sábado, 31 de janeiro de 2015

Desculpa Se Sou Puta -Parte 1 - Capítulo 6







"O mudo som da confusão mórbida que sufoca e provoca ao passar o Amor,
aquele sentimento gasto, de quem gastou o que não tinha e mantinha uma ilusão qualquer...

Crescer dói, mas cura, porque arde."

Inês Dunas: Antigo Testamento


O tempo morde a espera com laivos de fome e segreda aos meus ouvidos uma impetuosidade feroz, própria de um animal selvagem. O som do silêncio em certas circunstâncias é ensurdecedor e castiga numa cacofonia ensurdecedora afugentando qualquer faúlha do pensamento analítico. 
Do entusiasmo à decepção, da loucura à tristeza, da sensação de ser e me sentir especial, adulta e mulher ao penoso retorno da triste realidade. Sofro torturas mil enquanto o meu corpo jaz ao abandono inerte por apenas mais uma ordem, mais um chamamento. Como um animal abandonado à espera do chamamento do seu dono e de voltar a ser feliz.
Acreditara momentos antes ser alvo especial de objecto de desejo e de entrega, provara mesmo o suave toque da malícia em pontas de dedos experientes de quem, acreditava eu, me achara por alguma razão merecedora da sua atenção. Mas agora, tinha sido largada no meio de uma sala fria, sozinha e fragilizada. Talvez por isso tivesse mandado um S.M.S. a A. como uma forma de pedir ajuda ou então que acabasse com todo este suplício. Já não queria mais estar ali, ser uma marioneta nas mãos de quem puramente me desdenhava.
Deixei cair o Nokia no sofá e estranhamente permaneci no mesmo sítio em que ele me deixara, só me apercebendo disso aquando do seu regresso.
P. surgiu em passos tranquilos, sempre com o mesmo sorriso que agora me parecia plastificado e num timbre de voz desprovido de qualquer emoção, informou:
-Tudo pronto! Vamos ao banho?
-Vamos? – Indaguei do alto da minha posição estática.
-Forma de falar…- O olhar dele deteve-se no Nokia caído no sofá.
-Mandei uma mensagem a A. – Apressei-me a esclarecer.
Sem perder a postura ele avançou calmamente até ao sofá e subitamente sem qualquer motivo aparente eu começara a tremer. Passou por mim, desviando-se um pouco, baixou a mão apanhando o telemóvel sem proferir qualquer palavra, desbloqueou o aparelho, consultou a mensagem e com uma feição de rosto dura, indagou friamente:
-Para quê?
-Não sei…Passou-me pela cabeça. – Justifiquei pouco convencida do que dizia.
P. sorriu como os adultos se riem de qualquer parvoíce dita por uma criança e isso enervou-me bastante. No fundo o que aquele sorriso queria demonstrar era a minha infantilidade.
Naquele momento, ali em pé na sala fria tudo o que ambicionava era poder espetar um estalo naquela face repleta de uma autoridade árida e inflexível:
-Eu pensava que tu eras uma menina bem comportada! – Afirmou ele num timbre autoritário.
-Bem, talvez seja….
-Shiu! Não me interessa o que pensas.- Os dedos dele pousaram sob a minha boca, reafirmando a necessidade do meu silêncio.
Podia jurar que por momentos os olhos castanhos de P. brilharam com uma intensidade repentina e sem me deixar contrapor, ordenou:
-Despe-te!
“Vai á merda” pensei eu a queimar de raiva, a sentir o pulsar galopante do sangue a ferver nas minhas veias, com o coração a disparar batimentos próprios de um concerto Hard-Rock e os meus dedos instintivamente a fecharem-se tornando os meus punhos o aspecto de uma rocha.
Iria erguer o braço, arremessar com força o meu punho direito fechado, de forma a embater os nós dos dedos no seu queixo de barba rasa. Contudo, sem perceber como, abri as mãos e principiei a despir-me.
Enquanto as restantes peças de roupa caíam inertes aos meus pés, ele ia-me olhando com um ar estranho. Não de gozo, ou de prazer, mas de autoridade. O seu olhar era frio e contemplativo, um olhar que me trespassava como uma faca, abrindo feridas incuráveis no meu ego e na minha alma. Merda, porque obedecia eu a tal sujeito? Nem aos meus pais prestava semelhante vassalagem. Pois desde pequena que sempre fora habituada a contrapor, a contradizer e a vencer a teimosia deles pela exaustão da repetição de ordens sem sentido e aqui estava eu indefesa, sem capacidade de reacção, perante um pai, um adulto que me revoltava os sentidos, que me transmitia medo e calmaria tudo ao mesmo tempo.
