A esperança é a extinção para que a vida prevaleça,
talvez cresça melhor desta vez,
talvez aprenda a pertencer em vez de reinar,
talvez aprenda a Amar em vez de vencer,
talvez aprenda a viver, em vez de matar...
http://librisscriptaest.blogspot.pt
NATAL É QUANDO O HOMEM QUER...
( SE ELA O PERMITIR!)
Como se recomeça uma vida quase aos cinquenta anos? Simples... Acreditando em coisas boas que já temos e traçando planos para tudo aquilo que queremos realmente fazer ou melhor ainda que queríamos ter feito. É um arrepiar caminho, um ala -que-se -faz-tarde, antes que qualquer coisa de impeditivo suceda.
Nunca soube fazer um nó de gravata, por mais tutoriais que tenha visto no Youtube, essa era a única tarefa que tu. prezada minha defunta ex-esposa, (que o palhaço dela o tenha em santo cativeiro), que ma deixava pronta a usar na noite anterior. Dessa armadilha estou livre, do after-shave que tu tanto gostavas também e do armário tiro a roupa de fim de semana. Melhor, talvez use fato de treino só para mostrar ao mundo que ainda sou moço para umas corridas ou golpes de ginástica.
Os recomeços deveriam ser sempre assim, confusos e precipitados como a primeira relação sexual, mas o importante é ter um plano, ou um esboço, ter um novo querer, um forte acreditar que é possível mudar. Mudar tudo, ou deixar ficar o que não é relevante ou interessante, o que já não me serve ou não me motiva, o que já não tem conserto ou intento.
Dormi apenas umas horas, poucas dado que a garrafa de vinho me motivou a novas conquistas e apesar da doce Maria estar a dormir, compreendeu o que aí vinha. Sou tudo o que me motiva, a adrenalina do momento, o doce tormento de fazer só por fazer, pelo prazer, pelo embaraço dela, pelo gemer rouco que me trespassa os ouvidos quando a penetro forte, pela voracidade com que a invado e pela satisfação que ela me demonstra no seu olhar límpido, talvez por me ver maravilhado por poder praticar o sexo anal sem constrangimento, sem me preocupar se é pecado ou o diabo a quatro. Creio ter lido algures que o sexo anal é desejo ou pelo menos fetishe da maior parte dos homens e lembro-me de me ter rido com essa parvoíce. Sou religioso e essa história do anal...Bom não me parecia correcto na altura e a última coisa que queria era melindrar a minha jovem e recente esposa com tal despropósito ou que me considerasse um perfeito tarado, um senhor do corpo dela só porque casamos. Não. Havia certas coisas, pensava eu nessa altura que nunca devemos fazer ou experimentar, que devem permanecer no limbo do desejo ou fetishe e apenas lá e não devem ser concretizadas. Como se o fulano que escreveu o Kamasutra tivesse de facto feito todas aquelas posições. Obviamente que não, até porque se o fizéssemos, acreditava eu nessa altura, provavelmente o faríamos mal, (lembras-te do nosso primeiro oral Leonor...que vergonha!) e passava a ser constrangimento e dor e nada de prazer.
Mas Maria fazia o convite, mostrava-me o caminho e incentivava-me a ser nas palavras dela o seu homem , a ser o seu tudo em brasa, o mastro vivo que a castigaria de dor e prazer, em movimentos regulares, a estocada seguinte mais forte que a anterior, os dedos dela nervosos, esfregando o clitóris preparando mentalmente a segunda vaga, abrindo o trilho para um novo caminho, numa alternância de uso de locais, numa rotatividade louca e frenética, vários "sim, não pares...assim...vai!" que me galvanizavam e me tresloucavam a cada segundo numa fúria incontida de prazer.
Contrariamente ao que esperaria, o acordar não foi violento. Pelo contrário foi galvanizante, eléctrico apesar das horas de pecado, enrolado, metido, gozado...acordado.
Sabes cabra coisa ex-esposa, não era para te contar mais nada, mas por ser para ti abro uma excepção. Vou-te relatar o meu dia de hoje, como habitualmente te contava ao fim do dia, não porque mereças, mas porque me dará uma certa alegria imaginar as tuas expressões faciais à medida que te relato.
Ficas já a saber que o meu dínamo da vida estava cheio, o duche acompanhou a vitalidade e em minutos sentado na mesa de cozinha tracei o plano. Curioso como essa mesma mesa mudou e sentenciou o destino, pelo menos o imediato. Curioso como serviu de catapulta para um recomeço "clean". Sorri maliciosamente para a parede branca da cozinha, perspectivando o golpe final, A estocada mortal em tudo o que já não queria, que já não me satisfazia....Pois que morram, porra!
