sexta-feira, 22 de abril de 2011

Infidelius - Capitulo 1 (parte 2)



 "Todos os castigos trazem um pecado antigo,

o meu agarrou-se às minhas pernas,
morde-as, beija-as, arranha-as numa caricia prepotente...
Um dia tomei uma decisão, mas as decisões não se deixam tomar
sem um namoro prévio." 
 Inês Dunas



De volta ao seu pequeno mundo, onde se considerava uma princesa cativa pelas forças do mal, Marisa atirou a mochila para um canto, despiu o casaco preto curto e deixou-se cair pesadamente na cama. Por qualquer razão que desconhecia havia sido enganada pelo unico homem do mundo que lhe parecia sincero e que realmente mostrava afecto por ela. Aos 16 anos ela sabia que havia dois tipos de homens, os depravados que anseavam levá-la para um recanto qualquer em que por magia as mãos deles acompanhavam sempre os seus piores receios e os outros; os namorados de outras tipas que riam dela em segredo ao ouvido das namoradas, mas que nas costas trocavam mensagens com ela.
Mas Caio era diferente. Muito diferente de tudo o que ela conhecera até então. Ou por outra, parecia-lhe de facto diferente, mas acabara de lhe dar uma banhada de duas horas, sem dar sinal. Afinal, não passava de um tarado como os outros.
Resignada premiu o botão Play do controlo remoto da aparelhagem, selecionou a faixa 5 " Even Flow " dos Pearl Jam, e desistindo de segurar as lágrimas, recordou o primeiro encontro com Caio, após o ter expulsado e á saida, constatou com surpresa que ele o esperava.
É verdade que ela tinha agido como uma infantil na biblioteca, ao espetar-lhe a ponta do lápis, mas tambem é verdade que desde cedo se desabituou a esperar grande coisa do sexo oposto.
Claro que como toda a jovem viciada em Net, teve a fase de querer ser lésbica, ou pelo menos de trocar imagens na camera, mas foi uma moda que lhe saiu caro junto dos colegas e que lhe minou por completo o respeito que um dia pudesse ter junto os colegas. Para uma jovem estudante, perder o respeito dos colegas, é como um presidiário ser considerado bufo da policia. Não havia dia em que ela não fosse alvo de boatos ou sorrisos cinicos ou pontapés anónimos.
Caio esperava-a com um sorriso, mas este calhorda só ri?, enquanto ela uma vez mais colhida de surpresa tentou ignorá-lo de cabeça baixa. Esperava qualquer reacção furiosa, qualquer frase agressiva, ou no minimo um pontapé de socapa, no seu rabo como muitos colegas fazem, mas ao invés, ele deixou-a passar, observando-a cabisbaixa, com os olhos escondidos pela franja gótica que resolveu fazer, e dando-lhe uns minutos de avanço seguiu no seu encalço. O calhordas quer ver onde eu vivo! Pensou ela em pânico.
Ele não pode saber. Ninguem pode saber onde me fazem prisioneira!
Para ela o pesadelo de ele saber onde ela morava era real, pois se por um lado na escola, as coisas não estavam famosas, por outro lado em casa tudo piorava a olhos vistos. A mãe, achando que finalmente poderia dar um pai a ela, porque achava que ela necessitava de uma referência masculina, escolheu o pior tarado, a pior escória que uma mulher podia escolher. Como foste burra, mãe!
Quando pensava nisso reparou que Nicolas, o padrasto Francês tinha todos os sinais á vista. Era elegante, eloquente, charmoso. Fala de tudo e mais alguma coisa com conhecimento de causa, bem instruido e manobrador de vontades. Se assaltasse um banco, Marisa achava que ele era capaz de entrar e sair a sorrir para as meninas da caixa, sem usar qualquer arma ou sofrer qualquer reacção.
