quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Esquizofrénico - Capitulo 5 - parte 2




Ana saía do banho, no seu roupão de algodão cor de rosa e carmin, a condizer com os chinelos de quarto rasos, que trouxera como recordação de um Hotel na Républica Dominicana há dois anos atrás.
Adorava esta hora, em pleno anuncio de madrugada, em que lá fora, o ar abafado, significava o inicio da chuva.
Neste estado de pensamento, serviu-se de uma dose generosa de Mateus Rosé, colocou o Cd de Jazz favorito, e baixou em dois traços o volume da aparelhagem.
Lembrou-se dos seus tempos de adolescente, de quando a chegada da meia noite de uma Sexta-Feira, significava borga e perdição.
Outros tempos, pensou melancólicamente! Hoje delicia-se apenas com o pedaço de solidão e sossego, que o fim da tarefa diária do café lhe trazia.
Deitada no sofá azul, deu dois goles vagarosos e fechou os olhos, sentindo a melodia cristalina da voz negra do Jazz, inundar a sua quietude de paz e tranquilidade.
Este era o seu momento Zen e ela tentava ao máximo absorver toda a essência do bem estar e dar o merecido repouso ao seu corpo.
Os olhos fechavam-se tranquilamente e a respiração começava a surgir já espaçada e para sua surpresa, o som estridente da campainha, cortou toda a quietude e o seu silêncio.
Quem poderia ser a esta hora? Quem no seu bom sentido, tocaria à casa de alguem á meia noite de uma sexta feira?
Atónita, cortou o som da aparelhagem, apertou melhor numa raiva contida, as fivelas do roupão e sem paciência dirigiu-se para o inter comunicador. 
Antes de proferir qualquer outra acção, consultou o pequeno monitor branco, que mostrava a entrada do edificio e como no vendo ninguem, agarrou o auscultador:
-Sim?
-Dona Ana Saraiva?
-Correcto.
-Peço desculpa de incomodar a esta hora. Mas sou o pai da Rita e precisava de falar consigo!
-O pai da Rita? 
-A sua funcionária.
-Mas claro, eu abro a porta, só um segundo...
Num gesto precipitado, premiu o botão pequeno de abertura automática da porta principal e abriu a porta de entrada, correndo de seguida, para arrumar os chinelos e preparar a sala.
Que poderia querer o pai da sua funcionária a estas horas? Estaria a miuda em apuros? Havia ela aprontado alguma?
Sem se aperceber o seu coração batia ferozmente no seu peito e quando se virou para a porta da entrada, encarou abismada dois vultos corpulentos que entravam, sem o menor esforço na sua residência.
Antes que pudesse esboçar uma reacção, um soco desferido certeiramente no seu rosto, atirou-a para o tapete vermelho a imitar um genuino tapete Persa.
Do pouco que tinha aprendido na vida, reteve a caracteristica mais importante para sua sobrevivência: Se não podes igualar ou vencer o teu opositor, não deixes que ele o perceba.
Acto contínuo, fingiu um desmaio e manteve-se alerta de olhos fechados, apesar da cara dorida, e do sabor de sangue fresco dos seus lábios, na sua boca.
Calculava que se esboçasse uma reacção, seria continuamente espancada e neste momento, apesar do susto da surpresa e de não saber o que se passava, mantinha o que aprendera nos longos anos de Karté. Quieta, imóvel, tentando descobrir um ponto de ataque e o momento certo para agir.
Sentia perto de si, os passos pesados do elemento que a agredira e esforçando-se ao máximo para regular a respiração, escutou:
-Viste, eu disse-te que ela caía como um patinho.
-Mesmo assim, não precisavas de usar toda a força.
-Que dizes? Ela ia gritar, ia alertar a vizinhança!
-Não sabes isso e recorda-te que o chefe aconselhou prudência.
-O chefe? Bah, como se uma gaja destas desse trabalho.
-Bom, a outra tambem nos fugiu.
-Cala-te! Ela teve sorte, apenas.
-Pode ser...
-Mas com esta não vou facilitar.
-Não entendo, se o chefe quer recuperar o tolinho, para que andamos atrás destas gajas?
-Bom, sabes como ele é....Com a mania de não deixar pontas soltas.
A referência do tolinho, sobressaltou Ana. Eles sabiam que ela tinha a Rita como funcionária, talvez se estivessem a referir ao doido do café.Para que queriam eles o doido? Quem eram eles?
O individuo que agrediu Ana, pegou no telemóvel, e sentando-se no sofá, perto das suas pernas, fez a ligação:
-Chefe? Está feito. Aguardamos instruções!
-Até que enfim! Tragam-na sem levantar suspeitas.
-Compreendido.
Desligou a chamada, guardando pacientemente o telmovel no bolso direito traseiro das calças e voltando-se para trás, ordenou:
-É para levar a gaja!
-Simulamos roubo?
-Não. Esta infeliz vive sozinha. Ninguém dará pela falta dela.
-Ok, vamos a isto!
O sujeito mais magro que se mantinha atrás do sofá, avançou pacientemente em direcção a ela e mentalmente, de olhos fechados ela controu-se no som dos passos, quando sentiu as mão dele a tocarem-lhe, agarrou-lhe os pulsos e num pontapé à meia-volta atingiu-o no queixo, projectando-o para trás.
O outro sujeito que se distraíra com a aparelhagem, ao ver o seu colega ser golpeado, avançou obstinado na sua direcção. Porém, esses segundos de hesitação foram preciosos, para ela se colocar sob o joelho direito, e em três golpes com a mão aberta e espalmada, atirou-o para a outra ponta da sala.
Refeito do golpe o primeiro sujeito, alisou o queixo e deu dois passos, tentando apanhá-la por trás.
Apercebendo-se , Ana dobrou os joelhos, agarrando a mão do invasor e pojectando-os, num violento golpe de rins, sob o seu ombro, em direcção à mesa envidraçada da sala.
Vendo que o segundo elemento se preparava para empunhar uma arma, ela agrrou a garrafa de vinho e atirou certeiramente á face do sujeito.
Enquanto o sujeito se contorcia,avançou e aplicou uma derivação do golpe Keri, um pontapé calculado e em rotação, atingindo o sujeito no queixo e colocando-o K.O.
Com os dois dominados, ela tirou o telemóvel do bolso traseiro do primeiro invasor, premiu a combinação de teclas 118 e aguardou que a policia atendesse.


