sábado, 3 de fevereiro de 2018

Lápide- Capítulo 11






Sabes-me ao sal de todas as lágrimas,
porque afinal,
só o coração que ama sofre o suficiente para viver intensamente
um amor de cada vez...

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PARA TI MARIA!


És carne, és osso, és sangue, és vida! A minha vida e eu sou o teu Dexter amador, sem grande espalhafato e sem técnicas de cinema. Sou o  bisturi encantado, amador, improvisado, dissecando o teu corpo, morto de prazer e de amor, cortando cada pedaço de ti, às fatias finas, abrindo pequenos cortes milimétricos, embebedando-me no teu sangue, sorvendo-o como parte de mim, separando as vísceras, afastando os órgãos, não sem antes os beijar e lamber e provar, como alimento vital e coloco-os a meu lado, para que os possa olhar, admirar, venerar...Altar de tudo e de nada.

Depois mergulho no que resta de ti, num mergulho olímpico de prancha imaginária, de braços bem juntos e hirtos com as palmas das mãos bem unidas, para poder aprisionar nelas a tua alma, impedi-la de a fugir, de a perder.
Porque tu, doce Maria dos meus mais secretos desejos, mulher de tentação e perversão despertas isto em mim, colocas nas minhas mãos o teu/nosso futuro, que o presente escorre em sangue nas minhas mãos e o passado, esse período visceral será para o balde dos desperdícios, do esquecimento, do intemporal, do vazio mental. Já não o uso e já não o quero, nem como memórias. Para ti e para mim a partir de hoje sofro de Alzheimer, só me recordo de ti, de nós , do teu corpo quente, das covinhas na tua face quando te ris, do teu arquear de sobrancelha quando te surpreendo...ó como eu nunca tinha visto isso e do meu sexo quente, como chicote nos teus seios, na tua boca, em todos os destinos que a carne e a tesão consentem.
Sou para ti apenas uma foda? Gemeste tu na noite passada, encharcada em meu sémen, com aparência de violentada na nossa cama sagrada. Não, doce corpo de pecado, luz ao fundo do túnel de minha vida, chama da minha glória terrena. Não és foda, és um conjunto de fodas eternas que daremos em suaves prestações diárias, como pagamento ou cumplicidade das prestações ao minuto deste nosso acordo sagrado. Creio, deusa de seios fartos e de mamilos pontiagudos que és mais carne que razão, a minha que foi perdida. que foi fodida por um passado certinho. És a alegria do meu ser animal, que se banqueteia como lobo solitário de dentes curtos e afiados, que te rasga e te devora, até mesmo com o olhar.
Mas também és a estátua de fecundidade, de cabeça de golfe com buracos, seios fartos e pneuzinho que agarro e mordo, minha Vénus de Willendorf, ou imagem de Virgem imaculada de alma serena e luz angelical. És tudo e não sou nada, seremos apenas e se fores uma foda e eu o martelo da arrogância que te toma à noite só porque este meu lado de lobo te chama, antes sejas meu alimento que virgem em desespero de não me ter. Sei lá, somos e seremos...
Não me respondeste à pergunta! Remataste tu, de lábios desenhados no meu peito e se calhar até te respondi, não sei. O que importa é o agora e ambos estamos precisando disto. Menti-te à laia de esconder dos teus ouvidos o meu plano maior, o meu fim de nada e principio de tudo, que guardei para nós.Porque cara paixão eterna,o amor é agora, é já e não se fala mais nisso nem se perde tempo. O amor é um pássaro livre, que aprendeu a fugir do seu cativeiro pelos seus próprios meios, batendo as asas de anjo num piar sonoro de triunfo sob a melancolia do desespero do silêncio dos anos passados em pó de candelabro velho e móveis rangentes.
A paixão é uma esponja de banho, molhada e esponjosa que percorrerá com a devida espuma todas as curvas do teu corpo, adivinhando-lhe as zonas sensíveis, limpando as feridas da minha brutalidade fogosa, removendo as minhas, nossas acções mais impiedosas talvez abrindo caminho para outras mais, num creme hidratante que durará a eternidade e eu serei ou pretendo ser a brisa de vento de verão que te secará e te prepará para a eternidade que nos espera.
Doce e querida Maria, flor de meu desejo, carne de minha tentação e semente do meu mais recente e  promíscuo desespero, contigo tal como o amor, não tenho idade, não tenho passado, não tenho ilusões, não tenho sermões só doces e lânguidas tentações.
És a razão da batida célere do coração no meu peito, do pulsar quente e frenético do sangue nas minhas veias, razão do meu desembaraço tão embaraçado que estava.
Gosto quando te encosto á parede, quando te apanho de surpresa e de meter a minha mão dentro do teu vestido, apalpando-te, brincando com teu mamilo, preferencialmente o esquerdo e deslizá-lo pelos meus três dedos da mão esquerda, num escorregar e dedilhar de improviso, assim como os beijos que os descarrego no teu pescoço, forçando-te a olhares para o outro lado, na secreta esperança de ainda te surpreender, como se houvesse carícia ou provocação minha que ainda não conhecesses.