Subi, desviando-me de Maria que descia devagar a escadaria. Deixei-lhe um beijo na testa como prova de cumplicidade, fechei-me no quarto e escolhi o meu melhor fato para um velório. Procurei a gravata mais sóbria, aquela que sempre usava no aniversário do teu pai, desci as escadas e pela primeira vez desde que chegara a casa no fatídico dia em que me abandonaste, abri a minha maleta de couro, separei papeis, bebi mais dois goles de café, lancei novo sorriso, desta vez na direcção de Maria e sem uma palavra abalei para o exterior. Fundi-me num mar de gente, mas não era um deles. Não, já não o era. Ali sentado naquele lugar do comboio já não ia o mesmo homem de dias atrás. Já não me resignava à banalidade. Ali sentado naquele lugar de comboio seguia um homem com uma nova missão e um novo começo de vida.
Tão calmamente quanto a ansiedade me permitiu, entrei na pastelaria mais perto sentei-me à mesa mais distante e isolada que encontrei e fiz três operações breves. Informei o meu patrão que ia a caminho dali, liguei para o teu advogado a informar sua excelência que fosse para o inferno, mandei-te uma linda mensagem de dez linhas, ( sempre mais eficiente que uma folha de papel manuscrita) e saí em direcção à loja de telemóveis onde comprei um novo cartão Vodafone, atirando o velho para um caixote de lixo, algo bem representativo do que eu pensava do meu passado. Os filhos que ligassem à mãe, que lhe chagassem a cabeça. A partir deste dia já não tenho filhos. Eles já são grandinhos, já têm a sua família e nesta idade já não sou pai, sou apêndice, sou estorvo, sou as duas chamadas por ano ( natal e meu dia de anos). Nunca vi os meus netos, nunca os peguei ao colo. Estavam longe e eu demasiado ocupado na rotina da morte. A avó deles sim, volta e meia pimba lá ia ela com o meu visa a Londres, à Bélgica..." sabem como é o vosso pai, as grandes viagens incomodam-no e ele tem aquele problema de saúde". Ah mas não tenho, graças a Deus diabetes e colesterol nunca tiveram nada de anormal e prezada ex-esposa a minha úlcera que só me doía e me levava à cama nas vésperas das vésperas dessas horríveis viagens, nunca existiu. Sim estúpida Leonor eu inventei essa coisa como defesa. Não pela viagem, mas eu lá queria fazer quilómetros para estar enfiado numa casa qualquer, a ouvir os imensos nadas que saiam dessa tua boca parva sobre o modo como estávamos muito bem, na nossa vidinha, muitos felizes e a ser inundado das imensas diferenças entre Lisboa e o resto e blá,blá,blá lá é que era bom, lá é que se podia viver e tal e coisa. Como se eu os tivesse criado a migalhas de pão numa barraca qualquer. Como se o País não tivesse proporcionado aos pais daquelas bestas todas as condições para eles tirarem o curso superior e fazerem Erasmos e mestrados e formações. Não! Lá é que era bom, lá é que valorizavam o individuo...Pois claro. Mas até existir o lá, houve um homem que se esfarrapou, que deixou de ter vida própria e que se sacrificou para que estas criaturinhas ganhassem o direito a altos voos.
Sim, sei o que te está a passar nessa tua cabecinha oca, parva ex-esposa, não estou a assumir o papel de coitadinho, até porque o que fiz por eles e o que lutei por eles, foi feito de bom grado e faria tudo de novo sem qualquer hesitação. Mas agora, já fiz a minha parte, já lhes dei o melhor do Mundo e de mim, que arrepiem caminho e me permitam por fim, arrepiar o meu.
Levantei a minha metade, tudo o resto que me deixaste na conta, encerrei a conta, assumindo que não mais seria a "nossa" conta e subi ao escritório, enfrentando de peito aberto os olhares inquisidores e de piedade dos meus colegas. Assumi o meu lado mais dramático e criei um filme de autocomiseração, aqui sim assumindo um papel de coitadinho, explicando que esta nova condição de cornudo não me permitia um rápido regresso ao trabalho e por esse facto que apresentava as minhas desculpas, mas que não me levasse a mal, que o motivo da minha ida àquelas instalações se prendia com a necessidade de enquanto homem honrar os meus compromissos e que lamentava muito, mas não iria regressar mais. Que não! De forma alguma! bradou ele de braços abertos como Cristo saindo da cruz. Que eu tenho amigos ali, que me ajudariam, que...Bolas, será que o palhaço do homem ainda não percebeu que tudo o que eu quero não está, nem estará ali, naquele emprego. Permiti-me o excesso de uma lágrimazinha teatral, um abraço sentido e saí, como um ex-condenado sai... Em liberdade e de paz com o mundo.
