terça-feira, 14 de junho de 2011

Infidelius - Capitulo 8 (parte 3)




"Fossilizei-me...
Tornei-me num estranho cristal opaco e estático
num estado semi-apático do querer...
Talvez tenha sido o sal das lágrimas
que me secou por dentro e aspirou os órgãos todos..." - Inês Dunas
Geometria Descritiva
http://librisscriptaest.blogspot.com/2011/05/geometria-descritiva.html

Longas horas acordada, embrenhada no manto do silêncio e acobardada no escuro das ruínas do seu castelo, com a almofada rosa como confidente, Marisa chorava.
O bater das horas no pequeno despertador tradicional com ponteiros flurescesntes acompanhava o trajecto das finas lágrimas que caíam num todo, juntando-se no fim do desfiladeiro do queixo, formando um manto de pequenos cristais aquados recentemente criados entre o espaço da boca e da almofada.
Não houve Raid nocturno por parte de Nicolas, mas nem assim se encontrava mais calma.
Estrava numa fase crítica da sua vida e como consciência do exemplo familiar que tinha em casa, queria fugir.
Afinal a mãe dela tinha feito o mesmo quando engravidara. Tinha vagueado com ela a tiracolo, por vilas, ruas e cidades, saltando de paradeiro para paradeiro, em busca do caminho do dinheiro.
E na verdade, depois de anos penosos na estrada tinha conseguido. Ela era feliz, tinha a filha junto dela, uma casa para cuidar, (mas desta vez ela era dona da casa, pelo menos durante trinta anos, se conseguisse pagar), um emprego que Nicolas arranjara e em breve compraria o Smart que tanto sonhava.
Sim, suspirou por entre dentes, a Mãe tinha tudo, a ela apenas coubera a fava de têr Nicolas.
Nicolas? Bem esse tambem tinha tudo o que queria. Tinha o seu Harém particular e pelos vistos aumentara-o recentemente ( quem seria a gaja que ele falou?), um negócio respeitável e era por si só o garante da felicidade da mãe.
E ela, o que tinha? Uma mota 125 cc, um Toshiba, um poço de incertezas e de infelicidade, um namorado (Se Caio aguenmtasse a sua depressão e loucura constantes) e ele , o outro, esse que a usava.
Dezassete anos e não tinha nada de palpável. Absolutamente nada!
Sou tão superficial, não passo de uma maria chorona!
Abriu um olho e sentou-se apressadamente na cama, com o ar de quem acabara de descobrir a solução de um problema.
Como Caio lhe dizia, os factos são para ser tragados e analisados, a solução só é fácil se eliminares os numeros supérfulos. Que porra de lógica tinha isto numa cabeça confusa de 17 anos? Porque ele lhe dizia constantemente esta merda?
Marisa consultou o despertador. Eram quatro da manhã e não estava frio. Levantou-se serenamente, acendeu o candeeiro e sentou-se na mesa de computador. Procurou àvidamente os fones e quando os encontrou, colocou o Cd de Christina Aguillera que a mãe tanto gostava ( ela era mais Pink e radiohead) e instintivamente ôs-se a analisar os factos.
Começou por algo básico e pegando numa folha de rascunho, escreveu:

Marisa:


Casa: Chorona, fácil, pouco convincente, manipulada, destrutiva, sem chama.
Escola:Temida, receada, evitável, forte, aterrorizante e com brilho interior.
Com Caio: Efusiva, Brilhante, Manipuladora, difícil, controladora,serena!
Com N. : Apagada, Subserviente, manipulada, descrente nela mesma.

Encostou-se ás costas da cadeira e permaneceu uns segundos  quieta. No seu cérebro mil e uma ideias e conclusões atravesavam-se constantemente, em diversos sentidos, voando como borboletas e lentamente ela esperou que as ideias pousassem. Elimina o supérfulo!
Rodou duas vezes o lápis nos dentes, e pensou numa conclusão. Nos tímpanos perfeitamente despertos , a voz de Aguillera soava-lhe forte e confiante e detêve-se no início da  letra Fighter:

After all you put me through,
you'd think I'd despise you.
But in the end, I wanna thank you.
Cuz you made me that much stronger

