sexta-feira, 20 de março de 2015

Desculpa Se Sou Puta - Capítulo 11




varal de úteros as selvagens exibem
corações azuis na fogueira jaz
em santa fé, o sagrado mofa
no velho livro desencapado

Ale Zafra - A festa das flores
http://dedosnaobrocham.blogspot.com.br/2014/11/a-festa-das-flores.html


Volto a ler agora dois anos passados o meu velho livros de memórias. Memórias que acordo e as uso, para reiterar o meu testemunho e actualizar os meus sentidos:
É como se de repente alguém encontrasse um molhe de cartas antigas e de repente, enquanto se sentava para as ler, a sua mente viajasse ao passado, a esse passado e fizesse um esforço para não esquecer nenhum detalhe ou um pequeno nada que alterasse o que efectivamente aconteceu.
Perturba-me ainda hoje,  aqueles pequenos nadas, como a falta de uma vírgula numa frase demasiado extensa que lhe retiram a objectividade e o conteúdo lógico. Perturba-me acima de tudo a ausência de pequenos dogmas morais que me permitiriam de certa forma ser um todo consistente com o que de mim esperam e o que de mim querem...Mas qual quê?...Existe na minha forma de ser pequenas falhas, que não sendo  propriamente defeitos, são em certos aspectos tão castradoras, que me fazem agir de uma forma nada normal. Como se fosse louca, como se fosse alienada...Mas e se o problema não é só meu?
Afinal ninguém pode esperar que com catorze anos, seja um modelo de conduta ou alguém perfeitamente integrada nesta teia de leis e obrigações a que chamam de sociedade. Que culpa no fundo, posso ter eu se a idade do meu cartão de cidadão por qualquer razão alheia à minha compreensão não bate certo com a minha idade real, ditada pelo meu corpo em crescimento?
Naquele dia e naquele lugar, na cumplicidade com a minha melhor amiga (se bem que a linha fronteiriça da amizade já se encontrava perdida, levando à necessidade futura de novas fronteiras), eu completei a minha ascensão. Acabou de certa forma ali, a jovem insegura de borbulhas salientes na testa e receio de tudo e mais alguma coisa para me tornar de certa forma em quem eu sou hoje.
Depois de abandonado o banho entramos no quarto dela de mãos dadas, deixamos quase ao mesmo tempo, cair as toalhas enquanto que me conduzia  até à sua cama, puxando o lençol e cobertor para trás e invadindo o espaço do colchão. Com um sorriso de cumplicidade, acomodei a cabeça no seu colo nu, sentindo o leve cheiro a maçã verde deixado pelo gel de banho, para prontamente, rodar o meu corpo de forma a que os nossos sexos ficassem à disposição dos beijos de cada uma.
A. alternava a suavidade da expedita língua, com os lábios a aplicar cada chupão no momento e sítio certos e eu tentava corresponder, facilitando a abertura das pernas, imitando os seus movimentos e copiando a intensidade, surpresa por a ver tão à-vontade num jogo que até aí, calculava eu , ambas desconhecíamos. 
Depois a língua dela subiu em direcção às minhas costas, detendo-se repentinamente e afastando-me as nádegas e passeando a língua no meu orifício, como se toda a vida ela o tivesse feito. Parei, voltei a cara na sua direcção e antes que eu conseguisse indagar , ela respondeu com uma pergunta à questão que me ficara presa na garganta:
-Posso brincar aqui? - A malícia saltava na sua voz, enquanto pousava o indicador direito no ânus.
De imediato o meu primeiro instinto foi dizer não. Teria dito não sem qualquer problema, se fosse uma semana antes. Mas nesse momento e desde que chegara àquela casa estava demasiadamente fora de mim, ávida de novas experiências. 
Sem a conseguir encarar, voltei a minha atenção para o seu sexo e num som audível, disparei convictamente:
-Força! 