Desci apressadamente a escadaria, e fui ao Galvão Mello, sim estúpida ex-mulher da minha vida, esse mesmo, o meu advogado que tratou da papelada de reclamação para a Nós. Expus a minha situação, expus a tua pretensão, dei particular ênfase ao teu abandono e ao teu saque da tua metade, assinei alguns papeis, garantindo o carro e o resto que fosse queimado, vandalizado, ardido...
Despachados estes formalismos obrigatórios, passei numa loja de roupa, onde geralmente comprava os meus fatos escolhidos por ti, para adquirir umas calças jeans ( aos anos que não usava umas destas), uma camisa e uma camisola, que prontamente levei já vestidos. Entrei na primeira sapataria que vi e adquiri uns Puma lindos, embora algo excêntricos ( imaginas eu de sapatilhas?) e dirigi-me para a estação de comboios. Abandonei o fato que a menina da loja fez questão de guardar num daqueles sacos com fecho, tipo saco de cadáver que víamos à noite nas nossas séries americanas, no primeiro local do WC que vi e saí para o exterior, aguardei a chegada do comboio, entrei e sentei-me com o sorriso estampado no rosto, vendo a minha maleta de couro muito quieta no banco de madeira da paragem. Outro que fique com ele, pois ele já não serve.
E assim prezada coisa que nem quero lembrar o nome resta-me dizer que não mais te quero ver...
Hoje para mim é Natal e este menino Jesus montou num camelo dos reis magos e vai seguir a sua estrela.
(https://www.youtube.com/watch?v=NjKmCxyKmas)
Contrariamente ao que esperaria, o acordar não foi violento. Pelo contrário foi galvanizante, eléctrico apesar das horas de pecado, enrolado, metido, gozado...acordado.
Sabes cabra coisa ex-esposa, não era para te contar mais nada, mas por ser para ti abro uma excepção. Vou-te relatar o meu dia de hoje, como habitualmente te contava ao fim do dia, não porque mereças, mas porque me dará uma certa alegria imaginar as tuas expressões faciais à medida que te relato.
Ficas já a saber que o meu dínamo da vida estava cheio, o duche acompanhou a vitalidade e em minutos sentado na mesa de cozinha tracei o plano. Curioso como essa mesma mesa mudou e sentenciou o destino, pelo menos o imediato. Curioso como serviu de catapulta para um recomeço "clean". Sorri maliciosamente para a parede branca da cozinha, perspectivando o golpe final, A estocada mortal em tudo o que já não queria, que já não me satisfazia....Pois que morram, porra!
Subi, desviando-me de Maria que descia devagar a escadaria. Deixei-lhe um beijo na testa como prova de cumplicidade, fechei-me no quarto e escolhi o meu melhor fato para um velório. Procurei a gravata mais sóbria, aquela que sempre usava no aniversário do teu pai, desci as escadas e pela primeira vez desde que chegara a casa no fatídico dia em que me abandonaste, abri a minha maleta de couro, separei papeis, bebi mais dois goles de café, lancei novo sorriso, desta vez na direcção de Maria e sem uma palavra abalei para o exterior. Fundi-me num mar de gente, mas não era um deles. Não, já não o era. Ali sentado naquele lugar do comboio já não ia o mesmo homem de dias atrás. Já não me resignava à banalidade. Ali sentado naquele lugar de comboio seguia um homem com uma nova missão e um novo começo de vida.
