sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Desculpa Se Sou Puta -Parte 1 - Capítulo 7




Somos filhos bastardos do desejo...
Marginais presos em beijos roubados...
Candeeiros sombrios acesos na noite.
Castiga-me devagar...
Um açoite por cada sonho idiota...


Inês Dunas: “O Peso da gravidade”


Eu era o sol expectante e quente sob o qual rodavam todos os ruídos e respectivos silêncios daquela sala desprovida de rigor mas inundada de desejo, numa constelação de desejos e sussurros erigidos por gestos de carícia e de entrega.
Na verdade não pensava, não raciocinava e não sofria a censura das vozes dos anjos na minha consciência, aqueles dogmas que no fundo nos proibiam o usufruto dos secretos prazeres da descoberta do proibido e do profano.
Naquele preciso momento e alheia ao passar dos minutos do tempo real, eu era a encarnação da Deusa Grega Circe, encantando e enfeitiçando P. , submisso ao poder da minha insanidade e aos meus caprichos infantis mas tórridos.
Com efeito, momentos antes colocara a descoberto o segredo escondido no cofre das calças dele, soltando-o para um frente-a-frente, num interlúdio musical composto do som ancestral de beijos e chupões avidamente por mim distribuídos ao longo do membro e tilintando com a ponta da língua, distraidamente na glande. Desde que me apercebera do poder que eu tinha em erguer o seu mastro quase sem ele me tocar, que fiquei desejosa de o ver, de o sentir e porque não de o beijar.
Apercebo-me agora, à medida que escrevo isto, com dois anos de intervalo que apesar de na altura a minha reacção e loucura ter parecido instintiva, já a tinha assumido na minha cabeça desde que P. me mandara despir.
Por incrível que pareça ali estava uma miúda de quase quinze anos, a praticar sexo oral com alguém bastante mais velho e não obstante de ter sido a primeira vez que o fazia, agindo como se realmente o tivesse feito mais vezes.
O estranho é que até essa altura nunca tinha pensado em sexo, não me preocupava a ver filmes para adultos e masturbação, para mim até esse momento era apenas matéria que jamais me interessara.
E no entanto parecia que sempre o fizera, esmerando-me cada vez mais, como que querendo demonstrar a ele que momentos antes me acusou de não estar pronta, que sempre estivera preparada para o mais sórdido momento em que tais faculdades precisassem de ser demonstradas.
O membro cada vez mais encorpado, bem seguro na minha mão direita, ia reagindo às caricias dos meus lábios e tremia na excitação dos movimentos pausados com que volta e meia executava com a minha mão.
Na verdade, P. parecia prestes a explodir de desejo e isso de certa forma me motivava a fazer mais e melhor, certa da intensidade do ritmo. Não sei ao certo que esperava naquele momento. Isto é, sabia o que poderia inevitavelmente acontecer, mas como nunca vira nenhum resultado prático desse momento, aguardava com eterna luxúria o momento final. O ocaso da imensidão do pénis bem hirto.
Foi então que pela segunda vez nesse dia, fui surpreendida por P. quando subitamente afastou-me, bateu ao de leve com o mastro na cara e puxando-me os cabelos, ergueu-me e assumiu uma expressão facial que jamais esquecerei:
-Achas que agiste bem?
-ah?
-Achas que o que acabaste de fazer é próprio de uma menina?
Desorientei-me e nesse momento a minha postura de rapariga mais velha e mais experimentada caiu por terra. Regressei rapidamente aos meus reais anos, à minha infantilidade e à minha insegurança de criança.
Voltara a ser a jovem parva submissa à austeridade da voz de P.que uma vez mais não tinha mostrado qualquer interesse pelo meu corpo, pelos meus desejos ou pelos meus caprichos.
Com toda a calma do mundo, mesmo sabendo que A. estaria a chegar, recolheu o mastro incrivelmente duro, sem se vir. Fechou as calças e sentou-se no sofá, estendendo-me a mão sem esboçar um sorriso.
Como um insecto voador, fui atraída à teia do seu colo, mas não na posição habitual do termo. Como quem brinca com um manequim exposto numa montra de uma loja qualquer P. colocou-me deitada de barriga sob o seu colo, abriu-me ligeiramente as pernas, empinando-me a cintura, enquanto me afagava as nádegas nuas:
-Concordas que não foste uma menina bem comportada?
-Talvez. – Disparei eu sem saber o porquê daquilo
-Se bem me recordo, procedeste de um modo egoísta ao desencaminhar A. e não contente com esse facto, repetiste-o comigo.
Então agora a culpa era minha? Indaguei novamente a ferver de fúria para mim mesma. Então eu é que era a culpada por sentir algo que jamais sentira na minha vida e por ter desejado o secreto prazer da entrega a quem já conquistara o meu coração? Nunca. Eu iria erguer a mão e o esbofetear por brincar e no entanto sem aviso antes que eu pudesse reagir, deu-me uma palmada no rabo:
-Mas…Está louco eu…_ Apressei-me a ralhar.
-Cala-te, ou o castigo aumenta. Cada grito, gemido ou frase tua desencadearão mais palmadas. Percebido?
Não respondi, ainda sem saber o que poderia dizer, quando sentia as palmadas a um ritmo certo e numa cadência que não sendo violenta me magoavam mais no orgulho que na pele.
Por vezes tentava olhar, mas prontamente ele corrigia a posição da minha cabeça e não podendo sair dali, nem tão pouco ver o que ele me fazia ao certo, sendo que apenas podia sentir o alternar das palmadas, com a ponta dos dedos explorando os meus orifícios num misto de dor e prazer, que me fervilhava todo o corpo.
Curiosamente adaptei-me àquele castigo, que o interiorizei como o mais profundo desejo e de repente, sem perceber o porquê, fechei os olhos e imaginei que era no colo do meu pai que estava assim nua e indefesa e quando sentia que o castigo ia parar, gemia ou gritava, forçando-me a um prolongamento.
No fundo, o castigo era um desejo antigo, escondido entre as brumas do meu querer e esperava apenas o açoite certo para me libertar do fardo de deixar de sonhar, de parecer ser quem não era.

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