 De sorriso rasgado, ela recuou a faixa e ouviu de novo. Então é ela quem te inspira mãe!
Acenou negativamente a cabeça, e sem desmanchar o sorriso, rasgou a folha e inspirada escreveu toda a conclusão da sua auto-análise. Durante duas longas horas escreveu e escreveu. Rasgou e voltou a escrevêr, apagou e rasurou e escreveu. Sem parar. cada vez que o CD chegava ao final, ela voltava a pôr Play.
Iria fugir dentro de dois dias? Não. Claro que não. não iria fugir, iria matar...Sim, ela precisava de sangueI Bateu palmas de euforia descontrolada, arrumou as seis folhas A4, numa gavêta e pegou na Letra que compusera: Despeço-me em dois acordes!
Cantarolou a parte que mais gostou de Fighter de Aguillera:

Cause it makes me that much stronger
Makes me work a little bit harder
Makes me that much wiser
So thanks for making me a fighter

Ya miúda é isso mesmo, sentenciou a sorrir, apagou o candeeiro, despiu-se pegou na navalha, ainda inerte debaixo do colchão e nua caminhou até ao quarto da mãe. Iria matar, iria assasinar na penumbra na noite escura, iria finalmente tomar uma atitude. Basta! pensou.
Invadiu o quarto de navalha em punho, ( sim finalmente era ela a invadir o quarto onde ele estava), e observou por segundos os dois corpos deitados, abraçados sob o silêncio do quarto.
Caminhou em passos certos até á cabeceira da cama, , ajoelhando-se perto da cabeça de Nicolas.
Encostou decididamente a navalha à garganta de Nicolas e com a mão livre, agarrou-lhe de leve o orgão sexual dele.
Ele estremeceu e acordou estremunhado, sem reacção e o frio da navalha no seu pescoço era o suficiente para o demovêr de qualquer atitude:
-Agora meu querido padrasto, ouve bem o que te vou dizêr. Guarda bem as minhas palavras. Levanta a mão esquerda se me estás a ouvir bem.
Ele levantou maquinalmente a mão.
-Muito bem, estou farta dos teus jogos, de ser a tua boneca de foda. Percebes?
Ele repetiu o gesto anterior.
-Neste momento a minh mãe dorme a teu lado, eu estou completamente nua e tenho o teu pau na minha mão. Ah, tambem tenho a navalha na tua juguçar e acredita que sei usar.Se ela fizer qualquer tenção de acordar ou se tu te armares em parvo, não respondo por mim.
-Mas Marisa, estás...
-Xiu. Tu não falas mais, monte de merda. Levanta apenas a mão.
Ela podia sentir o desespero dele, mas sabia que a qualquer momento ele arranjaria um argumento:
-Sei o que estás a pensar. A miuda passou-se se a mãe acordar eu dou a volta dizendo que está louca e com sorte, ofereces-te para cuidar do meu internamento.
Ele sorriu maliciosamente:
-Pois bem tenho-te a confessar, que guardei um pouco do teu esperma,tenho um preservativo usado por ti e bem guardado e tenho uma longa lista de testemunhas credíveis para apresentar à policia. Mas mais grave ainda sabes o que tenho?
Ele acenou com a cabeça:
-Não faças isso. Não mexas a cabeça ou ainda te magoas! Tenho um delicioso video das nossas aventuras.
O pénis dele ia ficando erecto ante a fricção da mão dela, apesar do receio:
-Era isto o teu sonho não era? Nós as duas na mesma cama. Que me dizes, axas que me devo deitar?
De súbito ele ia proferiar algo, verdadeiramente assustado, mas ela manteve a calma, encostou bem a navalha, até surgir uma gota de sangue:
-Hoje isto muda. A partir de agora sou eu que digo o que quer, se quero e quando quero! E se porventura não te procurar, ou não te falar mais saberás que acabou. Neste momento, quero que saibas que te perdi o medo. Não te peço que saias de casa, a mãe ama-te, mas se me tocas mais uma vez sem permissão, não duras 24 horas!
Ele levantou a mão, no preciso momento em que a erecção finaçlizou sobre a mão dela:
-Agora que estamos os dois mais aliviados, volta a dormir. Que eu vou festejar!
Marisa saiu rápidamente do quarto, enquanto a mãe tossia de leve.
Acabara de cometer um assasinato!
A velha Marisa morrêra, assasinada pela nova Marisa "Aguillera"!


1 comentário:

  1. E sente-se - na pele.

    Magnífico: como sempre.


    Patrícia Santos.

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