a cabeça para trás e deixava-me ir. Não por receio, ou por falta de coragem, mas porque no fundo a dor me extasiava. Desde pequena que fazia os possíveis para sentir a mão do meu pai em mim, não sei porquê dado que era raríssimo ele me bater, mas ansiava castigo.
E castigo era o que sofria agora, em espasmos sucessivos às mãos daquele que não só era pai da minha melhor amiga, bem como tinha idade para ser meu pai.
Não posso precisar ao certo quanto tempo demorou tal acto, mas posso assegurar que o gozo era contante. O meu regaço era por esta altura um dilúvio de espasmos e contracções, os meus gemidos ecoavam solenemente audíveis na sala e as minhas unhas cravadas com força no sofá, eram a prova viva do meu desnorte.
Ambicionava que de certa forma aquela tortura cessasse e que ele me tomasse ali, que me fizesse sua. Calculava pelo que me tinham dito, que seria doloroso, que haveria sangue e que gritaria de dor….Podia até ser. Mas neste momento era o que mais queria.
Como um cirurgião, P. operava milagres o caudal imenso de prazer em que o meu sexo se tornava e entre laivos de suspiros alongados e gemidos sibilantes de desejo, procurava com a minha mão apalpar o seu membro. Queria senti-lo naquelas calças, eu que nunca tinha visto um membro duro, implorava agora por o ter à minha disposição, mas ele mantinha-se demasiado afastado.
Convém igualmente acrescentar, que em nenhum momento antes fora forçada a algo ou seduzida por ele. Por incrível que possa parecer, a loucura e responsabilidade haviam sido toda da minha parte.
Mas agora era todo um Universo proibitivo de sensações que sucedia naquele enorme sofá. Havia contudo um Mundo lá fora a girar, na roda natural de um tempo concreto, ditado pelos ponteiros do relógio. Um Mundo de rotinas, de obrigações, de trabalho, de algum divertimento, de tristezas, de alegrias,de premissas imutáveis, de vontades existentes, em suma um Mundo de Gente.
Mas por umas horas, esse deixara de ser o meu Mundo. Deixara o planeta Terra e levitara com a mente, para uma pequena parte da Galáxia, onde só eu e P. Existíamos, onde só havia prazer, por mim demonstrado na forma abnegada com que me entregava ao prazer dos seus gestos rápidos mas firmes na minha vagina. Irónico, pensava eu, como os sentimentos podem ser distorcidos num simples capricho!
Na loucura do desejo, inebriada pelos múltiplos orgasmos, atirei quase sem voz:
-Obrigada!
Subitamente parou e pela primeira vez desde que afastara as calcinhas e o convidara a tocar-me ele fixou o olhar no meu, sorriu abertamente e levou os dedos à minha boca.
Por instinto, abri a boca, recebendo a ponta dos dois dedos, não hesitando a tocar-lhes com a língua, a chupá-los com entusiasmo.
Agi basicamente por impulso, ciente da minha nula experiência, mas talvez tenha deduzido que era esse o gesto por ele pretendido.
Contudo, ele nada disse nem sequer reagiu. Levantou-se demoradamente evitando olhar para mim, esfregou ponta dos dedos nas calças de sarja e concluiu:
-Creio que ainda não estás pronta.
-Pronta para quê? – Indaguei desconsolada.
-Ainda precisas de trabalho…
Olhei-o com uma raiva contida, De início deu-me vontade de o insultar. Senti o palpitar do sangue a ferver-me nas veias e recordo-me que na altura fiz um enorme esforço para manter o meu autocontrole. Demoradamente, como se ousasse o enfrentar juntei as pernas e sem deixar de o encarar, pois percebi que ele me tratava como uma criança. Eu que aspirava a ser mulher às mãos dele e afinal ele limitava-se a ridicularizar-me:
-Não percebo que…
P. interrompeu-me colocando a mão na minha boca e com voz grave, ordenou:
-Levanta-te!
Obedeci, apesar de por dentro ferver. Ele passou-me a mão pelo cabelo, descaiu-a pelas costas e deu-me uma palmada na nádega. Contive-me, não me mexi apesar de segurar com certa força a vontade de o insultar:
-Muito obediente, sim senhora. Gostava que A. também fosse assim. – Depois mudando de tom de voz continuou- Vou preparar o teu banho. Já te chamo!
Assim que saiu, apanhei as calças, tirei o Nokia e mandei uma SMS a A.:
-Olá.
-Estás bem? – Teclou ela rapidamente.
-Sim. Estou em tua casa. O teu pai já tratou de mim.
Bem, tratar talvez fosse um termo apropriado mas não com a intenção com que tinha teclado.
-Vou já para aí!
E de repente estava na sala de estar vazia, parcialmente nua, com os mamilos doridos de desejo e os olhos cobertos de lágrimas de indiferença.

-Sou tão parva! – Conclui para a televisão desligada.

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