Mantive contudo, por uma questão puramente de recato as cuecas e o sutiã e encarei-o com ar de desafio:
-Não disse para te despires? – Disparou ele assertivamente.
Sem o conseguir voltar a encarar, obedeci timidamente, livrando-me com especial demora da minha roupa interior. Segundos depois era um espantalho nu na sua frente, sem reacção, sem sorriso sem emoções. O frio desaparecera, a minha raiva subira em flecha e eu já não estava ali! Tinha voado mentalmente para outro sítio. Deixara na sua presença o meu corpo, como um invólucro sem vida, como uma estátua imperfeita. Ou então era um robot desprovido de raciocínio ou emoções, presente ano capricho de um botão ON/OFF.
Senti a sua mão fria no meu seio esquerdo, apertando-o, acariciando-o. Senti a boca dele, os seus lábios no meu mamilo. Beijava-o, mordia-o e tilintava-o com a língua. Arrepiei-me, e afastei-me instintivamente, olhando-o de lado:
-Não quero que te mexas! – Bradou ele friamente, voltando a virar o meu rosto para o outro lado.
Obedeci a tremer não de frio, ou de raiva mas de um sentimento estranho que não conhecia. O meu corpo era agora uma montanha russa de emoções e palpitações. Queria fugir dali, mas queria ficar ali, queria chorar, mas queria sorrir, queria gritar, mas permanecia calada. No fundo não sabia o que queria, desconhecendo por completo que há alturas em que realmente mais vale seguir a descoordenação do momento. Sermos ramo largado na correnteza de um rio. Sermos pólen esvoaçando ao vento em dias de ventania exagerada.
A mão dele estacionava sob o meu sexo, o cheiro da sua água-de-colónia voltou às minhas narinas e a proximidade da boca dele no meu ouvido teve o efeito de uma tremenda saraivada em dia de verão:
-Afasta as pernas! – Ordenou monocordicamente.
-Não. – Arrisquei eu armada em mulher.
-Não era um pedido. Era uma ordem.
O seu tom de voz não se alterara, mantinha o ar calmo, frio e ponderado mesmo num momento tão surreal quanto aquele. Imaginara de repente A. a chegar e a apanhar-me ali, nua submetida aos caprichos e vontades do pai dela. E foi então que num clique, Inebriada pela ideia, deixei a imaginação voar, para decididamente afastar as pernas:
-Sabes S., as nossas acções implicam sempre consequências. – Principiou ele como quem explica a uma criança as origens da vida- Boas ou más, sejam como as acções forem assim acarretam castigos ou recompensas. Não concordas?
Silenciada pelos meus receios de dizer algo que me arrependesse, mordi o lábio inferior e não concordei ou contradisse. Apenas fechei os olhos, sem um pensamento ou uma ideia.
-Agora por tua causa A. vai faltar às aulas e obrigando-me a ter de castigar também. Achas bem?
A mão dele desceu para a minha coxa direita, subindo e descendo, apertando-a firmemente, deslizando pelo joelho, contornando-o, sentindo-o.
A minha respiração ficara incerta, os arrepios voltaram e o desejo de o sentir crescia.
Inesperadamente fechei os olhos e deixei a palma da minha mão alisar o volume das suas calças, não resistindo a sorrir ao ver o seu estado de excitação.
Afinal ele não era indiferente a mim ou me menosprezava. Afinal eu não era só uma criança, mas uma mulher que pode seduzir.
Contente comigo mesma, encarei-o enquanto descia o fecho das suas calças e sem pedir autorização introduzi a mão, querendo sentir aquilo que se erguia para mim.
Por vezes, são os pequenos gestos ou a falta deles que desencadeiam um avolumar de novas experiências e definitivamente eu iniciara as hostilidades.


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