ODE AO SILÊNCIO- Entrada!

 

                                                                  MERDA, MIÚDA!

"Somos todos projectos inacabados,

expectativas que não se cumpriram

e que cuspiram no prato onde comeram.

Sonhos que desvaneceram,

desgraçados pelo ócio, 

pelo ódio,

desinteresse ou cobiça."

Inês Dunas ..." Campa Onírica"

Lia-te nas frases que circundavam a minha alma, na parvoíce do instante, na inquietude do afago que sonhava ser amasso. Fomos palavras cuspidas entre arrotos, que seguravam lágrimas, que circundavam o choro e palmas, de sorriso nervoso e lábio contraído.

Fomos o que não fomos e no entanto nós queríamos tanto ser. Em sonhos húmidos, ou alegres ou distantes, disparates arrogantes e impertinentes. Tivéssemos nós a idade para isso!

E sempre tínhamos e teremos o olhar de desculpa, o teu colo (que não usei), mas que pelos Deuses oferecido será meu, numa qualquer eternidade celestial ou Terráquea...pudesse eu servir-te tanto tempo!

És clave e eu projecto,

 és fala e eu dialecto, 

és musica e eu realejo, 

és ópera e eu um fado inacabado

 do deserto de não te ter.

No fundo, somos nós!

 Inteiros, desertos...

 imorais, imateriais,

 indecentes na decência dos costumes, 

curtumes, numa lâmina que a pele se abriu e sangramos, 

morrendo mil mortes imaginárias, 

às mãos sanguinárias de nós, deles dos crápulas, 

dos sonhos infecundos e dos outros,

 os normais, os mortais, os despojos de Ser, 

que viveram, sem a ninguém pertencer.

Merda, miúda!!! 

Mata-me nesse beijo que nunca mo deste

e tantas vezes o mandas-te...

Sem código postal,

sem aviso de receção,

e a tesão?´

Ignora, embrulha,

Cospe...

Deita Fora...

Que morra!

E se morrer?

Que se foda.

Que se esqueça

Um dia...

Serás minha

Noutra vida!