sábado, 21 de fevereiro de 2015

Desculpa Se Sou Puta - Capítulo 9



E eu louca apenas tremo e temo deixar-me morder
e adormecer sem beijo de Amor para me acordar,
desta vez,
quando passar...

Inês Dunas:  Fábula da Bela Adormecida
http://librisscriptaest.blogspot.pt/2011/04/fabula-da-bela-adormecida-e-da-cobra.html

A vida no fundo não é mais que um somatório de desilusões e amarguras patenteadas em anos perdidos de perfeita nostalgia. Por vezes existe um intervalo, um tempo de recreio entre essa rotina de rastos de lágrimas sulcados na face dorida de quem só pode aprender errando.
Nesse intervalo, é-nos concedidos a nós tristes mortais, o doce sabor de uma alegria, a alegoria mordaz de um sorriso, um rápido e passageiro" estou feliz!", que morre nas horas seguintes como um fósforo usado.
Perde-se contudo a centelha da vida e o prazer de saborear o simples facto de estar vivo, com choros travados na garganta e lágrimas de rancor perdidas na almofada durante a noite.
 Ter um corpo vivo e não saber torná-lo um Ser, é a mais completa ironia de quem sobrevive.
O sangue só por me correr nas veias que circundam o meu corpo, não é causa única de minha existência, nem o oxigénio que absorvo em golfadas desesperadas é condição única que justifique o obséquio do Criador em permitir que eu exista. Dói quando sabemos que somos usados por capricho!
Enquanto a espuma do sabonete de mel e alfazema cobria o meu corpo, apagando vestígios de pecado, pensei inadvertidamente na minha mãe, concluindo do alto dos meus catorze anos que o grande problema dela é ter a mania que é vítima.
 Sim, o meu pai a traiu com uma miúda mais nova. Isso é um facto, mas que fez ela? Lutou por ele? Pediu explicações à outra cabra? Armou a maior zaragata em casa, quando ele chegou nessa noite? Não. Limitou-se a fechar-se no quarto e a chorar- Típico!
Porque os humanos fazem de um sentimento o possível para o desfragmentar até o seu conceito ficar completamente indefinido? Tome-se a dor como exemplo: às mãos de P. nesta manhã, o meu rabo foi alvo de tabefes, o meu cabelo foi puxado, os meus mamilos foram apertados, os meus lábios mordidos...Senti dor?
Talvez. Não me lembro, mas aquilo que sei, é que me senti espectacularmente bem e de certa forma maravilhada com aquela atenção.
Agora imaginemos que por qualquer razão esses tabefes seriam dados na minha sala pela minha mãe. Sentir-me-ia bem?
Não. Ferveria em ódio, disposta a se possível, no mínimo a arranhar de forma a deixar marca. Ódio Vs. Prazer? Talvez a ciência o explique, eu não consigo. 
Como gotas de prata a água do chuveiro invade-me a pele, ressalta no meu corpo, atirada violentamente sobre mim, tornando o impacto dos jactos cristalinos verdadeiros alfinetes na s minhas nádegas vermelhas, fruto das palmadas de “ensinamento” de P. como lágrimas de auto-comiseração assistida por um Deus invisível qualquer.
Com catorze anos submetera-me pela primeira vez na minha curta existência aos caprichos de alguém que bem vistas as coisas, acabara de conhecer. Era certo que já o vira anteriormente, poucas vezes na verdade, em curtos momentos enquanto deixava A. na escola e contudo ele era um cota e como tal jamais lhe prestaria a devida atenção. Aliás jamais imaginaria que um dia...
E esse dia chegara, num dia de chuva intensa. Um dia em que imaginara eu, na minha ingenuidade, o destino me tinha atirado para o colo dele, para que ele pudesse com a sua mestria e experiência, ensinar-me o que era isso de ser mulher, de ser alvo de ternura e paixão, de abrir os meus horizontes, mas contudo ele preferiu ensinar-me novos limites, em suma perverter o meu corpo e vontade de acordo com as suas erecções.
Mentiria contudo, se ocultasse o facto de sobretudo, ter sido eu a deixar-me levar, a me submeter. Nessa chuvosa manhã, P. não me violara, nem tão pouco me molestara. Na verdade, não me forçara a nada que eu não quisesse....E de certa forma, eu queria tudo!
Sempre tinha ouvido falar em conversas de amigas sobre o "grande momento", sobre a perda da virgindade e até então sempre pensei que era um assunto estúpido. No fundo, na minha opinião seria algo parecido como falar da suposta vida em Marte.
 Agora que penso nisso, enquanto escorro o shampoo do cabelo, os rapazes ficariam bastante admirados, se sonhassem a quantidade de vezes que nós miúdas falamos e discutimos entre nós sobre sexo, embora eu reconheça que sobre esse assunto naquela altura, eram mais as coisas que desconhecíamos do que as que podíamos interpretar e discutir.
Como um ecrã de cinema, na minha memória passavam as curtas imagens de momentos antes, quando subitamente a porta da casa de banho se abriu, deixando-me de certa forma apreensiva.
A divisória do chuveiro era de vidro baço, não me permitindo distinguir com clareza quem acabara de entrar, embora reconheça que fosse pouco provável que P. entrasse com A. quase a chegar. Numa atitude defensiva, permaneci calada, atenta aos movimentos de quem entrara, com o chuveiro voltado para a banheira, quase abafando o ruído da água com a palma da minha mão,
Quem entrou, dirigiu-se num passo cuidado como se de certa forma pretendesse omitir a sua presença. Movida pela curiosidade reagi, correndo a porta envidraçada e recebendo o olhar constrangedor de A.

Penso que nenhuma de nós tenha dito qualquer palavra. Esperava tudo, menos o facto de a ver de cuecas brancas apenas a olhar para mim com um olhar de vergonha. Para ser franca de início não entendi a sua atitude, mas enquanto colocava a toalha de banho sob o lavatório, voltou-se exibindo também ela marcas nas nádegas. Percebi imediatamente que a sua presença ali era uma imposição de P. e apenas estendi a mão, convidando-a a entrar na cabine do duche, recebendo-a já sem calcinhas com um beijo compreensivo e com um abraço que só as melhores amigas sabem dar e sem qualquer palavra corri a porta da cabine, como que a escondendo do Pai Mau.

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