domingo, 1 de novembro de 2015

A Saga de Arkhan - Pretorius - Capítulo 22 - ULTIMO CAPÍTULO


E no fim, sobra a amargura
de ter muito mais que contar,
e o tempo não deixar.
Que tenha valido a pena!

Rogério Paulo Peixoto

UM SUAVE RECOMEÇO


Houve um tempo em que Arkhan mergulhara numa sucessão de batalhas, com reinos conquistados a ferro e fogo e em que um estandarte brilhava como conquistador e vencedor.
Houve de facto uma altura em que quase toda a Arkhan se submetia à mestria e ao exército de Orgutt, consciente da sua incapacidade para travar a marcha gloriosa do império.
Orgutt, império majestoso criado na fusão de clãs e pela visão de um homem lendário, sob ferro e fogo. Com conquistas, com disputas territoriais, com manobras políticas, mas sobretudo com a convicção que tal era possível.
E de facto assim foi, durante majestosos vinte anos, o Império foi crescendo, foi sendo temido até pelo Senhor da Guerra, que independentemente de ter um valoroso e numeroso exército nunca se atreveu a atacar qualquer reino de Arkhan, ou colónia Imperial.
Braddus era até então o senhor lendário de incríveis façanhas, conhecido por não só dominar o inimigo, como exterminá-lo se a resistência fosse feroz.
O Imperador a quem quase toda a Arkhan prestava vassalagem e obediência, em que a simples menção do nome de Braddus era temido. O poder corria a seu belo prazer nas mãos deste imperador.
Contudo, seria no seu próprio castelo, que a contestação ganharia força e através de uma sequência de pequenos problemas tudo se alterou.
Julius Pretorius, até então o jovem príncipe, filho do imperador e desdenhado pela população e mais grave ainda pelo seu próprio pai, coloca em causa a governação do líder, e outros incidentes marcariam o fim da soberania de Braddus em Arkhan. Período que historicamente ficou a ser conhecido como "A sucessão".
Agora, vinte anos depois, um novo imperador assume o poder. Julius Pretorius, aclamado por todo o exército desde logo ás portas do castelo, com o corpo do seu pai ainda quente, prometeu um novo império, novas linhas de pensamento e acima de tudo, que se cumprisse o ideal de Orgutt. Havia pois muito trabalho a fazer e pouco tempo para o cumprir, pelo que se apressou a colocar em papel as novas medidas. Subiu à sala do tono, seguido de perto pelo grosso do batalhão de Brunnus e pelo Chefe da Guarda Imperial e sentando-se pela primeira vez na cadeira do trono, adiantou as suas primeiras ordens:
- Antes de mais, quero deixar bem claro que em Arkhan, nada será como até aqui! O meu antecessor teve um sonho que trouxe o império até aqui, mas deixou-se inebriar pelo poder e pelo vinho e tornou-se fraco. Não mais será assim, de agora em diante manteremos o pulso firme fora das fronteiras da capital do império, mas manteremos igualmente pulso firme em Orgutt. -Embalado pela oratória, como se de certa forma todo o seu discurso resultasse de um pensamento guardado durante anos, continuou- Perdemos bons homens nesta guerra da sucessão e todos devo dizer, covardemente assassinados. Não mais será assim! Orgutt velará pelos seus, defenderá os seus , mas castigará exemplarmente quem atente contra o império.
Os presentes permaneciam calados, atónitos com a garra e a força reveladas no discurso do príncipe:
-Vós, - Prosseguiu Pretorius apontando ao Chefe da Guarda- Haveis cumprido com distinção o vosso papel e haveis mostrado, mesmo nos momentos de maior tensão leais ao meu antecessor - Esta era a segunda vez que Pretorius evitava o termo pai- Mas não mais necessitarei dos vossos serviços, como Chefe da Guarda Imperial.
O robusto sujeito foi sobressaltado por um calafrio e preparava-se para contestar, quando o jovem imperador ergueu a mão, continuando:
-Serás mais valioso para mim e para o império, como  meu conselheiro, caso pretenda realmente o posto!
-Com grande honra majestade!
-A segunda medida será exactamente essa! De agora em diante acabou o termo majestade. Sou Imperador e tereis todos vós de me tratardes por Supremo ou Imperador.
-Muito bem, Supremo! - Responderam os presentes quase em coro.
- Agora,- Continuou o imperador a dirigir-se para o seu novo conselheiro- nomeai vós um novo chefe de Guarda Imperial que de ora em diante será a ele que os novos generais responderão. Não mais aceitarei a presença de um militar no castelo que não seja Guarda Imperial.
