sexta-feira, 29 de abril de 2011

Infidelius - Capitulo 2 (parte 4)



"O tempo é uma víbora de cauda na boca,
que me olha de relance, num tom desafia(dor)...
E eu louca apenas tremo e temo deixar-me morder
e adormecer sem beijo de Amor para me acordar" - Inês Dunas



Sentada correctamente na cadeira de fundo do autocarro, com a saca do pão a balouçar sob a carteira preta, no colo, Marlene mantinha o olhar distante, indiferente à rotina diária do regresso a casa.
Observava sonhadora-mente pela janela, o entardecer tardio próprio do Verão Português e distanciava-se das conversas avulsas que circulavam pelos passageiros do 23 indiferentes ao ruído do motor a gasóleo do autocarro laranja.
Havia dois anos sensivelmente que conseguira este emprego em plena baixa do Porto e logo como recepcionista num escritório de uma firma de advogados, que a tudo se sujeitava para o manter  Pelo que ao invés de sair ás 5h da tarde como devia, saía ás 7h todos os dias, mas contente por saber que Nicolas, o seu companheiro estava em casa a zelar pela Marisa.
De inicio, por precaução ligava mal saía do escritório, mas agora já não sentia necessidade, só ligava quando estivesse a chegar à paragem, a pedido do próprio companheiro, de forma a ele ir preparando o seu banho de regresso a casa.
Quando pensava nisso, depois do nascimento de Marisa, Nicolas havia sido a melhor coisa que lhe aconteceu na vida. Surgiu como caído do céu, como um anjo em seu auxilio, justo no momento em que mais necessitava dele.
É certo que o primeiro momento dos dois havia sido humilhante, sobretudo ganhara uma medalha, uma pequena queimadura na perna, mas depois tudo havia corrido pelo melhor.
Nicolas era um homem encantador, que para estar com ela abandonara o sofisticado mundo da moda em Paris e se sujeitara a ser vendedor de consumíveis de uma firma de informática.
Ela jamais podia esquecer o que ele havia feito por ela desde que a conhecera. Tratara-a como uma princesa desde o primeiro momento, gastara uma porrada de dinheiro nela e incrivelmente nunca perdia o sorriso ou a frase tranquilizadora em todos os momentos chave.
Com o corpo a acompanhar os solavancos do autocarro, Marlene mantinha o mesmo olhar sonhador e sem conseguir evitar as suas memórias recuaram no tempo.
Era verdade que aquele homem com sotaque Francês viera trazer-lhe imensa estabilidade á sua vida. Tudo parecia agora um mar de rosas. Ela conseguira emprego estável, desta vez sem ter de fazer broches ou se sujeitar a caprichos, o que a fazia sentir de novo Mulher na verdadeira acepção da palavra,conseguiram um  excelente apartamento na periferia da cidade e tão perto da escola de Marisa, quanto o quarto anterior e adivinhe-se o luxo, tinham TV por cabo.
Durante estes dois anos Nicolas sempre havia sido atencioso, quer com ela quer com a filha e tinha sabido gerir de forma eficiente o pequeno drama das imagens dos seios de Marisa que um otário qualquer, agora ex-aluno daquela escola, difundira pelos corredores da escola.
Marlene sorria com a cumplicidade que nicolas soubera ter com Marisa. os dois parecia que partilhavam um Mundo só deles. Marlene lembrava-se da moto (uma Vespa cinzenta que ela posteriormente trocou por uma de 125 CC)que ele oferecera a ela no primeiro ano que passaram juntos, ou do Toshiba que ele ofereceu no segundo ano. Lembrava igualmente com grande prazer as duas longas horas em que os dois conversaram sobre a escola e a relação com os colegas, com Nicolas sempre atento, a formular perguntas pertinentes, a não a interromper.
Sabia que Nicolas tinha igualmente os seus pequenos pecaditos, próprios de ser homem, pois apesar de não ser depravado, tinha no entanto algumas taradices, que contudo a ela pareciam-lhe aceitáveis numa relação.