No outro extremo da cidade, um desolado ex-militar visitava um armazém de chapa abandonado e perfeitamente vazio.
Perto dele Mauro, mantinha-se surpreso:
-Não entendo, tenho a certeza que era aqui.
-Bonito. Ahora é que esgotamos todas as chances de recuperar a Rita.
-Calma! Talvez seja um parecido. Não há outros armazens parecidos por aqui? - Carina tentava colocar água na fervura.
-Como quer que eu saiba? Só procurando.
-No entant, o caminho era fácil, virava-se a ponte....
-Ouve, ó doido, porque não vai para o carro e espera por nós?
-Bem, se não precisam da minha ajuda.
-Tambem acho uma boa ideia, Mauro!
O jovem consultou por mais uns segundos o olhas dos presentes e encolhendo os ombros dirigiu-se para a viatura:
-Sabe, tenho asensação que ele armou isto de propósito.
-Que dizes?
-Desculpe. Sei que parece estranho, mas de certa forma ele está a agir de modo estranho
-Carina, ele é todo estranho desde o inicio.
-Não. Ele pareceu bastante lucido, quando estivemos no acidente.
-Bem...Sim...É um facto!
-Hum, não sei se poderemos confiar nele.
Um curto silvo de silêncio instalou-se sobre eles, até que o progenitor de Rita, explodiu:
-Se aquele Filho de uma grande vaca, está a gozar conosco e a colocar a Rita em perigo, eu desfaço-o!
Enchendo o peito de ar, o ex-militar preparava-se para ir pedir satisfações quando a jovem o impediu:
-Não me parece boa ideia. Se ele realmente estiver a fazer jogo duplo, poderá deitar tudo a perder se perceber que desconfiamos de algo.
-Mas a Rita...
-Se a Rita estivesse verdadeiramente perigo ele agia. Houve qualquer coisa no acidente que o tranquilizou e o serenou. Só não percebo o quê?
-Começo a ficar farto dele.
-Calma, vamos para o carro e veremos com o a noite acaba.
Após terem dado uma ultima olhadela ao local, os dois dirigiram-se para o Jeep e de acordo mútuo, dirigram-se para a casa de Rita, na convicção de aguardarem por um telefonema.
Tudo o que sabiam até agora é que ela se encontrava em parte incerta, talvez tivesse escapado ilesa do acidente e provávelmente nem poderia correr perigo de vida.
Uma coisa sabiam, de nada adiantaria ir procurá-la nos hospitais ou tentar contactar a policia.
O Jeep rodou calmamente, até chegar à rua pretendida e subitamente o idoso sujeito, parou o carro abruptamente.
Diante da porta de entrada, sentada nas escadas de acesso á mesma, Rita parecia ter adormecido á espera deles.


...............Fim Parte 2
Foto de : Viesturs Links

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