Claro que ela para fazer a vontade da mãe, tão feliz que ela estava,tentou socializar com ele desde os 14.
Se de inicio, ele era um homem atencioso, disposta a dar-lhe conselhos, a tirar as suas duvidas, tarde ela percebeu que tudo o que pretendia era conquistar a sua confiança.era tê-la na mão, sem reservas para que ela aceitasse sem reservas o "pequeno jogo" como ele carinhosamente anunciara a tentativa conseguida de usar a mão dele nos seus seios.
Marisa considerava os piores depravados, todos aqueles que se limitavam a pequenas conquistas diárias ou temporárias. Primeiro o cabelo, depois a face, depois os beijos acidentais nos lábios, quando supostamente eram dirigidos á cara, depois os beijos de carinho de pai no pescoço, depois a mão pousada sobre os seios....
Depois vinham as vigias sobre ela, a tentar apanhá-la em falso com gajos, a tentar manipular o seu dia-a-dia. Como podia ela contar á ãe, se a mãe sempre o elogiava cada vez mais?
Claro que tanta pressão dele , que tanta proximidade levou-a a cometer um erro ...outro!....
Mas por tudo isto ela não podia permitir ao gajo que a seguia, dar sequer ideia de onde vivia. Acelerou o passo, e fingindo um ar fatigado, encostou-se na primeira paragem de autocarro que viu.
A táctica era boa, mas tinha duas grandes contrariedades, pois não só ela não tinha dinhiero com ela, como tinha as horas de recolher a casa depois das aulas, bem controladas por Nicolas e não desejava ser castigada mais uma vez.
O castigo implicava tirar as calças e tee shirt e assumir a posição de quatro, enquanto ele lhe batia, em pequenas palmadas ritmicas, ou a apalpava, ou a torturava lentamente, mostrando de calças abertas o modo como ela o deixava. Isto claro, na ausência da mãe que trabalhava até ás sete.
Na unica altura que ganhara coragem em tentar contar, a mãe recebeu-a no colo e antes que ela falasse disse-lhe:
-Minha Flor de jazmim, o Nicolas foi promovido!
-Ah sim?
-Exacto. Acho que os chefes gostam dele, e subiram-no de posto, aumentando o ordenado.
(Mas para que raio eu quero saber disso?)
-Hum.
-Como ele foi promovido, adivinha?
-O quê mãe?
-Sabes que o que ganho não dá para nos aguentar-mos e com o bónus ele axou que devias ter uma prenda.
-Uma prenda?
-A mota que tanto sonhas! Afinal tens quase quinze anos!
E morreu ali qualquer tentativa de ela sair do " pequeno Jogo" Hesitante ela viu-o aproximar-se dela, desta vez não sorria:
-Vais apanhar o 46?
-Ah? Sim vou..
-Pois é pena. - Disse ele a sorrir
-Porquê?
- O 46 não pára nesta paragem!- Caios sorria, colocando a mão no ferro com o distico dos STCP
-Pois eu queria o 23...- respondeu ela em suplício, certificando-se do numero correcto.
Caio enrugou as grandes sobrancelhas e encostando-se á paragem disse:
-Okay miuda, eu tambem vou nesse.
-Vais nada!
-Vou sim.
-Porque és assim?
-Assim como?
-Metediço!
Um senhor de idade aproximou-se da paragem:
-Então aquele senhor tambem é metediço?
-Não, claro que não. Ouve, desaparece!
-Por acaso não estás armada com um lápis?
Ela recordou o ataque e subitamente riu com vontade:
-Por favor, deixa-me tranquila. Agora tenho de ir.
Voltando as costas ao rapaz ela principiou os primeiros passos, aliviada por ver que ele não o seguia, então não resistindo olhou para trás, no mesmo tempo que ele se despedia:
-xau Marisa, falamos amanhã!
-Sim. - Respondeu ela aflita.
Só ao fim de alguns metros ela estacou pálida de espanto:

Ele sabe o meu nome...O calhordas sabe o meu nome....Mas como??




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