segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Esquizofrénico - Capitulo 5 - parte 5

Não sendo propriamente um profundo conhecedor de Anatomia Humana, ou não tendo ele o mais básico conhecimento sobre o corpo humano, músculos, ossos, e demais familia, não podia na certeza clara, especificar a parte que lhe doìa. Aliás, pensou ele enquanto recuperava os sentidos, mesmo que fosse dono desse tal saber enciclopédico, de nada lhe adiantaria, porque na verdade é que todo o corpo lhe doía. Todo ele sem excepção!
Rodou ligeiramente o tronco para a sua direita e tentou descortinar, um pouco mais do sitio onde se encontrava.
Estudando momentâneamente o local, sorriu a contragosto, num perfeito sorriso cínico e pousando delicadamente a cabeça, gemeu baixinho;
-Merda, voltei aqui!
Contudo e apesar do sitio lhe parecer familiar, admirou-se por desta vez, não se encontrar com as pulsos e ternozelos acorrentados. Feliz com esse pensamento, tentou se levantar, e após tres ou quatro passos, caiu redondo no chão:
-Escusado tentares, eles drogaram-te.
Baralhado, Marco tentou descortinar o vulto que permanecia sentado, num recanto afastado do quarto:
-O que tu fazes aqui?
-Pergunta a esses gorilas.
-Não entendo.
-Pois, nem eu.
-Tú não és ninguem.
-Desculpa?
-Quer dizer, não és ninguem para eles. És só a dona do café.
-E achas pouco?
-Não sei. Para que eles te querem?
-Não sei. -Respondeu ela pensativa. - Para que eles te querem?
Marco riu, usando o mesmo sorriso cínico e tentando forçar o seu peso no joelho direito, numa forma ridicula de se tentar erguer, advertiu:
-Eles não me querem! Na verdade, eles estão a se marimbar para mim. Eu sabia que ia ser assim...Por isso fui mais esperto
Ana, sentada numa rudimentar cadeira, atada com os pulsos atrás das costas, acenou a cabeça, com um ar de quem não estava a acreditar e inquiriu:
-Tu? Mais esperto que eles? Por favor, não me faças rir.
-Tambem tu não acreditas em mim.
-Porque raio acreditaria num doido?
-Porque eu sou esperto.
Ana tentou em vão alcançar o nó da coda com a ponta dos dedos, porém as tentativas revelavam-se infrutiferas, pelo que sacudiu os cbelos num movimento brusco de irritação, e assistindo á terceira queda de Marco, tentou se abstrair do desespero da situação:
-Ok, tu és esperto. Então partilha comigo a tua sabedoria. Se eles não te querem, se eu não devia estar aqui....Porque estamos então aqui?
Marco, voltou á posição inicial, erguendo de novo o joelho e tentando erguer-se:
-Bom, eles não me querem. Querem aquilo que eu tenho e só eu sei onde está. Enquanto isso se mantiver, estou safo.
-Menos mal...E o que eles querem?
-A coisa! Agora tu é que não sei o que fazes aqui.
-Os gorilas que surgiram quando chocamos, tambem não me responderam a isso.
-Pois, a Rita eu entendo, porque....
-A Rita? Que tem a Rita?
Num esforço Herculeano, Marco reuniu-se de todo o oxigénio que os seus pulmões puderam captar e soltou-o num sopro, ao mesmo tempo que tentava se erguer:
-Estás-me a ouvir? Que tem a Rita? Juro por Deus que se a colocas-te em perigo eu...
As costas de marco tombaram pesadamente no solo cimentado do quarto, tranformado em súbdita prisão, e num tom de voz pesaroso, respondeu:
-A Rita está bem. Mas eles já sabem que os outros a pegaram, então vão andar mansinhos come ela. para ver se ela os conduz até á coisa.
Ana permaneceu estática e boquiaberta ante a revelçaõa sem sentido algum e fechando os olhos, murmurou:
-Oh meu Deus, que o gajo é completamente chalado.
Deitado no chão, Marco começou a rir em voz alta e de subito indagou:
-Escuta, há quanto tempo estamos aqui?
-Como raio queres que eu saiba?
-Mas não é desde que chegamos. Desde que me drogaram?
-Não faço ideia. Meia Hora, uma Hora, sei lá!
-Pensa, isso é importante.
Ana praguejou entre dentes e num olhar de raiva, advertiu:
-Importante? Tu queres começar a falar coisas com sentido?
-Sim, é muito importante.
-Oh sei lá, diria uma hora ou quarenta minutos.
Marco permaneceu pensativo e principiou a rastejar na direcção da porta:
-Ouve, tu mal consegues te mexer e tencionas abrir a porta como? Não devias estar a rastejar para a cama?
-Não necessáriamente. Sabes, nem sempre fui assim...baralhado.
-Ah não?
-Não. Foram eles que me puseram assim.
-Eles?