Recordou com um sorriso maroto, quando no primeiro dia ele sugeriu que ela lhe mostrasse os seios, indiferente ao motorista do carro alugado, ou quando ele abriu o fecho das calças em pleno cinema, durante a sessão, e pegando-lhe na mão, convidou-a a tocá-lo.
Por qualquer razão que ela não percebia muito bem, ele tinha um real fascínio por actos indecorosos e público, como se quisesse desafiar a camisa de forças da sociedade.
Claro que ela também não era propriamente uma Santa, sobretudo quando morava com os seus pais em Cascais, também ousara provocar ou desafiar a autoridade rigida deles, com pequenos actos certamente condenatórios na moral quadrada deles.
Quando estava possessa com qualquer atitude do pai e não podendo, nem conseguindo contestar ou esboçar qualquer defesa, fechava-se no quarto, despia-se deitando-se nua na cama e quando ouvia na sala ao lado o som do piano que o pai usava para praticar, usualmente começava por Mozart, levantava-se vagarosamente, rodava silenciosamente a chave e deitava-se sob a coberta masturbando-se ao som do piano, rezando em segredo que por qualquer arte magica, alguem ousasse abrir a porta.
Adoraria ver a reacção da mãe ao vê-la. Mas isto claro, eram gritos de revolta parvos de uma juventude de bem. Hoje ela estava mais fechada a loucuras isoladas, excepto ás pequenas diabruras que o seu companheiro lhe propunha.
De certa forma, Marlene acreditava que a sua filha havia apanhado a mesma vontade de sexo que ela tinha em jovem. Recordava-se com algum pesar, quando após a confrontar com a nudez do seu corpo, dois dias depois ela deitada ao seu lado, segredou-lhe:
-Posso te dar prazer, mãe?
-Como assim filha?
-Como tu me ensinas-te no outro dia!
Marlene sentiu uma picada forte na consciência e alarmada acendeu a luz da mesa de cabeceira tentando aparentemente manter a calma:
-Filha, isso não é coisa que se faça entre mãe e filha!
-Mas mãe...
-Marisa, eu sempre te tratei como uma miúda inteligente e adulta. Terás muito tempo para dares e sentir prazer, mas não será comigo. Definitivamente não!
A jovem principiou a chorar assim inocentemente, mas ao mesmo tempo com toda a convicção do mundo:
-Não gostas de mim, pois não mãe?
-Filha não digas isso, que não é verdade. Tu és a paixão da minha vida, a minha razão de viver, o meu Universo. Sabes bem que se eu corro e salto, faço-o por ti, para que tu não tenhas qualquer privação nesta vida.
-Mas não me deixas dar-te prazer!
Desnorteada pela falta de argumentos e pela intensidade do choro da filha, Marlene precisava de um argumento válido e rapidamente:
-Marisa, nunca a mãe sentiu prazer ao ser tocada por uma mulher. Mesmo tu sendo minha filha e talvez sobretudo por isso, não estarás nunca em condições de me proporcionar o prazer que necessito.
-Mas se eu fosse homem...
-Mesmo se fosses homem...Marisa as coisas não são assim! Descobrirás que  prazer só virá com a pessoa certa e no tempo certo. Pois, minha linda existe sempre tempo para tudo e as coisas devem acontecer naturalmente. Falhando estas coisas, tornas-te uma pessoa desprezível, sem interesse, igual à pessoa que te filmou. Entendes princesa?
-Mãe desculpa.Sou uma tonta!- Afiançou a jovem de voz embargada.
A Petiz encolheu-se debaixo dos lençóis em posição fetal, o choro dela era genuino.Um misto de raiva e dor:
-Não, Marisa linda. Não és tonta nenhuma, és uma pessoa inteligente e com curiosidade, só tens de aprender a refrear essa tua curiosidade. Eu sei que és boa pessoa, mas jamais te esqueças que só tens essa idade. Okay?- Tranquilizava-a baixando o lençol e afagando-lhe a cabeça.Com um beijo no rosto Marisa adormeceu profundamente, ao invés de Marlene que não conseguiu fechar os olhos a noite inteira:
-Meu Deus, que parva eu fui!