-Mas senhor...perdão, Supremo. onde se reunirão os generais?
-O general Vill foi considerado traidor do império, pelo que os seus bens serão automaticamente revertidos para o exército. Na sua Villa criaremos o posto de comando e será lá que as reuniões terão lugar.
-De seguida, mandai um mensageiro à periferia da capital e informai Sexteto que solicito a sua presença e a do extinto concelho neste castelo dentro de dois dias.
-Correcto Supremo.
-Agora peço-vos que vos retirais, e que os novos candidatos a General informem o novo Chefe de Guarda da vossa pretensão. Teremos de continuar a ter um exército unido e mais uma vez, agradeço a lealdade demonstrada por todos e em especial ao batalhão de cavalaria de Vill.
Assim que se viu sozinho na sala do trono, Pretorius respirou fundo e pode por fim voltar a assumir o ar do jovem inseguro que tinha sido até aí. Levantou-se cerimoniosamente e foi buscar a coroa qu Braddus se recusava a usar. Colocou-a e voltou ao seu trono, desrespeitando assim o convencional Pretorius deveria ter agendado um dia para a celebração da tomada de posse e deveria dar esse dia de festa na Capital ou até em todo o Império, como forma de agradar ao seu povo, mas ele não via grandes razões para festejar e o convencional não mais seria respeitado em Orgutt.
Na verdade, pensou ele enquanto se sentava de novo no trono, ainda lhe faltavam duas novas medidas e chamando o seu novo conselheiro, solicitou de imediato a presença da imperatriz na sala do trono:
-Receio Supremo, que isso não será possível. - Adiantou nervosamente Tiberius
-Porque não?
-Vós não sabeis, mas seu pai...
-O meu antecessor!
-O vosso antecessor...bem...ele...
-Que ele fez? - Indagou o jovem imperador assustado.
-Ele marcou a vossa mãe..
-A imperatriz!
-A imperatriz, com ferro de marcar gado e cavalo!
- O quê?
O jovem ergueu-se prontamente e disfarçando o choque que sentira na afirmação, adiantou:
-Acompanhai-me aos seus aposentos. Preciso da vossa presença como testemunha.
Sem dizer qualquer palavra, o novo conselheiro acompanhou o jovem até ao quarto onde a imperatriz ainda chorava a perda de Brunnus:
-Meu filho... - Maleena ficou chocada ao o ver de coroa na cabeça.
-Vosso Imperador! De ora em diante me tratareis por Supremo
-Mas...
-Soube do que meu antecessor vos fez...
-Vosso pai...
-Meu antecessor! - Corrigiu ele levantando a voz.
-Vosso antecessor...
-E apesar de ninguém neste quarto me ter prestado a vénia, - Advertiu ele olhando para a aia-Informo que de ora em diante não usareis mais o título de imperatriz.
-Sou vossa mãe e devo..
-Não! Acabaram-se os previlégios para si e para essa vendida- Informou ele apontando para a aia .
Retomando o fôlego, Pretorius dirigiu-se até perto de Maleena e colocando-lhe ao de leve a mão na cabeça, continuou:
-É importante para o império informar o Senhor da Guerra das mudanças em Orgutt e estreitar laços de confiança com ele. Nesse sentido, vós e essa vossa aia sereis enviadas para Norte como emissárias de Orgutt e da nossa boa vontade, Certamente o Senhor da guerra agradecerá a vossa visita.
-E quando regressarei?
-Não regressará até que Ischtfall esteja conquistada.
-Ireis retomar o trabalho de vosso pai?
-Antecessor...Não o sonho dele, mas o meu sonho. Ischtfall não pode apenas ficar a julgar que tivemos medo de o atacar.  Depois analisarei o vosso desempenho e verei se sois merecedora de um alto cargo lá.
-E qual o vosso sonho?
-Tornar Orgutt uno e indivisível. Rico e próspero e banir de uma vez por todas a fome do império.
Todos acenaram afirmativamente com a cabeça:
-E posteriormente derrubar e aniquilar o Senhor da Guerra!
Perante a estupefacção dos presentes, Pretorius virou costas, informando que iria rapidamente escrever ao Senhor da Guerra a informar a ida dela e saiu do quarto.
Maleena olhou desconsolada e desolada para a aia e assim que a porta se bateu, abraçou-a:
-Pelos Deuses que monstro eu criei!

1 comentário:

  1. E quando surgem os maiores monstros nascem os maiores herois, neste caso heroína... Enoah :))) E assim a saga de Enoah ganha todo outro sentido! Maravilhoso! Adorei! És um must!

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