Amo-te, porra como te amo! Amar, minha deusa de colo sagrado  amar intensamente cada palavra que sai e sairá dos teus lábios,  cada olhar transviado e carregado de desejo que me darás, pão nosso de sustento de mim e da minha alma empedernida que estava num passado de meias frases e ausência de beijos. E ó como são doces os teus lábios, carregados de esperança e tesão, de língua sibilante e tortuosa que me encharca a boca, a mente e  que se enrosca na minha língua como jovens apaixonados num banco do jardim, que me explora em lambidelas quentes o meu pescoço, o meu peito, a minha carne em suspenso, pedaço de mim hirto que tão bem o trata e o colhe na boca num vai e vem de ternura e capricho.
Agora a nossa vida é essa estrada linda, larga e límpida de quilómetros de prazer, sem curvas ou sinais de perigo. De bermas floridas, com árvores de frutos proibidos e jasmins perfumados que se curvariam ante a nossa passagem. És minha, sou teu somos nós, os dois e apenas os dois de mãos dadas num raio de sol chamado de eternidade, minha sinfonia esquecida de Mozart, dedilhada em finas teclas brancas de marfim, tão brancas como os lençóis dos meus, nossos sonhos mais molhados.
Eu não soube viver, não tive arte ou engenho para crescer, não evitei o amadurecer.Outrora era um sujeito inútil, zombie sem vida,
 enfiado num fato pardo como a minha vida, sempre a correr para o trabalho ( e para quê, se ele não fugia? Se ele continuaria ali pelo menos o dia todo) e de volta a casa em passo acelerado e de novo pergunto para quê? Sem filhos à espera, sem fogo na cama que me movesse, sem picante à hora da refeição....Para quê?
Todos os humanos são assim creio. Sempre cheios de pressa, sempre cheios de vontade de ir para qualquer lado. Aquela mãe que sai do trabalho para ir buscar os filhos à escola e vai a voar para casa, para lhes fazer o jantar ( sim, não vai brincar com eles, nem perguntar-lhes como foi o dia, nem se eram felizes) e depois do jantar o banho a correr ( modalidade maternal quase olímpica), o pijama em contra-relógio e cama antes que o petiz se lembre da birrinha. E então estafada que está, olha a loiça suja amontoada e chora por dentro, um choro invisível, que se vai amontoando até transbordar e nessa altura o petiz está na faculdade e já não tem tempo...E nós homens de barba rija o que fazemos? Um olhar de relance ao rabo da colega do escritório, a corrida desenfreada para o carro, o trânsito, as filas, os cigarros, o tamborilar dos dedos no volante, o irresistível sorrisinho à condutora do carro ao lado, ou a pesca dos macacos do nariz(igualmente modalidade masculina quase olímpica, seguida preferencialmente pelas quatrocentos e vinte e sete coçadelas às partes baixas, sob as calças) e para quê? Para chegar em casa, ver a criatura a aclamar as criaturinhas, ligar a TV, descalçar os sapatos e contar mentalmente os minutos até ao jantar, onde será dito algo entre amuos e muitos acenos de cabeça, sempre de olho nos petizes com medo de uma birra de circunstância.
Mas é pior os que não têm carro, que se oferecem como cobaias para serem colocadas num comboio apinhado de gente igual a nós, com o mesmo desejo de sobreviver e que vai ali a pensar na vidinha (como se de facto a tivessem ou a controlassem). Homens como eu rezando para que à sua frente fosse uma miúda, já que provavelmente seria o único encosto que teriam com  o sexo feminino nessa semana.
Agora eu sei que errei, que estava errado que fui apunhalado pela minha cúmplice deste crime de sobreviver. Paz à sua alma!  Agora eu vivo, estou vivo e respiro felicidade e energia em cada poro do meu corpo. Agora estou livre, já quase não tenho amarras e isso mesmo te tento explicar doce Maria, enquanto os meus passos desenham círculos imperfeitos no tapete da sala. De dedo no ar como professor de antigamente, eu o senhor sabichão, eu o verdadeiro profeta da nossa salvação, da nossa luz, renascido do fundo do mar negro do meu passado. Agora que te tenho ao meu lado, agora que realmente sou teu de devoção e coração volto a ter uma razão para tudo, para ser tudo, para fazer tudo.
Expliquei-te talvez um pouco nervosamente os meus planos com uma minúcia que até a mim me surpreendeu e adivinhava a surpresa na tua cara. Não te contei tudo obviamente, mas a parte de tudo que também era tua.
Tu rias e dizias que não, que por favor tivesse juízo, mas sabias tão bem quanto eu que juízo era coisa que recusava ter. Afinal o plano era perfeito e só o era perfeito porque era para ti. Abandonaríamos tudo, aquilo tudo excepto o carro. Mudaria de nome no cartão de cidadão se preciso for para que nos deixassem em paz e assim passaria a ser" Servo de Maria" ou "Para Ti Maria"!
Seguiríamos à aventura, sem remorsos, medos ou hesitações. Logo se veria, menti eu que tinha uma nobre intenção escondida, para onde e por quanto tempo.
Seriamos como dois adolescentes num inter-raill do destino sem bilhete de volta, dois adolescentes em corpos quebrados pela idade a aprender de uma vez por todas que todos os segundos que respiramos são uma benesse divina e acredita paixão da minha alma, já perdemos muitos segundos cuspidos de enfado.
Partiríamos pois e não se falou mais disso, a luz apagou-se, as minhas calças abriram-se e a tua mão o procurou entre risos.




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