Tão calmamente quanto a ansiedade me permitiu, entrei na pastelaria mais perto sentei-me à mesa mais distante e isolada que encontrei e fiz três operações breves. Informei o meu patrão que ia a caminho dali, liguei para o teu advogado a informar sua excelência que fosse para o inferno, mandei-te uma linda mensagem de dez linhas, ( sempre mais eficiente que uma folha de papel manuscrita) e saí em direcção à loja de telemóveis onde comprei um novo cartão Vodafone, atirando o velho para um caixote de lixo, algo bem representativo do que eu pensava do meu passado. Os filhos que ligassem à mãe, que lhe chagassem a cabeça. A partir deste dia já não tenho filhos. Eles já são grandinhos, já têm a sua família e nesta idade já não sou pai, sou apêndice, sou estorvo, sou as duas chamadas por ano ( natal e meu dia de anos). Nunca vi os meus netos, nunca os peguei ao colo. Estavam longe e eu demasiado ocupado na rotina da morte. A avó deles sim, volta e meia pimba lá ia ela com o meu visa a Londres, à Bélgica..." sabem como é o vosso pai, as grandes viagens incomodam-no e ele tem aquele problema de saúde". Ah mas não tenho, graças a Deus diabetes e colesterol nunca tiveram nada de anormal e prezada ex-esposa a minha úlcera que só me doía e me levava à cama nas vésperas das vésperas dessas horríveis viagens, nunca existiu. Sim estúpida Leonor eu inventei essa coisa como defesa. Não pela viagem, mas eu lá queria fazer quilómetros para estar enfiado numa casa qualquer, a ouvir os imensos nadas que saiam dessa tua boca parva sobre o modo como estávamos muito bem, na nossa vidinha, muitos felizes e a ser inundado das imensas diferenças entre Lisboa e o resto e blá,blá,blá lá é que era bom, lá é que se podia viver e tal e coisa. Como se eu os tivesse criado a migalhas de pão numa barraca qualquer. Como se o País não tivesse proporcionado aos pais daquelas bestas todas as condições para eles tirarem o curso superior e fazerem Erasmos e mestrados e formações. Não! Lá é que era bom, lá é que valorizavam o individuo...Pois claro. Mas até existir o lá, houve um homem que se esfarrapou, que deixou de ter vida própria e que se sacrificou para que estas criaturinhas ganhassem o direito a altos voos.
Sim, sei o que te está a passar nessa tua cabecinha oca, parva ex-esposa, não estou a assumir o papel de coitadinho, até porque o que fiz por eles e o que lutei por eles, foi feito de bom grado e faria tudo de novo sem qualquer hesitação. Mas agora, já fiz a minha parte, já lhes dei o melhor do Mundo e de mim, que arrepiem caminho e me permitam por fim, arrepiar o meu.
Levantei a minha metade, tudo o resto que me deixaste na conta, encerrei a conta, assumindo que não mais seria a "nossa" conta e subi ao escritório, enfrentando de peito aberto os olhares inquisidores e de piedade dos meus colegas. Assumi o meu lado mais dramático e criei um filme de autocomiseração, aqui sim assumindo um papel de coitadinho, explicando que esta nova condição de cornudo não me permitia um rápido regresso ao trabalho e por esse facto que apresentava as minhas desculpas, mas que não me levasse a mal, que o motivo da minha ida àquelas instalações se prendia com a necessidade de enquanto homem honrar os meus compromissos e que lamentava muito, mas não iria regressar mais. Que não! De forma alguma! bradou ele de braços abertos como Cristo saindo da cruz. Que eu tenho amigos ali, que me ajudariam, que...Bolas, será que o palhaço do homem ainda não percebeu que tudo o que eu quero não está, nem estará ali, naquele emprego. Permiti-me o excesso de uma lágrimazinha teatral, um abraço sentido e saí, como um ex-condenado sai... Em liberdade e de paz com o mundo.
Desci apressadamente a escadaria, e fui ao Galvão Mello, sim estúpida ex-mulher da minha vida, esse mesmo, o meu advogado que tratou da papelada de reclamação para a Nós. Expus a minha situação, expus a tua pretensão, dei particular ênfase ao teu abandono e ao teu saque da tua metade, assinei alguns papeis, garantindo o carro e o resto que fosse queimado, vandalizado, ardido...
Despachados estes formalismos obrigatórios, passei numa loja de roupa, onde geralmente comprava os meus fatos escolhidos por ti, para adquirir umas calças jeans ( aos anos que não usava umas destas), uma camisa e uma camisola, que prontamente levei já vestidos. Entrei na primeira sapataria que vi e adquiri uns Puma lindos, embora algo excêntricos ( imaginas eu de sapatilhas?) e dirigi-me para a estação de comboios. Abandonei o fato que a menina da loja fez questão de guardar num daqueles sacos com fecho, tipo saco de cadáver que víamos à noite nas nossas séries americanas, no primeiro local do WC que vi e saí para o exterior, aguardei a chegada do comboio, entrei e sentei-me com o sorriso estampado no rosto, vendo a minha maleta de couro muito quieta no banco de madeira da paragem. Outro que fique com ele, pois ele já não serve.
E assim prezada coisa que nem quero lembrar o nome resta-me dizer que não mais te quero ver...
Hoje para mim é Natal e este menino Jesus montou num camelo dos reis magos e vai seguir a sua estrela.
(https://www.youtube.com/watch?v=NjKmCxyKmas)
Sem comentários:
Enviar um comentário