terça-feira, 17 de março de 2015

Desculpa Se Sou Puta -Capítulo 10




"Porque há sempre algo nosso que amamos
 e emprestamos aos outros...
 Um gesto, um afecto, um esgar de sonho...
 E aprendemos a viver nos outros,"

Inês Dunas: Dissertação sobre o Nada
http://librisscriptaest.blogspot.pt/2010/12/blog-post_21.html


A. não tinha nada para me dizer e na verdade eu nada tinha para lhe contar. Recebi a sua presença na cabine do duche, como se fosse algo normal ou regular entre nós, acaricie-lhe com a palma da mão direita a face magra e  já molhada pela água quente do chuveiro, trocamos demoradamente um profundo olhar de compreensão e encostei os meus lábios aos seus, convidando a sua língua a sair ao encontro da minha.
Com um sorriso de cumplicidade  transformamos a cabine do duche, num abrigo de partilha carícias e experimentalismos suaves, não de devoção, mas de beijos, toques e abraços e alguns amassos.
Nunca a tinha visto nua, nem nunca me tinha entrego assim a alguém, mas compreendia agora dois anos depois do sucedido que P. havia em toda a sua malícia me transformado num íman de emoções, desejos e experiências. Era como se aos poucos, uma nova eu surgisse,um novo imperativo mental que me incitava, que me desorganizava as ideias e os sentidos 
Nunca tivera antes outro encanto ou desejo por A. que não fosse a sua presença diária enquanto amiga e agora que vertia o gel de banho na palma da sua mão para que ela o aplicasse nos meus seios, entre sorrisos e apertos de mamilos, percebia que de certa forma havia estado enganada.
Penso que de certa forma, todos nós temos amigos e conhecidos, pessoas que invariavelmente circulam à nossa volta, como planetas ao redor do sol e que tal como esses planetas, todos esses amigos e conhecidos são diferentes, uns mais frios, outros mais distantes, alguns mais interessantes que outros e de certa forma para muitos deles, sinto-me um sol, uma fonte luz. 
Não que seja particularmente uma expert em relações, longe disso aliás, mas a minha maneira de estar e ser, contrariamente ao que a minha mãe afirma, por vezes cativava.
Os seus dedos ágeis entrelaçavam-se sobre a minha cabeça, enquanto me mantinha ajoelhada, para que ela me pudesse aplicar o Head & Shoulders, partilhando eu a minha atenção para com o seu sexo, brincando e provocando o clitóris com o meu dedo indicador e língua.
Contrariamente ao que poderia imaginar, em nenhum momento ela me reprimiu, se afastou ou me proibiu. Descobria assim que por incrível que pudesse parecer também ela aguardava a altura certa para se libertar e dar sentido aos seus mais secretos desejos.
Não escondo agora que desde o primeiro dia que a vi, algo me aproximou dela. Talvez, concluo eu agora dois anos passados, tivesse sido o seu ar de menina bem comportada, muito sossegada, muito quieta, mas quando confrontada com um olhar mais intenso,corava de vergonha e tremia de insegurança. Ou talvez tenha sido o seu ar feminino, sempre impecavelmente bem vestida, sem contudo ser queque. Sempre com um perfume não muito doce e sempre com os lábios bem definidos no correcto tom de batom.
Eu que não usava maquilhagem, base ou rímel e batom só o do cieiro, achava piada ao facto de nela tudo isto parecer natural, como se a invenção do batom tivesse sido exclusivamente para ela.
Mas agora era fácil eu pensar assim, na altura, ou mais concretamente cinco minutos antes de ela entrar no chuveiro, A. era apenas minha amiga e confidente.
Enquanto me perdia em considerações várias, ela ajudou-me a erguer-me, virou-me de costas, ensaboando-as, para delicadamente apontar o jacto do chuveiro sobre o meu cabelo para retirar a espuma, beijando-me ao de leve no pescoço, apertar-me os mamilos e segredar-me certas frases ao ouvido que não vou repetir, com curtas pausas para me mordiscar a orelha.
Percebia agora com toda a nitidez e pelas experiências desse dia que adorava ser seduzida e sobretudo que me extasiava o modo como o meu corpo vibrava, como reagia à provocação, ao teaser dos sentidos, do inconsciente, da perda da razão...Em suma, do prazer pelo puro prazer e do que estaria para vir.
A. gemia agora que aumentara os movimentos com a palma da minha mão sobre o seu sexo e lhe mordia os lábios, puxando o cabelo com a minha outra mão livre. Soltava-se de pernas bem arqueadas à intensidade dos meus gestos, mantendo os olhos fechados numa tentativa lógica de absorver todos os sinais de prazer que debitavam dos seus outros quatro sentidos e quase sem me dar conta, permiti de igual modo que a palma da sua mão me castigasse, acabando por me descontrolar e me juntar a ela num gemido revelador do gozo proporcionado.
E tão repentinamente como tudo havia começado, assim acabou sentando-me na cabine do duche, de modo a descansar enquanto ela fechava a torneira, pousava o manípulo cromado do chuveiro, e abria a cabine soltando uma nuvem de vapor pelo W.C.
Saímos discretamente,cada uma tapada com a sua toalha e descalças,para o quarto dela não nos preocupando com a roupa que ficara para trás.
Pela primeira vez em alguns anos eu estava feliz comigo mesma!

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