terça-feira, 15 de setembro de 2015

A Saga de Arkhan - Pretorius - Capítulo 5




Custa admitir que somos egoístas de mais,
que nunca fomos capazes ou simplesmente audazes,
de conquistas heróicas,
porque conquistar implica possuir alguma coisa...

Inês Dunas: " O mel do masoquismo"



BRUNNUS


Assim que se viu dispensado da presença do seu imperador, o jovem oficial foi extremamente rápido a abandonar as instalações do castelo, galopando em direcção à Villa, onde escolheria nesse corredor de casas contínuas pertencentes à classe média, a taberna mais vazia que pudesse encontrar. Habitualmente ele iria à taberna de Gruehr,situado na praça central granítica,  nas imediações do castelo para poder ter a sorte de vislumbrar a rainha do seu coração, a Imperatriz Maleena, mas os planos da próxima batalha que ouvira na reunião deixara o general Brunnus nervoso e abatido. 
Desde que entrou para as fileiras de combate do império que ele se dedicou a cem por cento à causa do seu senhor e imperador de Orgutt. Participou em muitas batalhas e os deuses o acompanharam e o trouxeram sempre vitorioso e intacto de volta a casa. Nutria uma paixão e um respeito desmesurado pela bandeira do império e pelo imperador e a sua ascenção meteórica  no seio militar de Orgutt foi inteiramente merecida. O reconhecimento viria igualmente da parte das jovens do império sedentas daquele rosto magro, de nariz bem desenhado e olhos de um verde esmeralda, mas depressa descobriam que era um coração sem dono de cama cheia. Os homens que o acompanhavam em batalha sentiam-se seguros e protegidos com a sua presença e motivados com a sua garra. Cedo Brunnus ganhou a aura de intocável, como se fosse invisível aos olhos do inimigo e muitos foram os que lhe ficaram devendo uma acção heróica ou a própria vida e respeitavam-lhe a prontidão com que investia sobre as linhas inimigas pois na verdade, servir o império era para o jovem o seu maior desígnio.
Mas os tempos mudam e as vontades acompanham a idade e a paixão de uma causa, transforma-se gradualmente em algo vago, impreciso e a hesitação ou descrença assume forma, misturando prioridades, baralhando vontades e a crença esmorece.
Assim nos últimos tempos a sua garra e vontade foram amolecendo e as dúvidas naturais sobre a insistência do seu imperador de aumentar as linhas do império, tornaram-no mais cauteloso, mais meditativo e menos convicto do seu papel nessa missão.
Subitamente esta deixou de ser em parte a sua guerra, a sua causa de vida, pois no fundo de que serve servir uma causa se dela não se retira qualquer recompensa?
O império de Orgutt estendia-se agora por quase toda a Arkhan, no fundo os inimigos vencidos não representavam qualquer ameaça, dado que poucos ousariam enfrentar a força bélica de Orgutt e no entanto a sede de vitórias do imperador e de mais terrenos não abrandava. Se no início e do ponto de vista estratégico seria urgente segurar e ampliar as fronteiras, enfraquecendo e submetendo cidades e povos vizinhos, agora era à luz da sua opinião algo contestatário partir para a conquista de mais terras, quando o resultado material do alargamento das fronteiras do império só trouxera a gradual insatisfação do povo. Na inocência da sua juventude, ele pensou que os saques contínuos em mantimentos e os elevados tributos pagos  pelos derrotados seriam repartidos pelo povo, mas a verdade era bem diferente. A cada vitória correspondia um êxodo natural de plebeus e outras classes em busca de melhores condições, largando os campos de cultivo ao abandono, e as fileiras militares aumentavam constantemente em número, pois cada vez eram precisos mais homens para cobrir uma área mais vasta e passavam a ser admitidos ao serviço do império todo e qualquer homem válido de toda e qualquer área conquistada.
Se o povo duvidava contudo da natureza dos saques trazidos para Orgutt ele, na qualidade de general presenciara as trezentas e quatrocentas moedas de ouro e prata entregues no castelo. As jóias, as melhores carnes, os melhores mantimentos eram igualmente entregues em carroças tapadas ao imperador e contudo não vira uma única vez tais iguarias a serem servidas em mercados ao povo.
Por fim, a contínua insistência da conquista de Ischtfall deixava-o igualmente confuso. De todos os reinos conquistados, de todas as cidades fortalezas existentes em Arkhan, Ischtfall era sem qualquer dúvida a maior e a mais temida conquista que Orgutt poderia fazer. Do pouco que lhe tinha sido dado a saber o reino era enclausurado entre montanhas, com um rio a circundá-lo e muros com altas ameias, cobertos segundo se consta por centenas de hábeis arqueiros e besteiros. A única vantagem teórica de Orgutt seria a presença do sétimo de cavalaria Utteriana,  fortemente armada, com os cavalos protegidos por densas cotas de malha de ferro, mas mesmo assim, seria necessário atravessar o rio. O mesmo rio impossibilitaria o uso de torres de invasão e manteria longe as catapultas. 
Para piorar ainda mais o seu estado de espírito, ele não só tinha sido requisitado, como faria o papel ingrato de observador, entrando no fim da contenda para assegurar o comando do reino e era na verdade isso que o deixara abatido. Na sapiência dos seus vinte e oito anos, Brunnus substituira no seu coração a paixão pela carreira militar, pela paixão pela sua imperatriz e sair de Orgutt de vez era algo que ele não queria.
Brunnus encostou-se ao balcão deserto da taberna, indiferente ao ar de perplexidade do taberneiro por ver tão ilustre "heroi" no seu sítio e sem indagar o que quer que fosse, serviu-lhe o melhor vinho e afastou-se rapidamente com medo de incomodar o visitante. 
O general contemplou demoradamente as torres pontiagudas do castelo e tentou imaginar o que estaria Maleena agora a fazer.
Haveria uma última reunião sobre a invasão a Isctfall mas até lá, ele precisava de fazer duas coisas: Declarar a sua paixão por Maleena e inviabilizar o ataque . E só uma pessoa o poderia ajudar a realizar essas duas coisas. 




2 comentários:

  1. A tua imaginação e capacidade criativa é sempre assinalável

    Abraço

    ResponderEliminar
  2. Um enorme obrigado por ainda teres pachorra para me leres ;)

    ResponderEliminar