Com bastante cuidado, ela foi introduzindo a ponta do dedo, dando ainda que inconscientemente tempo para eu me preparar, para estar alerta a algum pico de dor de forma a desvalorizar mentalmente esse mesmo sentimento. Contudo, de vez em quando ela substituía o dedo pela língua e de certa forma eu não conseguia acompanhar o movimento nela, talvez porque não visse qual o prazer nisso. 
Então, como forma de vingança, batia com a palma da mão direita com alguma violência na sua vagina, observando a tonalidade avermelhada motivada pelo contacto, surgir na sua habitualmente pele pálida e de súbito a minha língua era pequena demais para absorver o rio de prazer que lhe escorria pela vagina, como se de certa forma fosse uma dádiva ao meu entusiasmo.
Então repentinamente ela meteu dedo forte, levando-me a gritar num misto de dor e prazer. Não me deu tempo para reagir, tirou e voltou a meter com igual mestria e subitamente percebi o quanto me dava prazer esse conjunto de gestos ritmados, levando a que quase sem me dar conta, no apogeu da loucura fosse eu, mais concretamente a minha cintura a tomar a iniciativa de ir ao encontro do dedo espetado. Só não queria que ela parasse. Não só não queria que o dia acabasse, mas também que o tempo me escutasse e tomasse a iniciativa de parar, perpetuando-se num gozo infinito.
Por entre suores e dedos de prazer, a partilha do prazer prolongou-se por gemidos e gritos de prazer e aqui e ali, devo confessar um mini orgasmo, quando me apercebi da presença de P, encostado à entrada do quarto, por entre a porta semi aberta. Ele imóvel com o seu rosto duro, não sabendo se de prazer ou de surpresa, os pés cruzados, e os olhos brilhantes. Senti A. a parar, talvez ela também tivesse visto, talvez não. Porém ao invés de pânico, assumi a posição inicial de quatro e sem tirar os meus olhos dele, soltei uma frases curta e imperativa para A. como se de certa forma quisesse que o alvo de tais frases fosse P.:
-Fode-me com dois dedos! Mete bem fundo.
Prontamente ela obedeceu, desta vez segurando com a mão livre o meu seio. Meteu uma vez, duas, três...Sentia a dor mais forte que o prazer, vi P.  a abrir o fecho das calças, a libertar o pénis já endurecido, mas a minha única reacção foi estender a mão na  sua direcção e convidar:
-Aproxima-te. Vem brincar connosco.
Como um gato vadio a pedir comida, ele aproximou-se pé ante pé, enquanto eu segurava a mão de A. por baixo de mim, como para a segurar. Sem emitir qualquer palavra, esperou que eu abrisse a boca e com um sorriso cínico meteu-o na minha boca.
E subitamente eu era de cristal, brilhante mas frágil, idealizada no tempo da minha criação para certos olhos, certas mãos, certos corações. Idilicamente eu não era perfeita,  apenas Deusa de mim, ex-jovem parva a caminho de ser mulher, feminina, encantadora, segura e sedutora.
Ascendi desde esse dia com P e A a uma nova forma de Ser, mais completa, mais libertadora, mais infame mas mais coerente com aquilo que eu pretendia ser um dia.
E que queria eu da vida aos catorze anos? A resposta é simples...Tudo o que tinha direito e/ ou o que pudesse conquistar. Porém neste preciso momento o que eu queria era saborear e continuar a descobrir este momento de excitação e felicidade, nos braços de P. e nos lábios de A..
Em nenhum momento  porem pensei que o que se conquista se poderá perder. Não que não soubesse que tal poderia ser possível (bastavam as aulas de História sobre Impérios para o saber), mas simplesmente não pensei nisso. A felicidade é boa apenas enquanto dura. Depois é um lamaçal de frustração, melhor dizendo um pântano de inglória saída. 

Mas esse era um caminho que iria calcorrear lá mais à frente!


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