-Sim. Mas sabes?
-O quê?
-Eles introduziram-me muitas coisas no copro. Agulhas, choques e comprimidos...
-Se tu o dizes...
-Sim. Digo e é verdade, mas na ultima vez fiz uma descoberta.
-Ultima vez?
-Sim. Ultima vez que aqui estive.
-Que descoberta? - Ana parecia agora mais atenta á conversa.
-Todas as drogas e comprimidos que me deram, viciaram os resultados. Ou seja, esta droga, deveria me manter fraco durante horas.
-Sim.
-Pois eu sei que o efeito passa dentro de uma hora.
-Então?
-Exacto. Dentro de momentos, já perco a sensação de dormência.
-Isso, se eles não vierem antes.
-Para quê? Eles só voltam de manhã, não podem apanhar a Rita agora!
Ana voltou a praguejar e com toda a paciência, inquiriu:
-Mas não havias dito que ela estava bem?
-Sim,agora está. Depois de amanhecer, não sei.
Ana levantou o olhar em direcção à pequena janela do quarto. Lá fora a noite ainda se apresentava pesada e escura, e sentindo-se impotente perante a sucessão de acontecimentos, ela não pode impedir que uma lágrima rolasse.
Quando voltou a olhar para Marco, este já se encontrava de pé diante dela:
-Aleluia, agora despacha-te a desamarrar-me!
-Lamento. Não vai ser possivel!
-O quê? Que história é essa?
-Não leves a mal, mas isto é algo meu e eu tenho que acabar isto.
-Escuta aqui, seu filho de uma égua mal parida, desaperta-me estes nós e juntos acabaremos o que teremos que acabar.
-Oh, desculpa. Mas é melhor eu ir, antes que...
-Juro por Deus, que se não me soltas imediatamente, eu irei te tratar da saude, ouvis-te ó doido?
-Mas repara, estes tipos são muito perigosos e podes te magoar.
Ana riu de desprezo e sem paciência, argumentou:
-Eu estou amarrada, desarmada, á mercê desses trastes e tu vens dizer-me que eles são perigosos?
-Sim, são. Sabes eles...
-Não quero saber! Solta-me de uma vez.
-Lamento, nã posso. Tu não devias estar aqui. Não está certo isso, tu estás a baralhar isto tudo.
Ana voltou a ficar boquiaberta e desta vez, muniu-se de astucia:
-Olha, sei que para ti, tudo isto é complicado, mas repara que eles pensam como tu!
-Ah?
-Exacto. Tambem eles acham que eu não pertenço aqui.Não devia estar aqui e agora e nunca irão se lembrar de mim.
-Isso faz sentido!- Retorquiu Marco.
-Pois bem, isso é uma vantagem para ti, sobre eles. Não achas?
Marco permaneceu uns segundos pensativo e exibindfo por fim um sorriso vitorioso, retorquiu:
-Vejo que já começas a ficar esperta como eu!
-É da convivência. - Atirou sarcásticamente Ana, enquanto ele a desatava.
Num gesto felino, ela desembaraçou-se das restantes cordas e erguendo-se ágilmente, indagou:
-Temos de arranjar uma maneira de forçar a fechadura da porta e sairmos daqui.
-Forçar a fechadura?
-Sim, para sairmos...
-Oh, não é preciso a porta vai estar aberta.
-Aberta?
-Claro, isto é um hospicio, não uma prisão!
Apalermada pela simplicidade dele, Ana viu-o a abrir a porta e a sair descontraidamente para o corredor
Podia realmente em tempos antigos ter funcionado como um hospício, mas neste momento o que Ana via era um corredor sombrio, quase sem luz, algum lixo no chão e uma completa ausência de vida:
-Isto é um hospicio?
-Sim. Mas estamos na parte velha. Só eles é que a usam agora.
-Parte velha?
-Sim. A nova é do outro lado.
-Sigo atrás de ti, mas não achas que deviamos ter mais cuidado?
-Não temos tempo, e agora é ideial. Ninguem está à nossa espera.
-Era essa a ideia!
Marco estacou abruptamente diante de uma velha escadaria de mármore. Levantando a palma da mão, aconselhou-a a acompanhá-lo:
-Sabes por onde estás a ir?
-Claro.
-Optimo. Só pergunto, pois a porta da saìda é por aquele lado.
-Pois é, mas eu não vou sair.
-Mas, e a Rita?
-Temos umas horas. Além disso, eu fugi da outra vez e vê onde estou agora? Não, eles têm de desaparecer.
Ana estacou com o olhar posto na porta de saída, enquanto o ouvia a afastar-se. Algo dentro dela lhe dizia para fugir dali a sete pés, mas por outro lado, ela não tinha bem a certeza se fugir, resolveria o assunto.
Encolhendo os ombros, seguiu-u até ao cimo das escadas.
Em breve amanheceria e o fim desta situação, só dependeria deles. Para bem ou para o mal, ela tinha de contar com Marco, e isso irritava-a profundamente.

--------------------Fim Capitulo 5


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