3 comentários:

  1. Vim por curiosidade, pois me disseram que valia a pena perder tempo com este blog bomba. Que era algo novo e muito controverso.
    Li de repente muitos capítulos, mas felizmente vou parar aqui.
    A foto de Mozart, numa tentativa de apelar a um intelectualismo da parte do dono destas palavras aqui vomitadas sob a forma de conto, mais não é que um completo fiasco, como todo o conto.
    Se pretendia escandalizar, lamento informar mas deu-me vontade de rir.
    Tudo é tão mau, tão previsivel, tão irreal que dei por perdido o meu tempo.
    Não pense contudo que falo de cor, pois assisti ao debate no capitulo anterior e realemente não me parece que faça bom uso da Liberdade de expressão.
    Nem isto é cultura, nem isto é literatura,nem isto é saber escrever, isto tudo é apenas triste.
    O que me preocupa é que a julgar pelos comentários, sãop jovens que o lêm, assim vai a geração rasca,e considero-o nocivo no exemplo que transmite.
    Como quem não gosta não come, não voltarei aqui e o amigo devia fazer exactamente o mesmo.
    Não é uma ordem, apenas um conselho.

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  2. Penso que acima de tudo estão a ser totalmente injustos para quem escreve de uma forma na qual me revejo. Conheci outros contos deste autôr, que enquanto amigo e pessoa sincera acompanho durante anos e penso que este é um dos melhors contos que pude lêr dele.
    Pode até ser que de alguma forma ofenda,mas tudo é descrito dentro de um contexto e não podemos alinhar em teorias descabidas como colocar em causa a foto de Mozart, que por acaso nem é foto mas video.Goste-se ou não se goste Rogério ( ou Mefistus),é dono de um talento na qualidade de observador e por mais dura que possa parecer alguma passagem, não duvido que a mesma suceda em muitas casas.
    Mas o importante é isto, no nosso Portugal gostamos todos de deitar abaixo, só porque julgamos ser os donos da verdade. Isso é uma infeliz ideia.
    Eu por mim dou por bem gastos todos os momentos em que aqui venho e delicio-me com toda a sua escrita e olhe que sou uma senhora de quarenta e dois anos e não uma jovem geração rasca.
    Por ultimo, tenha tento na língua e fique a saber que de tão infeliz o seu comentário foi, que quem ri fui eu.

    Ana Borges Almeida

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  3. Eheheh mais um anónimo sem coragem de dar a cara (nome) ou é apenas a mesma pessoa que comentou no capitulo abaixo?? Ora srº ou srª anónimo, como já viu, eu faço SEMPRE questão de deixar ou meu comentário ou melhor (responder)... pois admiro bastante a escrita do Rogerio (Mefistus) ...o se pelo blogue passou, fez bem, se não gostou, e não vai voltar a passar, você é que perde! Sabe porque? Porque pode nao gostar do conto INFIDELIUS, mas o Rogério tem muitos outros contos, bons! Como por exemplo, bem mais sfoth "A VA GLORIA DE TE AMAR" ou mais pesado "DIABLO", tem ainda o "ESQUIZOFRENICO" ...depois entre outros breves contos tem ainda poesias...ora tem para todos os gostos... Voce é que sabe...pois para além da LIBERDADE DE EXPRESSÃO , existe ainda a opçao de ESCOLHA!!! agrada-me imenso o seguinte que mencionou: "Vim por curiosidade, pois me disseram que valia a pena perder tempo com este blog bomba" ... significada que o blogue tal como o nome do autor é falado, e segundo-se sei isso reflecte-se nas CENTENAS VISITAS DIÁRIAS que o blogue tem, tendo o mes de Abril passado as 1400 vistias! Depois saliento também: ". Que era algo novo e muito controverso"..controverso? ...isso sera pelos comentários no capitulo anterior? ou será por a REALIDADE DO HUMANO ser falada num blogue? AGRADA-ME saber disto :) Caro/a autor anonimo/a o que mais me agrada, o que o que é bom tem sempre a sua critica! :)

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    Ana Borges, como jovem, agradeço q tenha esclarecido a sua idade, para a malta mais jovem nao ser criticada 'a torto e a direito':)

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